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Olhar Olímpico

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Canetada tira vaga de brasileiros que estavam classificados para Tóquio

Isaac Souza, à esquerda, e Luana Lira, à direita, ficam fora da Olimpíada - Divulgação
Isaac Souza, à esquerda, e Luana Lira, à direita, ficam fora da Olimpíada Imagem: Divulgação

19/05/2021 04h00

A Federação Internacional de Natação (Fina), órgão responsável pelos esportes aquáticos, literalmente mudou a regra do jogo no meio da disputa. Com isso, dois brasileiros que se classificaram para os Jogos de Tóquio pelo Pré-Olímpico de Saltos Ornamentais estão, agora, fora da Olimpíada. São eles Isaac Souza, na plataforma de 10m, e Luana Lira, no trampolim de 3m. Ela, inclusive, foi recebida pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na semana passada para comemorar o feito.

A Copa do Mundo de Saltos Ornamentais foi realizada há duas semanas no mesmo parque aquático que receberá as competições em Tóquio, classificando pelo menos os 18 semifinalistas de cada uma das quatro provas individuais de trampolim e plataforma, masculino e feminino.

Como parte desses atletas já tinha vaga olímpica, obtida por outras competições, as vacantes poderiam ser realocadas para atletas nas colocações subsequentes. Nessa conta, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) chegou a comemorar, nas redes sociais, como "carimbado" o passaporte olímpico de Giovanna Pedroso, 20ª na plataforma, mas voltou atrás e apagou o post, aguardando confirmação.

No dia seguinte a essa prova, em 5 de maio, a um dia do fim do Pré-Olímpico, a Fina produziu um documento alterando os critérios de classificação. A federação internacional fez as contas e descobriu que, pelos critérios criados em 2018, se classificariam para Tóquio mais atletas do que as 136 vagas reservadas em Tóquio pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) aos saltos ornamentais. E, sem avisar ninguém, decidiu que não havia mais 18 vagas em jogo por prova individual na Copa do Mundo.

Sem que ninguém soubesse, a Fina passou a considerar que só quem chegasse à final teria vaga assegurada na Olimpíada. Mas isso só foi informado às federações na quarta-feira da semana passada, sete dias após a alteração nas regras, e já com o Pré-Olímpico encerrado. Ou seja: as entidades só souberam dos critérios que estavam valendo para a Copa depois que a Copa acabou.

As federações, incluindo a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) e a Saltos Brasil (que na organiza a modalidade internamente no Brasil) protestaram, mas a Fina disse que nada poderia fazer. Anteontem (17), confirmou que, pelo Brasil, só Kawan Pereira e Ingrid Oliveira estão classificados. Ambos ficaram entre os 12 finalistas de suas provas.

A situação revoltou atletas e dirigentes brasileiros. A partir da regra anunciada, que bastava chegar à semifinal para ir à Olimpíada, os atletas foram preparados para alcançar esse resultado. Depois, continuaram na competição descompromissados, com a meta atingida.

Isaac, por exemplo, foi oitavo na fase de classificação, mas acabou em 18º entre 18 atletas na semifinal. Luana passou em 16º para a semi e terminou a competição em 18º também.

A Fina até admite que, depois que os países enviarem os nomes dos convocados, havendo credenciais sem dono (o que acontece quando um país inscreve o mesmo saltador na prova individual e na sincronizada) essas sejam distribuídas a partir do resultado da semifinal, que inicialmente não valia nada para a classificação olímpica, e não da fase de classificação, que valia. Ruim para Isaac, que competiu muito bem quando valia, mas mal quando não valia, e agora está fora da Olimpíada por isso.

O COB já se envolveu nas discussões e os dirigentes brasileiros ameaçam levar o assunto até a Corte Arbitral do Esporte (CAS). A argumentação é que não se pode alterar as regras no meio do jogo. Os dirigentes estão confiantes que terão sucesso. Procurada, a CBDA disse que irá se pronunciar sobre o assunto após esgotar todas as tentativas de enviar nossos atletas aos Jogos Olímpicos