Julio Gomes

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É pura utopia, mas seleção deveria tentar sistema com três zagueiros

A Inglaterra tem uma revista chamada 4-4-2. Na cultura inglesa, este é o esquema tático padrão do futebol. Pois até a Inglaterra já jogou uma Copa e gosta de atuar com três zagueiros. Quando o Brasil deixará de achar que jogar com três zagueiros representa algum tipo de defensivismo? Quando cairá a ficha sobre o novo 3-5-2 ou o novo 3-4-3?

O fato é: o Brasil tem ótimos zagueiros e laterais menos fortes, fora do alto nível europeu. Tite diz que tentou, mas não tentou de verdade. Diniz nem tentou. E Dorival, por enquanto, ficou na linha de 4. Uma linha de 4 que foi agredida e sofreu contra a Espanha no amistoso desta terça-feira, no Santiago Bernabéu.

Sofreu também porque os jogadores de meio de campo são meio que todos iguais - os do banco também. Jogadores que correm, são dinâmicos, mas não trazem segurança defensiva.

Quais são os laterais do Brasil? Quem exatamente faltou aqui nos jogos da Europa? Danilo tem jogado como um zagueiro pela esquerda na Juventus. E não é que a Juventus seja um sucesso nos últimos anos. Wendell sequer é titular absoluto no Porto. Ayrton Lucas deixa a desejar defensivamente e logo logo perderá lugar no Flamengo. Yan Couto é outro de características ofensivas. Quais são os bons laterais brasileiros em times grandes da Europa? Vou além: quais são os laterais brasileiros relevantes no próprio futebol brasileiro? Bons mesmo, de verdade...

Não formamos mais laterais, até porque o jogo mudou. O futebol voltou a ser o futebol dos pontas, da profundidade alcançada com atacantes e o espaço defensivo preenchido com defensores. Se temos laterais bons defensivamente (e não temos muitos), eles precisam virar zagueiros, que se deslocam para o meio como construtores. Se temos laterais bons ofensivamente, eles devem ser pontas em um sistema de três defensores.

Que zagueiros bons temos?, se perguntará o leitor, após Beraldo tomar o drible que tomou no segundo gol da Espanha. Temos vários. Beraldo tem um futuro incrível, convém deixá-lo amadurecer mais no PSG. Marquinhos e Gabriel Magalhães estão na primeira linha do futebol europeu, assim como Bremer. No futebol doméstico, há três grandes zagueiros no Flamengo, um no Palmeiras e até mesmo um ou outro em outros clubes.

Três zagueiros velozes e de bom passe seriam sustentados por alas quando é preciso defender com linha de cinco. E darão muito mais tranquilidade para, aí sim, os meio campistas levarem o dinamismo necessário aos dois ou três atacantes.

Quem pode ser ala? Um monte de gente. Tudo depende da entrega e do modelo de jogo. Raphinha pode ser tranquilamente esse cara, se Dorival quiser - e isso me foi confirmado por um membro da comissão técnica. Raphinha está apto a atacar e, quando necessário, fechar a linha de 5. Mas há outros, inclusive meias que podem ser utilizados por ali. A gama é grande.

Danilo e Wendell foram expostos por Nico Williams e Lamine Yamal no primeiro tempo. A Espanha tinha o mesmo sistema do Brasil (4-3-3), mas com laterais que defendem melhor e pontas que aproveitaram o espaço. Podem ser três zagueiros ou até quatro zagueiros, mas o fato é que a seleção precisa preencher melhor espaços.

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No segundo tempo, o Brasil passou para uma espécie de 4-4-2, com variação para o 4-2-3-1. Andreas Pereira entrou para fechar os caminhos a Rodri e isso funcionou por algum tempo. Mas, a partir dos 20min, a Espanha voltou a tomar conta do jogo e finalizou algumas vezes da zona perigosa que é a entrada da área.

Depois do jogo, perguntei aos zagueiros, Fabrício Bruno e Beraldo, se eles achavam que jogar com mais um zagueiro seria uma boa opção. Ambos se mostraram bastante céticos. Fabrício enxerga o treinador preenchendo o meio de campo, em vez da defesa. Beraldo, que jogou com Dorival no São Paulo, me confessou que, pelo que conhece do treinador, não há a menor chance de o sistema mudar.

Conversando com membros da comissão técnica, a impressão passada pelos jogadores se confirmou. Dificilmente veremos o Brasil com três zagueiros. Preferem a utilização de Danilo como uma espécie de terceiro zagueiro e o lado esquerdo com um lateral mais agudo. Eu não acho Danilo melhor lateral-zagueiro do que alguns zagueiros-zagueiros que temos. Há a possibilidade de Militão ser esse cara.

Mas convém lembrar que este problema se arrasta. Tite e Diniz tentaram a mesma coisa, com Danilo ou Militão. O que na teoria pode até parecer ter sentido acaba dando em água quando vemos quem joga do outro lado. Alex Sandro, Renan Lodi, Wendell e por aí vai... por que não, por exemplo, a polivalência de Paquetá preenchendo o lado esquerdo em vez de um lateral nota 5?

Enfim. Saí do Bernabéu com a mesma sensação de outros jogos. Que o Brasil precisa jogar com linha de três atrás. Ou pelo menos tentar de verdade. Mas que isso é apenas utopia do colunista.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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