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Julio Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Messi e Cristiano Ronaldo estão ajudando ou atrapalhando os times deles?

19/02/2022 12h47

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O declínio de Messi e Cristiano Ronaldo é nítido - só não vê quem não quer ou quem é muito fanático por um deles. Craques que são, os gênios do futebol do Século XXI, eles ainda entregam números. Gols, assistências, atraem atenção, etc. Mas, no momento, mais ajudam ou atrapalham seus times?

É uma dúvida que começa a rondar na cabeça de torcedores do Manchester United (principalmente) e do Paris Saint-Germain (em menor escala) e que aparece em alguns comentários por parte da mídia especializada europeia.

A grande questão é o fluxo de jogo. Quando Messi e Ronaldo estão em campo, é mais do que natural que sejam o centro das atenções do time. Tudo gira em torno de fazer a bola chegar até eles. Mas os caras já não são os mesmos de 5, 10, 15 anos atrás e a velocidade do jogo mudou bastante neste período.

Ronaldo, já com 37 anos, virou o último homem, o atacante, o definidor - um roteiro parecido com o de Romário, um velocista no início da carreira e que se transformou em um dos maiores finalizadores da história nos anos finais. Jogadores assim não atrapalham time algum na fase ofensiva - aliás, o United só jogará o mata-mata da Liga dos Campeões (jogo de ida contra o Atlético de Madrid na quarta-feira) por causa dele.

Mas os números são os mais baixos em 13 anos. Nos 28 jogos realizados nesta temporada pelo United, foram 15 gols e só 3 assistências. A próxima chance será neste domingo (11h), contra o Leeds United - é o Dérbi das Rosas, um clássico do futebol inglês que foi tema desta semana no Podcast Futebol Sem Fronteiras.

O pepino é que, ao contrário dos tempos de Romário, hoje o futebol demanda muito dos atacantes na pressão exercida sobre o adversário. A marcação da saída de bola e os movimentos coordenados. É lógico que a parte física passa fatura para o português.

Gary Lineker, a voz mais influente na Inglaterra hoje em dia, citou as dificuldades vividas atualmente pelos grandes craques. "Messi faz 35 em junho. Ronaldo acaba de cumprir 37. Provavelmente deveríamos baixar as nossas expectativas. É verdade que ainda fazem coisas maravilhosas, mas nem estes deuses do futebol podem desafiar o pai tempo para sempre."

Messi teve uma atuação no meio de semana, contra o Real Madrid, pela Champions, que despertou todos os tipos de análises. Os cegamente apaixonados interpretaram como um "grande jogo", deu passe de gol para Mbappé (é verdade) e só não coroou a atuação "perfeita" porque teve o pênalti defendido por Courtois.

O pênalti foi o principal ponto de argumento para os detratores de Messi. Eu não dou grande peso ao pênalti perdido (acontece). Mas, sim, à maneira como o time se portou e como Messi deu pouca fluência ao jogo. O PSG fez uma grande partida tática, dominou completamente o Real Madrid, mas Messi não foi exatamente parte disso.

É um jogador que anda em campo e que escolhe os momentos de acelerar e brilhar. É um processo que começou há mais ou menos cinco anos. A enorme quantidade de gols e assistências no Barcelona meio que disfarçava esta "ausência" em campo e chegou a dar um ou outro título para o clube - ainda que não tenha evitado seguidas eliminações vexatórias na Champions League. No Paris, a quantidade de gols e passes para gol diminuiu bastante.

Os 7 gols e 8 assistências em 21 partidas representam os números mais modestos desde 2005/2006, que foi efetivamente o primeiro ano dele como titular do Barcelona.

Diferentemente de Ronaldo, Messi atua no círculo central do campo e algumas jogadas perdem sequência quando a bola passa por ele (ou nem chega nele, porque o desarme não tem sido tão complicado para os adversários). Às vezes o jogo está passando a mil por hora ao lado e Messi segue lá, esperando a bola nos pés. Quando ela chega, ele brilha - é um gênio, repito, o maior que vi jogar em vida. Mas o jogo vai muito além da bola nos pés.

Será que dinâmica de jogo do PSG vai funcionar com os três astros em campo ou será que o time funcionaria melhor com Neymar no lugar de Messi para fazer companhia a Mbappé? Isso, claro, quando o brasileiro estiver recuperado fisicamente. Parece claro que o Paris joga mais coletivamente quando dois dos três estão em campo, mas é difícil imaginar Pochettino tomar a decisão de deixar Messi de fora.

O declínio faz parte da vida de qualquer profissional, principalmente esportistas. Já vimos decadências deprimentes e decadências vitoriosas. Depende demais do contexto em que o jogador está inserido, da vontade que ele tem de contribuir, da capacidade de se reinventar e da humildade para assumir um papel diferente daquele que sempre teve.

Ronaldo, creio, ainda passará algum tempo trabalhando, trabalhando e trabalhando para fazer gols e ampliar seus números. No caso específico do United, não vejo muito como o atual time estaria melhor sem ele. Na Inglaterra, muitas vozes importantes discordam disso e acreditam que a presença do português esteja atrapalhando o desenvolvimento do clube.

Já Messi parece mais com a cabeça na Copa do Mundo, sua última chance. Ele mais ajuda ou atrapalha o PSG no momento atual do clube? Os próximos duelos de Champions darão algumas respostas.