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Julio Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Ao provar do próprio veneno, Neymar autoriza intimidação contra si

Neymar, do PSG, contra o Nice - Eric Gaillard/Reuters
Neymar, do PSG, contra o Nice Imagem: Eric Gaillard/Reuters

07/03/2022 03h16

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Eram transcorridos 51min do segundo tempo, o agora vice-líder Nice vencia o poderoso PSG por 1 a 0. Um resultado raro, apenas a terceira derrota do Paris em 27 rodadas na França. O atacante Amine Gouiri recebe uma bola no ataque. Quando nota que a marcação sobre ele era feita por Neymar, levanta a bola com o pé esquerdo e toca "com nojo" com o calcanhar direito, fazendo um autochapéu. A típica jogada para irritar e humilhar o adversário.

Neymar reage dando um empurrão-safanão no adversário. Encara, fica com aquela postura de briga no campo de futebol. Juiz e bandeira agem rapidamente, nenhum jogador do Nice veio tirar satisfações, Gouiri fica em pé, não se joga no chão com a mão no rosto ou qualquer coisa do tipo, como muitos fariam.

A grande curiosidade do lance é justamente o protagonista. Oras, oras, oras. Quantas vezes já não vimos Neymar fazer algo parecido? Quantas vezes ele já não foi agredido ou intimidado ou até amarelado por fazer graça quando o time está ganhando? Quantas vezes ele, o pai, colegas de time, defensores nas redes sociais ou na grande mídia já não falaram sobre o "direito" de fazer jogadas plásticas dentro de campo?

Eu sempre defendi a tese de que Neymar apanha por sua atitude em relação aos adversários, não por ser craque ou dono de um talento invejável - outros, como Messi e Cristiano, são mais craques e não apanham como ele. Algo que ele faz gera bronca, possivelmente o que fala em campo ou mesmo a postura corporal. Isso não justifica agressão alguma. Esta é apenas uma explicação, nunca defendi agressões, empurrões ou qualquer coisa do tipo. Explicar não é concordar.

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Gouiri fez o que fez porque Neymar faz o que faz. E a reação foi muito interessante, porque nos mostra alguns pontos da própria personalidade de Neymar. Em primeiro lugar, fica evidente a total falta de empatia. Neymar nunca se coloca no lugar do outro, tudo gira em torno dele, de suas vontades, desejos, ética. É um egocêntrico. Será que depois desta ele pensará em não fazer com os outros aquilo que ele não gostou que fizessem com ele?

Mas o ponto principal mesmo é: ao empurrar o jogador, Neymar autoriza todos os que lhe intimidaram, intimidam ou pretendem intimidar no futuro. Ele escreve uma carta pública dando tal autorização.

Neymar e Messi não evitaram a derrota para o Nice, mas Mbappé não estava em campo. Ele é o grande nome da eliminatória de quarta, contra o Real Madrid, jogando em sua possível futura casa - o estádio Santiago Bernabéu. Todos querem ver Mbappé e saber se ele vai ficar no Paris ou anunciar a ida para o Madrid logo após o jogo. Já Neymar, por inconsistências como a vista no sábado, perde cada vez mais protagonismo.