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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Abel Ferreira ensina que o comprometimento com o trabalho é revolucionário

Dudu, do Palmeiras, em ação contra o Grêmio, pelo Brasileirão - Rafael Assunção/Agência Estado
Dudu, do Palmeiras, em ação contra o Grêmio, pelo Brasileirão Imagem: Rafael Assunção/Agência Estado

Colunista do UOL

11/05/2023 13h11

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Ele chegou no auge da pandemia: Novembro de 2020. Estava trabalhando na Grécia quando aceitou treinar o Palmeiras.

Tinha dois dias para cruzar meio mundo e se apresentar.

Em 48 horas ele e seus fiéis escudeiros, enquanto se preparavam para a mudança de país, pesquisaram e estudaram todo o elenco palmeirense: características técnicas, perfil, posição, histórico.

Abel pediu fotos de cada um deles para poder saber quem era quem. Chegando no CT, deu oi nominalmente a todos.

Esse é apenas um exemplo de como Abel Ferreira joga o jogo da vida.

Essa mesma seriedade ele instalou no dia a dia do clube.

Quem leu seu livro não se surpreende com a seriedade que ele encara as horas de sono de cada atleta, e de como, cientificamente, trabalha com os dados coletados.

Os adversários são estudados em detalhes, os atletas esmiuçados em qualidades, competências e fraquezas.

A preocupação com a saúde mental dos seus é equivalente à preocupação com a saúde do resto do corpo.

É trabalho que não tem fim. É organização inédita. É seriedade total.

Em campo, se não podemos ainda enxergar uma revolução necessariamente tática, podemos facilmente perceber com que tipo de exuberância o time se espalha e se relaciona.

O domínio dos grandes espaços é tão soberano quanto o domínio dos pequenos. É um time que sabe jogar com a bola e sem ela.

O Palmeiras de Abel se apresenta de forma muito semelhante com ou sem Veiga. Com ou sem Gomes. Com ou sem Dudu.

O Fluminense de Diniz depende mais de cada um dos titulares do que o Palmeiras de Abel.

Tudo isso que estamos vendo vem da seriedade com que o trabalho é encarado pela comissão que Abel trouxe com ele.

Nós, que sempre nos gabamos de pegar uma bola e sair jogando devido à imensa capacidade técnica, que sempre celebramos treinadores como Joel Santana e Renato Gaúcho que chegam e motivam pela malandragem, agora estamos vendo que tipo de estrago esse comprometimento absoluto com o jogo é capaz de causar.

Vimos Telê e sua filosofia mais tarde definida por Muricy do "aqui é trabalho, meu filho", mas Telê não tinha a sua disposição as tecnologias científicas que Abel tem. E, se tivesse, nada garantiria que ele faria uso amplo e profundo como faz o treinador português.

Para quem é palmeirense, a boa notícia: esse time ainda não chegou ao auge de suas conquistas.

Para os anti, a notícia ruim: esse time ainda não chegou ao auge de suas conquistas.

Como dica digo apenas: leiam o livro do Abel.