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Luís Rosa

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Reviver lei da mordaça não basta para o Palmeiras voltar a jogar bem

Após dois jogos ausente por suspensão, Abel Ferreira volta a comandar o Palmeiras à beira do gramado - Alexandre Schneider/Getty Images
Após dois jogos ausente por suspensão, Abel Ferreira volta a comandar o Palmeiras à beira do gramado Imagem: Alexandre Schneider/Getty Images

Colunista do UOL

08/07/2023 04h00

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Fui repórter setorista do Palmeiras durante quase oito anos. Nesse período, entre 1998 e 2005, acompanhei in loco a primeira era sob o comando do técnico Luiz Felipe Scolari, o Felipão. Para um jovem jornalista foi um grande aprendizado, para o bem e para o mal, conviver dia após dia a rotina palmeirense.

Agora como colunista do UOL, um fato ocorrido nesta semana acionou um gatilho e trouxe à tona uma passagem esquecida na memória, que retratou a dificuldade de tentar trabalhar decentemente para informar o lado do Palmeiras na história.

Voltamos a junho de 2000, estádio do Morumbi, mesmo palco onde a presidente Leila Pereira, na última quarta-feira, antes da partida em que o seu clube perdeu, por 1 a 0, para o São Paulo, no primeiro jogo das quartas de final da Copa do Brasil.

Naquela manhã de domingo do dia 4 de junho, Palmeiras e Santos disputaram uma vaga na final do Campeonato Paulista. Era sabido que, independentemente do resultado, nenhum palmeirense iria dar entrevista.

Isso ocorreu por causa do vazamento de uma preleção de Felipão após o primeiro clássico contra o Corinthians, pela semifinal da Copa Libertadores.

Na época, os jornalistas tinham acesso à Academia de Futebol e podiam ficar próximos à entrada da porta do vestiário. Porém, o acesso ao local, geralmente, só era permitido após os atletas começarem a entrar em campo.

Naquele dia, o portão estava aberto, os seguranças não estavam no local, e os jornalistas entraram. Não houve invasão, nem quebra da privacidade, como chegaram a acusar. Também não vou ser leviano de que era isso mesmo que Felipão queria, ou seja, expor os seus jogadores, que perdiam por 3 a 1, buscaram o empate, mas no final perderam por 4 a 3.

Revoltado com a repercussão negativa por dizer, entre outras coisas, de que precisava ter "raiva dessa p...de Corinthians", Felipão achincalhou os jornalistas e impôs a sua última lei da mordaça no Palmeiras. Não foi novidade, aconteceram outras vezes "greves de silêncio", mas esta foi a mais tensa.

O treinador gaúcho encerrou a sua passagem ao perder para o Boca Juniors-ARG a chance de faturar o seu segundo título da Libertadores à frente do Palmeiras e com a eliminação na Copa do Brasil contra o São Paulo.

De volta ao Morumbi, no duelo com o Peixe. Depois do empate sem gols no primeiro jogo, o Palmeiras jogava pelo empate para ir à final do Paulistão. O cenário ficou muito bom com os gols de Argel no primeiro tempo, e Euller no início do segundo.

Só que naquela de o "jogo só termina quando acaba", o Santos foi avassalador após a metade da etapa final e empatou com Eduardo Marques e Anderson.

Poucos minutos antes de Dodô anotar o gol da virada, aos 45 minutos, aconteceu um fato que jamais vou esquecer na minha carreira.

A história foi contada pelo repórter Luis Carlos Quartarollo, um mestre do jornalismo, durante a transmissão da partida pela rádio Jovem Pan.

Desesperado com a pressão do Peixe, o goleiro Marcos se voltou para os repórteres que estavam atrás das placas de publicidade e perguntou quanto tempo faltava para terminar a partida.

Sagaz e com uma saborosa ponta de ironia, Quartarollo foi o único a falar e respondeu que não poderia dizer o tempo de jogo porque os palmeirenses estavam em "greve de silêncio".

Na verdade, só para contextualizar, esse diálogo não é comum nem deve acontecer. Os jornalistas que ficam atrás dos gols não podem conversar com os envolvidos na partida.

Enfim, eu estava lá, mas na tribuna reservada à imprensa escrita, e o que vi foi Dodô anotar o terceiro gol e sacramentar a virada histórica do Santos.

2023, de novo no Morumbi

Como aconteceu em 2000, sob as ordens de Felipão, agora essa blindagem decretada pela presidente Leila Pereira, em meio às reclamações, algumas justas, de que o seu clube foi prejudicado pela arbitragem, não vai melhorar o clima nem vai fazer o Palmeiras jogar melhor, como vimos acontecer no último Choque-Rei.

O efeito perigoso disso tudo é que inflamou ainda mais a irritação dos torcedores palmeirenses. Nas redes sociais e antissociais aumentou o discurso do "nós contra todos", com a imprensa sendo apontada como "joga contra o Palmeiras".

Além disso, no momento pelo qual passa o Palmeiras, colocar a culpa nos erros de arbitragem, como disse João Martins, auxiliar de Abel Ferreira, sem provas, de que o "sistema" não quer que o Palmeiras ganhe o Brasileirão por dois anos seguidos, é fantasiar teorias da conspiração.

Ainda não se sabe como vai ser neste sábado no Allianz Parque, antes, durante e depois do confronto contra o Flamengo, mas, por mais que eu não concorde, é direito dos palmeirenses continuar mudos diante dos jornalistas.

Por outro lado, espera-se que o time melhore o rendimento. Afinal, após a volta dos jogos, depois da data-Fifa, o Palmeiras entrou em campo cinco vezes. Foram três derrotas, um empate e uma vitória.

Assim, no Brasileirão, o Palmeiras perdeu terreno e está a dez pontos do líder Botafogo. Apuração dessa coluna é que, internamente, a diretoria já trata o Campeonato Brasileiro como um torneio quase perdido.

O mesmo pode acontecer na próxima quinta-feira, no Allianz Parque, caso o Palmeiras não reverta o placar de 1 a 0, favorável ao São Paulo, na decisão da vaga à semifinal da Copa do Brasil.

O terceiro torneio é a prioridade na temporada. Nos dias 2 e 9 de agosto, primeiro no Mineirão e depois no Allianz Parque, o Palmeiras encara o Atlético-MG, pelas oitavas de final.