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OPINIÃO

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Minas e Maurício Souza armam farsa para limpar imagem após homofobia

Elenco do Minas Tênis Clube - Reprodução/Instagram
Elenco do Minas Tênis Clube Imagem: Reprodução/Instagram

27/10/2021 04h00

Minas Tênis Clube e Maurício Souza são cúmplices de uma farsa que visa salvar a imagem do clube da elite de Belo Horizonte e do jogador sem causar prejuízo financeiro a nenhum dos dois. Mas é preciso ser muito ingênuo para cair no teatrinho de quinta categoria armado por eles. Espera-se que sem a anuência de Gerdau e Fiat, patrocinadores/mantenedores da equipe que emprega o central campeão olímpico.

Em reunião de diretoria ontem à tarde, após cobranças de Gerdau e Fiat por "medidas cabíveis" contra Maurício Souza o quanto antes, o Minas decidiu que afastaria o central e lhe ofereceria a possibilidade de uma retratação. Se ele aceitasse, não seria demitido, como defendia parte da diretoria.

Em nota já à noite, o Minas disse que Maurício "foi orientado a fazer uma retratação pública imediata". Meia hora depois, em um perfil no Twitter com menos de 50 seguidores no momento da publicação, o atleta postou o seguinte: "Pessoal, após conversar com meus familiares, colegas e diretoria do Clube, pensei muito sobre as últimas publicações que eu fiz no meu perfil. Estou vindo a público pedir desculpas a todos a quem desrespeitei ou ofendi, esta não foi minha intenção".

Para o Minas, que disse que o perfil é autêntico e pertence mesmo a Maurício, foi o suficiente. Para a enorme comunidade ofendida por Maurício, não foi. A começar pelo lugar onde foi feita a retratação. O central foi homofóbico no Instagram, onde tem 249 mil seguidores. Mas se desculpou perante nem meia centena de pessoas no Twitter.

O arrependimento também é para inglês ver, claro. Maurício não apagou as postagens homofóbicas, nem indicou ter mudado de ideia. Pelo contrário, manteve também um post em que deixa claro que não vai abrir mão de suas crenças.

Gerdau e Fiat, que tiveram postura incisiva contra a homofobia, reagindo rápido ao apelo dos fãs depois da nota do Minas "passando pano" para Maurício, ainda não disseram se as medidas adotadas são suficientes para o patrocínio ser mantido. Como disse Sheilla Castro, estrela da equipe feminina do Minas, homofobia é crime. E crime não se pune com multa, afastamento pontual, e pedido protocolar de desculpas.

O Minas deveria ter demitido Maurício ou, com o respaldo de Gerdau e Fiat, que pagam parte do salário, o colocado na geladeira até o fim do contrato. Mas o clube mineiro quer ganhar a Superliga, montou seu elenco considerando que o central campeão olímpico será um dos pilares do time, e isso pesa na decisão de mantê-lo. Ainda que fique afastado agora que a Superliga está começando, ele pode voltar na reta final do torneio, quando os jogos passam a ser decisivos.

Para o Minas, é cômodo deixar a poeira baixar e logo reintegrar Maurício ao elenco. Ou esperar ele dar mais uma deslizada, o que ele parece bastante propenso a fazer, receber uma terceira advertência —a primeira foi no início da temporada, a segunda agora— e, enfim, demiti-lo por justa causa, liberando espaço no orçamento inclusive para a contratação de um substituto.

Assim como fez de segunda para terça-feira, quando mudou de opinião pressionado por patrocinadores, o Minas pode voltar a repensar seus ideais em breve. Deveria fazê-lo, aliás. Hoje, a sensação é de que o clube é complacente com homofobia e está mais interessado em título e no próprio bolso do que em, de fato, defender uma pauta fundamental para parte significativa de sua torcida, de seus associados, para patrocinadores e para atletas LGBTQIA+ de seus elencos.

Quanto a Maurício, para mim, é caso perdido.