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Julio Gomes

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Alguém precisa intervir no VAR intervencionista do Brasil

31/07/2021 21h18

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Eu não tenho nada contra o uso da tecnologia no esporte. Tenho tudo contra a arbitragem de futebol no Brasil. São ruins, mal treinados, mal coordenados. Devem fazer o seu melhor, não tenho dúvidas. Mas esse melhor deles é algo bem ruim, se compararmos com o que vemos mundo afora.

Não sou contra o VAR. O uso da tecnologia ajuda a evitar que várias bizarrices aconteçam em campo. É uma ferramenta poderosa para os árbitros.

Mas, para ser poderosa, não pode ser corriqueira. O que acontece no Brasil é um absurdo completo. Os árbitros que, como já dito, são ruins, sentam-se na sala do VAR e sentem-se os donos do mundo. É intervenção atrás de intervenção. Dois minutos, três, sete, oito. Dizem eles que é preciso levar o tempo que for necessário para corrigir uma "injustiça".

Sambam no protocolo da Fifa, que pede explicitamente para que sejam revistos somente erros crassos e objetivos. Criaram um protocolo próprio, da intervenção total.

Neste sábado, o VAR foi novamente a notícia no empate sem gols entre São Paulo e Palmeiras. Possivelmente tenha acertado nas três intervenções. Mas o problema já não é mais acertar ou errar. O problema é o uso completamente equivocado de uma ferramenta que precisa servir de apoio, nada mais que isso.

O primeiro lance, de impedimento no gol de Rigoni, foi bem marcado pelo bandeira. Então nem podemos dar crédito ao VAR. O segundo lance é simbólico de tudo o que falamos aqui dia sim, dia também. Porque ele junta a péssima arbitragem de campo com o péssimo uso do VAR. É um resumo perfeito do caos.

Primeiro, é inacreditável a marcação de pênalti por parte de Luiz Flávio de Oliveira no toque de Gustavo Gómez em Marquinhos. Não houve carga suficiente para derrubar o jogador. Mas, contudo, entretanto, porém, é um lance de interpretação. É eternamente um lance de interpretação. E o VAR não pode intervir em lances assim.

Vou repetir quantas vezes for necessário: o VAR não pode servir para juiz reinterpretar e reapitar jogos de futebol. Mesmo que o árbitro na cabine ache que não foi pênalti, ele não tem que se meter!

"Mas Julio, se não foi pênalti, o VAR tem que chamar". Não! Dois erros não fazem um acerto. Se o árbitro viu pênalti, o campo precisa mandar.

E depois, nos instantes finais da partida, temos o impedimento de Miranda no lance em que sairia o gol da vitória do São Paulo. É tão complexo que demora até para explicar. Depois da falta cobrada por Reinaldo, Miranda, em impedimento, meio que disputa a bola pelo alto com Patrick. Ninguém nem chega perto da bola, e, na sequência, Gustavo Gómez cabeceia bisonhamente para trás, fazendo o gol contra.

Se você olhar para o lance mil vezes e ficar 10 minutos analisando, talvez possa interpretar mesmo que o lance pudesse ter outro destino se Miranda não disputasse a bola. Mas o pepino está aí. São lances de interpretação, muito duvidosos, que não podem ficar sofrendo intervenções constantes.

Parar o jogo estraga o jogo, é simples assim. A Uefa e as ligas europeias, que já fazem, a meu ver, bom uso do VAR, seguem fazendo alterações para que se diminua ainda mais o tempo. Impedimento milimétrico? Esqueçam, vantagem pro ataque. Nada disso de ficar perdendo tempo por causa de um ou dois centímetros.

Aqui, todos querem ser mais realistas que o rei. O futebol não é assim. Esse não é o jogo. O VAR intervencionista está dando outra conotação para o jogo. Piorando o que já é ruim.

Alguém precisa intervir no VAR intervencionista. Neste domingo, completaremos 1000 jogos com o VAR no Brasil. Está insuportável, ninguém aguenta mais. Era menos pior sem ele.