Atitude pequena do São Paulo sobre final mostra por que é difícil sair Liga

Por que nunca saiu uma liga nacional de clubes no Brasil? Talvez a explicação esteja em pequenos eventos, como a polêmica atual da final do Paulistão. O Palmeiras quer jogar no Allianz Parque, mas tem um show marcado para a outra semana. Então, pede para o jogo ser no sábado. O São Paulo, em vez de gentilmente aceitar, usa um discurso de "regulamento" para forçar o jogo a ser realizado no domingo - consequentemente, em outro estádio.

Podemos dar uma olhada no cenário. Na semana seguinte, ambos têm viagens longuíssimas pelas competições sul-americanas. O Palmeiras joga quarta-feira (6 de abril) contra o Deportivo Táchira, na Venezuela, em sua estreia na Libertadores. Já o São Paulo vai até Cusco, numa altitude de 3400m, enfrentar o Ayacucho, pela Sul-Americana, na quinta (7 de abril).

Ou seja, sem ninguém precisar pedir nada, já é o óbvio dos óbvios que o jogo final do Paulista deveria ser marcado para sábado. Uma final quarta e outra sábado. E ambos ganham um dia a mais antes de viagens longas por competições continentais. Independente de ter ou não estádio.

Mais uma olhada de cenário. A regra do Estado é de torcida única em clássicos. Portanto, seja no Allianz, em Barueri ou no interior, o Palmeiras sempre terá a torcida 100% dele nas arquibancadas. Não haverá "campo neutro" na segunda partida.

Então, resumindo: o São Paulo tem uma atitude pequena, minúscula, tacanha, mesquinha, que não vai alterar muita coisa em relação à vantagem de o adversário jogar "em casa" o segundo jogo, que ainda vai instigar e motivar ainda mais o Palmeiras, e que atrapalha a programação dele mesmo, São Paulo, pensando na viagem pela Copa Sul-Americana logo em seguida.

O mundo gira, apesar de alguns dizerem que a Terra é plana. Amanhã, é o São Paulo que precisará de uma concessão por parte do Palmeiras. Sem contar outra coisa: se um clube de futebol adota uma atitude de intransigência e falta de empatia, que mensagem ele quer passar para os torcedores, que estão aí se matando pelos quatro cantos, e para a sociedade, tão carente de mais atitudes generosas e menos animosidade?

O ideal era que o São Paulo fosse o primeiro a aceitar o pedido do Palmeiras, inclusive juntando-se ao rival, caso a TV que comprou os direitos do campeonato insista em ter uma final no domingo.

É impossível pensar na criação de uma Liga de clubes no Brasil. Porque temos uma dificuldade enorme de olhar para o outro, de olhar para o todo. Estamos mais do que habituados a olhar somente para nosso próprio umbigo. Não é só o São Paulo. Hoje, é o São Paulo. Ontem, foi o Flamengo forçando barras na pandemia. Anteontem, algum outro. Amanhã, mais alguém. Faltam respeito, empatia e espírito mais coletivo, menos individualista e egocêntrico.