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Julio Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Gomes: Será que o São Paulo-2021 é mesmo melhor que o de 2020?

Crespo comanda treino do São Paulo no CT da Barra Funda, nesta sexta-feira - Divulgação/SPFC
Crespo comanda treino do São Paulo no CT da Barra Funda, nesta sexta-feira Imagem: Divulgação/SPFC

16/09/2021 04h00

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Qual São Paulo Futebol Clube o torcedor prefere? O da temporada 2020 ou o da temporada 2021?

A resposta não é fácil. Haverá de tudo. E há muitos ângulos que podem ser usados nesse debate. Um deles, o do título, o do fim da fila. Outro, o da competitividade, do que o clube almeja. Pode-se olhar pelo ângulo do torcedor. Como pode-se olhar pelo ângulo da instituição.

A temporada 2020 acabou, na verdade, em fevereiro de 2021. Mas é incrível como são dois São Paulos completamente diferentes. O de 20 era o de Leco, Raí, Pássaro, Diniz e Daniel Alves. O de 21 é de Casares, Belmonte, Crespo e um elenco diferente - mais forte, por certo, com vários reforços.

Se olharmos puramente para os resultados das duas temporadas, temos um empate: 2 a 2.

O São Paulo 2020 disputou o título brasileiro até o final, liderou boa parte do campeonato e teve sua primeira chance real de ser campeão nacional em mais de uma década. O São Paulo 2020 chegou também à semifinal da Copa do Brasil, eliminado contra o Grêmio, depois de passar pelo Flamengo. Foi o mais perto que o clube chegou do título (inédito) em duas décadas. O São Paulo 2021 nunca competiu no Brasileiro e vira o turno apenas um ponto acima da zona de rebaixamento. Na Copa do Brasil, foi eliminado nas quartas de final, pelo Fortaleza, sem ter tido muitas chances de passar.

O São Paulo 2021, no entanto, foi campeão paulista - enquanto o de 2020 caiu para o catado do Mirassol. E o de 2021 avançou na Libertadores, caindo só nas quartas de final, diante do Palmeiras - o de 2020 foi eliminado na fase de grupos, com um pequeno atenuante de ter jogado em um grupo bem mais complicado, mas depois foi eliminado também da Sul-Americana.

Eu sempre levanto uma mesma questão no futebol, que se aplica a diversos casos e com várias leituras diferentes: O que é melhor? Ser campeão e ser rebaixado? Ou seja, experimentar o melhor e o pior? Ou viver na pasmaceira?

As respostas, obviamente, variam. Depende do perfil do clube, do passado, das perspectivas de futuro. Um rebaixamento sempre pode ser revertido. Um título talvez nunca possa ser repetido. Mas, para instituições gigantes, o rebaixamento é que é uma mancha irreversível, enquanto títulos podem esperar.

O que é melhor para o São Paulo? Sair da fila e ganhar o Paulistão, mas rifar a temporada e já não ter mais nada a fazer com três meses de jogos pela frente? Ou seguir na fila, mas se consolidar de novo no cenários dos maiores e competir com os grandes - do tamanho dele - nos principais campeonatos?

Se daqui a dois ou três anos o São Paulo não tiver conquistado nenhum título grande, será que o Paulistinha, sempre tão desprezado pelos são-paulinos em tempos passados, terá lastro suficiente? Ou será que já estaremos falando em fila novamente, pois "Estadual não conta"? Será que se o São Paulo ficar fora da Libertadores-2022 o Paulistinha compensará o prejuízo?

O fato é que a transição eleitoral com uma temporada em andamento fez muito mal ao clube. O São Paulo tinha algo que funcionava. E que começou a ser desmontado a partir de 1o de janeiro. Tiraram o diretor de futebol, que era fundamental para o técnico e para a química com os jogadores, e começaram a mexer em várias coisas que ficam invisíveis para o público - departamentos de análise de desempenho, comunicação, etc. Se a atual diretoria tivesse tirado folga por dois meses, possivelmente pegaria um São Paulo campeão brasileiro.

Mas não. Foi co-partícipe do derretimento de janeiro. E depois atropelou processos para ganhar um título irrelevante. É óbvio que o amontoado de lesões e a falta de condicionamento físico do time passam pela emenda entre as duas temporadas. O São Paulo rifou Libertadores, Brasileiro e Copa do Brasil em nome de um fim de fila que representaria um peso a menos nas costas de todos - mas já sabemos como é o futebol, não existe essa coisa aí de "tranquilidade para trabalhar". O peso já está de volta.

O São Paulo 2021 levantou um troféu, do campeonato menos importante que se pode ganhar e que tinha dois rivais especialmente mal e um desinteressado. Já o São Paulo 2020 competiu por coisas que o torcedor já nem lembrava mais como eram.

Era, no meu ponto de vista, um time mais interessante de se ver jogar, mais consistente, mais forte. O torcedor passava apuros? Sim, era o frio na barriga de estar jogando finais todas as semanas, jogos grandes. E hoje? O que motiva o torcedor são-paulino a ligar a TV para assistir à partida de domingo? E isso vai ser assim por três longos meses.

Para um clube pequeno, é muito melhor um título (paulista, que seja) em meio a anos ruins. Para um clube gigante, deveria ser muito melhor a consistência. Brigar lá em cima, mesmo que o título demore. Acho que uma instituição como o São Paulo não tinha o direito de rifar a temporada 2021, mesmo que tenha dado a seu torcedor aquele efêmero gostinho de uma conquista.

O futebol, especialmente no Brasil, é feito de encaixes. Após tantos anos desastrosos, o São Paulo tinha encontrado um encaixe em 2020. O que não quer dizer que as mesmas peças irão funcionar do mesmo jeito em outro lugar - Diniz acabou de ir mal no Santos e nada garante que, no Vasco, junto com Pássaro novamente, o destino será outro. Mas, no São Paulo, havia um encaixe.

Se a gestão Casares acabar só com um título paulista, ela poderá ser considerada bem sucedida? É claro que não. É bom, portanto, diminuir o fala-fala e procurar rapidamente um novo encaixe. Porque o São Paulo 2021 é, no momento, um horror. Que não vai cair, mas que neste momento corre sério risco de não brigar por vaga na Libertadores. As temporadas 2022 e 2023 já começaram. E até o Corinthians já tem um futuro mais promissor do que o São Paulo.