Luís Rosa

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Mustafá quebra silêncio e evita realimentar rusgas com Leila Pereira

Um dos grandes responsáveis pela ascensão e domínio político de Leila Pereira à frente do Palmeiras, o ex-presidente Mustafá Contursi, 83 anos, ainda se vê com poder para gerar debates sobre os rumos do clube nas próximas eleições.

Na semana passada, após sete anos sem dar entrevistas, Mustafá Contursi quebrou o silêncio, mas evitou atrito com a atual mandatária, que o levou aos tribunais com três processos, acusado de "cambismo" com a venda de ingressos disponibilizados para conselheiros e pela patrocinadora, os quais ele foi absolvido em todas as instâncias.

"Não posso falar nada. Tudo que eu falo pode virar processo", ironizou Mustafá.

No encontro, em um restaurante italiano no centro de São Paulo, o ex-presidente gerou espanto quando, ironicamente, disse que "não estava sabendo" que o Palmeiras terá eleição neste ano, que deve ter a vitória de Leila Pereira para o triênio (2025, 2026 e 2027).

Ao ser questionado de novo pela coluna, o presidente repetiu a ironia e preferiu não se alongar no assunto.

Durante esta semana, a coluna apurou com pessoas próximas a Mustafá que o ex-presidente não vê o momento apropriado para debater publicamente como se articular para a próxima eleição.

Neste ano, conselheiros lançaram a chapa Palmeiras Avante, que pretende, ao menos, ter um candidato de oposição. O problema é que os grupos contrários a Leila Pereira, além de serem menores, não possuem uma liderança capaz de se tornar um nome de consenso.

Assim, a preocupação de Mustafá é com a eleição do Conselho Deliberativo, que acontece em janeiro do ano que vem. Aí, finalmente, entra em cena o articulador político.

"Para a eleição do Conselho Deliberativo, eu vou conversar, porque precisamos fortalecer pessoas que são próximas da gente e porque muitos dos nossos estão deixando [vida política] do clube", disse.

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Depois, Mustafá relembrou que seu grupo político alertou sobre os riscos do acordo com a construtora WTorre, parceira na reforma do antigo Palestra Itália, que possibilitou o surgimento do Allianz Parque.

"Para o torcedor, é uma maravilha. O estádio é moderno, e todos estão muito satisfeitos. Porém, para o clube, tem muitos problemas, que nós alertamos e diziam que éramos contra apenas para tumultuar. Só não posso ficar falando muito para não atrapalhar o que está acontecendo", afirmou Mustafá.

A relação do Palmeiras com a WTorre degringolou na gestão de Leila Pereira, com acirramento da briga na Justiça com a cobrança de uma dívida milionária, em parte reconhecida pela construtora.

Além disso, o presidente enaltece que, graças a um conjunto de fatores, inclusive do papel de gestora da presidente Leila Pereira, o momento esportivo e financeiro do clube é excelente, o que, em análise fria, deixa o caminho aberto para a reeleição da dirigente.

Primeiro campeão mundial

Boa parte da conversa com Mustafá Contursi foi sobre a conquista da Copa Rio de 1951, cujo trabalho de pesquisa para que a Fifa reconhecesse o Palmeiras como primeiro campeão mundial começou na sua gestão, em 2001.

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À convite de Mustafá, o jornalista Arnaldo Branco levou o material completo da pesquisa para elaborar o dossiê entregue à Fifa em 2006. Este trabalho foi feito com a ajuda do ex-conselheiro Roberto Frizzo, que morreu no ano passado.

Segundo o ex-presidente, as idas e vindas da Fifa sobre o reconhecimento ou não se o Palmeiras é campeão mundial tem muito a ver com interesses econômicos, já que a entidade demorou a reconhecer outros torneios, como é o caso da Copa Intercontinental (disputada em um jogo no Japão entre 1980 e 2004).

"Não me importa se as pessoas escrevem nas redes sociais que o Palmeiras não é campeão mundial. O que é indiscutível, e o palmeirense tem que ter muito orgulho, é que foi uma vitória que resgatou o futebol brasileiro após o desastre [derrota para o Uruguai na final da Copa do Mundo de 1950] no Maracanã", disse Mustafá.

Em 2014, pouco antes do início da Copa do Mundo no Brasil, em reunião do Comitê Executivo da Fifa, o Palmeiras foi reconhecido como campeão mundial.

Porém, Gianni Infantino, atual presidente da Fifa, só admite o reconhecimento dos clubes que ganharam a Copa Intercontinental, disputada entre 1960 e 2004, e o Mundial de Clubes, realizado desde 2005.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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