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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

CBF e clubes precisam ensinar jogadores sobre violência de gênero

Daniel ALves foi o capitão da seleção brasileira na partida contra Camarões - Simon Stacpoole/Offside/Offside via Getty Images
Daniel ALves foi o capitão da seleção brasileira na partida contra Camarões Imagem: Simon Stacpoole/Offside/Offside via Getty Images

Colunista do UOL

27/01/2023 15h43

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Os inúmeros casos que envolvem jogadores, dirigentes e acusações de violência de gênero deveriam acender uma luz nas administrações dos clubes e da CBF.

À CBF caberia obrigar os clubes a colocar em seus currículos aulas a respeito do tema.

Mas é claro que os clubes não precisariam esperar pelo comando e poderiam, de imediato, acrescentar aulas e palestras que tratem de explicar como funcionam o machismo e a misoginia em nossa sociedade.

Como são estruturas que oprimem, reprimem e matam.

Contar como eles estariam reproduzindo esses valores em seu dia a dia e como suas mães e filhas estão em risco permanente.

Aulas regulares, parte do calendário anual, que seriam dadas a jogadores, comissão técnica e demais funcionários e funcionárias.

Todo jogador é filho de uma mulher e muitos deles têm filhas.

A princípio, não gosto da ideia de nos reduzir a um parentesco, mas me parece que, dada a urgência, esse seja o caminho mais curto para gerar empatia - ainda que boa parte dos estupros aconteça dentro de casa.

Dar os números de mulheres mortas diariamente por namorados, maridos, parceiros, peguetes.

Contar que são números de uma guerra e que o inimigo é o corpo da mulher.

Dizer que a cada nove minutos uma de nós é estuprada e que esses dados são subnotificados.

Dizer que o Brasil é o país que mais mata LGBTQs no mundo - e também o que mais consome pornografia LGBTQ no mundo.

Relacionar o dado acima com o fato de que quando uma mulher trans é assassinada ela é, em 80% das vezes, desfigurada pelo assassino.

Explicar que são mulheres negras as maiores vítimas e depois contar por quê.

Atravessar machismo e misoginia com racismo. Falar de como esse país foi erguido sobre extermínios, genocídios e explorações.

Detalhar como exatamente cada um deles também é prisioneiro desse regime da diferença sexual que tem papéis muito bem definidos para homens e mulheres.

Levar ativistas para falar.

Levar abusadores reformados pela Lei Maria da Penha para falar.

Os clubes, que seguem absolutamente calados diante da prisão de Daniel Alves, têm responsabilidade nessa luta e não podem mais ter o privilégio de se acovardar diante do que estamos vendo.

Colocar no contrato de trabalho uma cláusula de rescisão imediata em caso de condenação por violência de gênero seria outra medida importante.