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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Enterrar a falsa simetria para que ela não nos enterre

Artigo do The New York Times diz que Bolsonaro planejou a morte de 1,4 milhões - Mateus Bonomi/AGIF/Estadão Conteúdo
Artigo do The New York Times diz que Bolsonaro planejou a morte de 1,4 milhões Imagem: Mateus Bonomi/AGIF/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

10/07/2022 13h24

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Um bolsonarista entra armado em festa de aniversário de petista e, segundo testemunhas, verbalizando o nome de seu heroi ("aqui é Bolsonaro", teria gritado o invasor), atira para matar o aniversariante que celebrava seus 50 anos cercado de motivos lulísticos: bolo, toalha, cartazes.

O que invadiu a festa fez arminha de verdade com a mão; o que foi alvo fazia o L para fotos.

O alvejado teve tempo de reagir - o que a lei chama de legítima-defesa - e ferir seu agressor.

Não tem nada de polarizado nessa cena de horror.

É tragédia. É agressão. É assassinato com legítima defesa.

Não vamos confundir a reação da vítima com a premeditação do assassino. Não vamos misturar a alegria da vítima com a fúria do matador.

Não existe polarização se um candidato fala em metralhar adversários e o outro fala em paz.

Chamar as eleições de polarizadas é desonesto. São eleições violentas - e a gente ainda vai ver essa violência escalonar.

Bolsonaro está convocando suas milícias à luta. Faz isso na cara de todos, declaração atrás de declaração - e seus devotos já estão nas ruas seguindo ordens.

É só o começo desse derramamento de sangue.

O outro candidato está falando em união, em voltar a sorrir.

Não existe imparcialidade diante desse horror que virou o Brasil.

Imparcialidade em tempos coléricos e fascistas é apoio ao fascismo fantasiado de sensatez.

A falsa simetria nos trouxe até aqui. Não era, afinal, uma escolha difícil.

Bolsonaro nunca foi candidato legítimo.

Legitimá-lo em nome de um anti-petismo doentio e covarde custou a vida de muitos - e custará outras.

A falsa simetria está nos matando.

Passou da hora de assumirmos posição a favor da vida, da democracia, de alguma mínima ideia de decência e de futuro.