Milly Lacombe

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Onde foi parar a alma do Corinthians?

O Corinthians masculino está há quatro jogos sem vencer, vem de três derrotas seguidas e não marca um gol faz 360 minutos. Esse é o recorte fechado da crise. Mas o time atravessa um deserto de ideias há mais tempo. Se quisermos ser rigorosos, desde 2013.

Seria preciso voltar dez anos no tempo e se perguntar como os anos, em tese os mais gloriosos do clube, deram nesse lugar desalmado de hoje. Como os executivos de futebol conseguiram pegar um dos times mais populares do planeta e, a partir de seus inéditos sucessos internacionais, escalonar a dívida e esvaziar o clube de competitividade?

São perguntas que precisam ser respondidas se quisermos não apenas compreender o malogro mas também sair dele.

Onde está a alma do Corinthians masculino?, pergunto no título. Bem, está na arquibancada e no time feminino. Por enquanto. Porque, sem que o clube se reconcilie com seus predicados em campo, esse espírito que ainda resiste no concreto tende a morrer em alguns anos. E o feminino certamente acabará pagando pelos fracassos do masculino, com corte de orçamento e coisas do tipo.

O que seria se reconciliar com seus predicados? Voltar a ser popular, para começo de conversa. Uma política de preço de ingressos acessível, treinos abertos, práticas de participação em ações sociais, ligação cultural com as periferias, uma filosofia de jogo condizente com esses valores, recuperar a riqueza da base, parar de gastar e começar a diminuir a dívida até porque boa parte dela é devida a esse povo que o time alega ser dele.

Atualizar a participação nas lutas sociais seria também importante: colocar mulheres em número equivalente ao de homens no conselho, fazer parte de esforços para diminuir a LGBTfobia no futebol, entrar de cabeça na luta antimachista e antimisógina.

Nenhuma consultoria financeira vai dizer ao clube que esses valores precisam ser recuperados. Consultorias falarão de gestão e, como fez essa contratada pela administração Augusto Melo, recomendarão um CEO dada, imaginamos, a falta de aptidão da atual diretoria para sair dessa crise com as próprias pernas.

Não sou especialmente fã desse tipo de abordagem mas me parece inexplicável que essa turma de dirigentes contrate uma consultoria internacionalmente renomada para depois decidir não fazer o que ela recomendou.

O que sabemos é que executivos mais preocupados com compra e venda de jogadores e que acreditam que todos os problemas de imagem se resolvem no departamento de marketing não deveriam mais fazer parte do Corinthians.

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Até aqui o horizonte corintiano não é de tempo bom; muito pelo contrário: podemos antecipar tempestades e mar caótico. O Corinthians é hoje a chacota predileta dos rivais. A farra não acabou; a farra foi atualizada com bons índices de sucesso.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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