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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O que a seleção ganha com Neymar assumindo o papel de líder do grupo?

Neymar comemora gol pela seleção brasileira mostrando a camisa 10 - Lucas Figueiredo/CBF
Neymar comemora gol pela seleção brasileira mostrando a camisa 10 Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Colunista do UOL

01/06/2022 12h26

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O noticiário informa que Neymar está assumindo o papel de líder da seleção. Lideranças são importantes porque elas não apenas dão o tom, mas também porque definem caminhos. Grandes líderes constroem jornadas memoráveis. Lideranças apequenadas cavam buracos.

Acho que não temos por que debater as qualidades técnicas de Neymar. Trata-se de um fora-de-série e poucos discordarão. Mas podemos falar de suas habilidades como líder com base em suas habilidades como ser humano até aqui.

Alguém que ainda não amadureceu como homem não pode performar como líder, e essa premissa me parece inquestionável. Fica então a pergunta: Neymar teria amadurecido?

Não me parece que tenha.

Já escrevi aqui a respeito do tema depois de assistir ao documentário sobre ele que está disponível na Netflix: O Caos Perfeito.

Vendo a série, ficou evidente para mim que o Junior ainda não cortou o cordão umbilical que o prende perversamente a seu pai. E convenhamos que o pai de Neymar não é conhecido como um homem sensível ou empresário ligado a causas sociais, humanitárias, grandiosas.

Posar sorridente em imagens abraçando um presidente tão tóxico e facínora como Jair Bolsonaro não ajuda em nada.

Conseguir que seu estafe se reúna com um dos ministros mais perversos da história desse país para "tratar de questões tributárias relativas a atividades esportivas" enquanto o Brasil afunda em miséria social também não colabora com a causa.

O comportamento extra-campo de Neymar, além de não demonstrar nenhum tipo de solidariedade social numa das fases mais tristes da história do país cujas cores ele defende, não dá sinais de amadurecer: festas durante a pandemia, vídeo-game, piadas e brincadeiras estilo quinta série, parques de diversão, zero engajamento com os setores mais sofridos da população brasileira.

Infelizmente, todas essas nuances determinam a qualidade do líder de um grupo. Que o time masculino e profissional do Brasil tenha escolhido, durante a folga, ir a um parque de diversões se acabar em montanhas-russas é para mim um símbolo da infantilização que uma liderança imatura pode representar.

Não é exatamente pedir que o líder seja uma pessoa série e melancólica; pelo contrário. É preciso alegria para conduzir, motivar, unir. Mas um tipo de alegria que seja madura, adulta e sensata.

Seria bastante interessante que Neymar pudesse amadurecer e exercer esse tipo de liderança exemplar. É sempre bom quando o jogador mais habilidoso do time consegue ser também o líder. Mas eu não acredito que o craque esteja pronto para se livrar do Junior e assumir o seu jeito de ser Neymar. Eu argumentaria aqui que uma liderança infantilizada vai gerar um time infantilizado.

Nesse caso teríamos que pensar quem nesse grupo poderia assumir um papel histórico de liderança. Não sei vocês, mas eu tenho dificuldade em apontar um nome.

Se a liderança de Neymar Junior representar a cara da nossa seleção durante a Copa, não me parece que tenhamos muito a conquistar.