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Olhar Olímpico

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Galático na Champions do tênis de mesa, Calderano mira a China

Hugo Calderano comemora vitória contra Bojan Tokic no individual masculino do tênis de mesa - REUTERS/Luisa Gonzalez
Hugo Calderano comemora vitória contra Bojan Tokic no individual masculino do tênis de mesa Imagem: REUTERS/Luisa Gonzalez

01/09/2021 12h00

O título da etapa de Doha, no último fim de semana, fez Hugo Calderano subir para o quinto lugar no ranking mundial do tênis de mesa, posto inédito para um atleta latino-americano na história da modalidade. À frente dele, três chineses e um japonês apenas. Mas o brasileiro sonha ainda mais alto e tem como objetivo ser, um dia, campeão olímpico. E para isso, não há outra opção senão aprender a ganhar dos chineses, que dominam a modalidade.

"Os chineses ainda estão bem na frente. Mas, para mim, o mais importante nem é ser o número do um do mundo. Eles sempre vão ser mais regulares, têm uma técnica muita boa. Mas acredito bastante que eu possa ganhar e chegar perto do nível deles com meu estilo de jogo agressivo e diferente. Mas meu objetivo principal é ganhar as competições mais importantes, acredito que dá, sim, para ganhar a medalha de ouro e estou no caminho certo", diz ele.

Aos 25 anos, o brasileiro se acostumou a dar passos calculados, sempre pensando no que pode ajudá-lo a ser um jogador melhor e a chegar à tão sonhada medalha olímpica. Isso só vai acontecer se ele conseguir vencer os chineses, o que, por sua vez, depende, no entender de Calderano, de se acostumar a jogar contra eles.

Morando há vários anos em Ochsenhausen, na Alemanha, o carioca vem trabalhando para esse objetivo. O primeiro passo foi mudar de clube. Nesta semana, ele se apresentou como reforço do Fakel Orenburg, equipe russa de Oremburgo, quase na divisa com o Cazaquistão, que tem cinco títulos da Champions League e, nesta temporada, terá três top 10 do ranking mundial: Calderano, Yun-Ju Lin, de Taiwan, que é sexto, e o alemão Dimitrij Ovtcharov, oitavo. À frente deles, só chineses e um japonês, que não jogam na Europa.

Calderano seguirá morando e treinando em Ochsenhausen, mas jogando pelo novo clube, ele terá um calendário interclubes menor, sem a Bundesliga, e poderá viajar para mais etapas do Circuito Mundial e para treinamentos na Ásia. "Essa mudança vai me dar liberdade para escolher o que eu preciso fazer para continuar evoluindo", diz ele.

Um dos objetivos é conseguir uma vaga na Liga Chinesa, que é para o tênis de mesa o que a NBA é para o basquete, mas que poucas vezes teve participação de jogadores ocidentais. "É só top 10, ou não tem chance de participar. Mas eles têm aberto as portas nos últimos anos, e já me disseram que as portas estão abertas para eu participar da liga. Mas eu não sei exatamente como funciona, como é o formato", admite.

Para conseguir entender melhor o tênis de mesa da China, e se preparar melhor para tentar vencer os chineses, vale tudo. Até mesmo estudar sozinho para falar mandarim. "Comecei há mais ou menos um ano. Consigo me comunicar. Se a pessoa tem bom senso, fala devagar, consigo ter uma conversa legal. Se eu conseguir realmente falar fluente, pode abrir muitas portas na minha carreira, inclusive essa possibilidade de jogar na Liga Chinesa", avalia.

O que não está nos planos, por enquanto, é disputar torneios nacionais no Brasil. "Eu gostaria muito de jogar mais no Brasil, mas é importante que o Brasil organize abertos internacionais. Não tenho muito interesse de jogar um Brasileiro ou Copa Brasil. Já viajo tanto, não dá tempo. Vejo os jovens, as crianças, torcendo muito, adoro a interação, sei a importância disso. Faz parte da minha decisão de ter mais liberdade para poder voltar mais para o Brasil, fazer mais treinamentos no Brasil, ter mais contato com o Brasil", promete.