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Atletas lactantes reclamam por não poderem levar seus bebês às Olimpíadas

Aliphine Chepkerker Tuliamuk, maratonista americana - Reprodução/Instagram
Aliphine Chepkerker Tuliamuk, maratonista americana Imagem: Reprodução/Instagram

29/06/2021 12h07

Um novo flanco foi aberto na briga das atletas mulheres por reconhecimento e direitos no esporte olímpico. Nos últimos dias, duas atletas, uma canadense e uma americana, protestaram por não serem autorizadas a levar seus filhos aos Jogos Olímpicos de Tóquio. Ambas são lactantes e vão precisar suspender a amamentação para poderem disputar a competição.

O assunto foi trazido à tona primeiro por Kim Gaucher, jogadora da seleção de basquete do Canadá, que fez um desabafo no Instagram há cinco dias. Ela deu a luz à pequena Sophie em março e, para ir a Tóquio, terá que deixar de amamentar a criança aos quatro meses.

"Tudo que eu sempre quis da minha carreira no basquete foi representar o Canadá nas Olimpíadas. Mas agora estou sendo forçada a decidir entre ser uma mãe que amamenta ou uma atleta olímpica. Eu não posso ter os dois", disse em um vídeo. Visitantes estrangeiros estão proibidos no Japão, o que impede Sophie de viajar para acompanhar a mãe, mesmo que ficasse fora da Vila Olímpica.

Segundo Gaucher, entre a viagem para a Ásia e a volta para casa, o time canadense vai ficar 28 dias longe de casa. Não é viável, de acordo com a jogadora, bombear leite suficiente com antecedência, porque, por causa dos treinos, ela não produz tanto leite.

Ontem (28) a maratonista norte-americana Aliphine Chepkerker Tuliamuk também se pronunciou sobre o problema, pela mesma rede social. Ela é mãe de Zoe, de cinco meses, e também terá que suspender a amamentação.

"Eu estava adiando por um tempo a ideia de Zoe não ir para Tóquio comigo, mas tive que começar a pensar nisso e chorei muito desde então. Eu sei que vou deixá-la por apenas 10 dias, e ela vai ficar bem, e que tantas outras mães fizeram o mesmo, mas eu não consigo imaginar ficar longe dela por meio dia", desabafou.

De acordo com o Yahoo Sports, o comitê olímpico dos Estados Unidos pediu ao Comitê Organizador Tóquio-2020 para que fosse aberta uma exceção para Tuliamuk e Zoe, mas a reposta foi negativa. A mesma coisa no Canadá, com negativa a Gaucher e Sophie.

"Em qualquer outro cenário dos Jogos, teríamos encontrado uma solução há muito tempo. Os Jogos Olímpicos de Tóquio estão, compreensivelmente, sendo conduzidos com um foco sem precedentes em saúde e segurança. Isso inclui o fechamento das fronteiras japonesas para visitantes estrangeiros, familiares e amigos", avaliou o comitê olímpico canadense.

Ao Yahoo Sports americano, o comitê organizador deixou alguma margem de manobra. "Pode haver circunstâncias especiais, particularmente no que diz respeito a crianças pequenas, e, portanto, continuaremos a consultar o COI (Comitê Olímpico Internacional) e o IPC (Comitê Paraolímpico Internacional) e a solicitar opiniões de outras partes relevantes", disse um porta-voz.

Essa postura é oposta a adotada com atletas menores de 16 anos que vão disputar a Olimpíada. Para esses, foi facultada a possibilidade de serem acompanhados por um pai ou responsável. Por isso, Rayssa Leal, do skate, de 13 anos, ficará acompanhada da mãe na Vila Olímpica.