Milly Lacombe

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Às mães de Gaza, às mães dos reféns, às mães periféricas e às esquecidas

Dia das mães. Muitas homenagens às nossas próprias e a uma ideia idílica de maternidade. Campanhas publicitárias mostram mães em seus lares, ao lado dos filhos e das filhas, felizes e paparicadas. Presentes. Mimos. Celebração. Comida farta. Obrigada por tudo, mãe.

Esse "tudo" chama trabalho, mas sobre isso não vamos falar hoje. Maternidade é amor, claro, mas é também muito trabalho invisibilizado e soterrado pela ideia do sacrifício que vem com a função.

Tudo muito bonito, embalado com música comovente. Mas e as mães em Gaza que testemunham seus filhos morrerem lentamente de fome? E as mães palestinas que, segundo a ONU Mulher, são assassinadas na média de duas por hora em Gaza? E as mães das pessoas sequestradas pelo Hamas e dos soldados e das soldadas obrigados e obrigadas pelo estado de Israel e saírem de suas casas e servir em nome de um massacre covarde?

E as mães dos jovens negros assassinados pela polícia e pela milícia nas favelas e periferias? Essas que se despendem de seus filhos todas as manhãs pedindo que levem por favor o RG porque sabem que a chance de eles morrerem a caminho da escola ou do trabalho é enorme num Brasil que extermina jovens negros no ritmo de uma guerra e elas querem, pelo menos, executar o direito de enterrá-los? E essas mães?

Valorizar a experiência da maternidade deveria ser valorizar todas as experiências de maternidade e não apenas aquelas vividas no interior das classes médias e altas dentro de famílias brancas e heteronormativas.

Vamos falar das mães solos, quase 15 milhões no Brasil, aquelas cujos pais sumiram, fugiram, se escafederam e de quem nada se cobra? Sem contar aquelas que, mesmo tendo o pai de seus filhos por perto, fazem tudo sozinhas porque esses homens pegam as crianças apenas para postar fotos nas redes sociais, pagar de paizão e depois devolvê-las.

Maternidade e justiça social, eis aí um tema para o dia das mães e para todos os demais. Maternidade e o direito de seguir existindo como mulher antes de mais nada, eis aí outro tema pertinente.

Nesse dia das mães, pensemos naquelas que estão sendo, agora mesmo, mortas ou que - num cenário ainda pior para quem é mãe - naquelas que estão vendo seus filhos morrerem sem poder fazer nada, ou que sequer sabem onde eles estão, se estão vivos, mortos, soterrados, famintos, torturados.

Mães não precisam de mais um liquidificador, mais um perfume, mais um vestido. Elas precisam, antes, de duas coisas: saber que seus filhos estão bem e que suas próprias vidas não ficou reduzida à função de serem mães. Pensemos nessas mães. O que faremos por elas?

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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