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Julio Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Patriotada e fanfarronice: Por que Neymar ficou à frente de Vinícius Jr

Neymar e Vini Jr. comemoram gol do Brasil sobre a Coreia - Odd ANDERSEN / AFP
Neymar e Vini Jr. comemoram gol do Brasil sobre a Coreia Imagem: Odd ANDERSEN / AFP

28/02/2023 12h05

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Neymar acabou em nono lugar no ranking do Fifa The Best, duas posições à frente de Vinícius Jr. De bate-pronto, a classificação chama a atenção. Afinal de contas, o que Neymar fez mesmo neste ano e meio abarcado pela Fifa para a escolha de melhor jogador do planeta? E o que fez Vinícius Jr? Há uma discrepância clara, mas já falaremos disso.

Tendemos a "culpar" a Fifa pelo ocorrido. Mas, se olharmos na lupa, vamos descobrir que é a fanfarronice e a patriotada de três amigos que coloca Neymar à frente de Vini. Eles têm nome: Lionel Messi, Thiago Silva e Adenor Bachi, o Tite. São os únicos que votaram em Neymar como melhor jogador do mundo entre agosto de 2021 e dezembro de 2022, dando a ele pontos suficientes para entrar neste top 10.

Vejam, eu entendo que os títulos (coletivos) sejam fundamentais para a definição de prêmios individuais. Ainda assim, creio que Neymar talvez já tenha sido, ao longo da carreira, o melhor jogador do mundo em algum momento, por alguns meses. Mas certamente não foi o caso na temporada passada e primeira metade desta atual.

Messi já usou este tipo de artifício em outros anos. Votou em qualquer um para não ter de votar em Cristiano Ronaldo - o que mostra, no mínimo, pouca grandeza. E agora coloca Neymar em primeiro e Mbappé em segundo, mesmo sabendo - e possivelmente ninguém saiba melhor do que ele - que esta ordem é absolutamente inaceitável para o que vimos no último ano e meio. Messi viu em primeira mão Mbappé ser mais importante que ele mesmo e que Neymar na temporada passada, quando o PSG ganhou o título francês, e viu de perto Mbappé quase privá-lo da tão sonhada Copa do Mundo. O voto de Messi em Neymar é simplesmente para ajudá-lo a ganhar o próprio prêmio.

Já Thiago Silva e Tite mostram tamanha lealdade, a ponto de passarem pelo ridículo. Patriotada, apenas. Eu esperava mais. Se bem que se Tite tivesse colocado Vinícius Jr no pódio seríamos, de fato, surpreendidos.

Os votos para Vinícius Jr como melhor do mundo foram dados por Salah, capitão do Egito, e pelos jornalistas Emmanuel Gustave Samnick, de Camarões, e Crofton Utukana, de Ilhas Salomão.

Eu não teria votado em Vinícius como melhor do mundo. Teria dado os mesmos votos do representante de classe brasileiro, o amigo Martín Fernández: Messi, Mbappé e Benzema, nesta ordem. Mas certamente ele estaria entre os cinco, se assim permitisse a lista. Vinícius foi absurdamente decisivo para o Real Madrid na temporada passada, formando o trio de "milagreiros" da Champions, ao lado de Benzema e Courtois. Na temporada atual, é o melhor jogador do time. E, na Copa, foi um dos melhores do Brasil.

Houve muitos outros votos fanfarrões no The Best - este colégio eleitoral gigantesco é a razão pela qual nunca gostei da premiação da Fifa e lamentei muito a mudança feita pela Bola de Ouro. Tem voto para caramba no Julián Álvarez, por exemplo, que nem titular era no começo da Copa, não levou o River a conquista alguma ano passado e mal joga no Manchester City. Tem voto no Bellingham como melhor do mundo. Aliás, o técnico novo da Espanha (Luís de la Fuente) já mostra que quer ser mais espalhafatoso do que Luis Enrique e votou em Álvarez, Bellingham e Modric, nesta ordem.

Teve voto no De Bruyne como melhor do mundo - fico me perguntando o que o belga diria sobre isso, já que na Copa ele mesmo falou que foi "pelo nome" que ganhou um prêmio de melhor de campo na campanha decepcionante da Bélgica.

Entre a decisão esdrúxula da Fifa de ampliar o período em questão para uma temporada e meia, as fanfarronices e as patriotadas, tivemos isso aí. Julián Álvarez em sétimo, Hakimi (!) em oitavo, Neymar em nono, Vinícius fora do top 10. Difícil respeitar.