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Julio Gomes

Na Champions mais estranha da história, é matar ou morrer para Neymar

Portões fechados: o estádio da Luz manteve a cara e as cores do Benfica para a reta final da Champions, sem o envelopamento comercial tradicional dos eventos Uefa - Julio Gomes/UOL
Portões fechados: o estádio da Luz manteve a cara e as cores do Benfica para a reta final da Champions, sem o envelopamento comercial tradicional dos eventos Uefa Imagem: Julio Gomes/UOL

12/08/2020 07h30

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Hoje começa o "mata" da Champions League. É só mata mesmo, pela primeira vez na história será um torneio em eliminatória única antes de chegarmos aos finalistas. Seis jogos serão realizados em Lisboa, três no estádio do Benfica, três no do Sporting, até que sejam definidos os times que disputarão o título, em 23 de agosto, na Luz. O primeiro confronto será entre Paris Saint-Germain e Atalanta, a partir das 16h (de Brasília).

É tudo muito estranho. Geralmente envelopados com a logomarca da Uefa e seus patrocinadores, os estádios não têm qualquer referência ao que vai acontecer lá dentro. Não há torcedores, não há ambiente. Em Portugal, tem gente que nem sabe o que vai acontecer aqui. Tem gente orgulhosa pelo país ter conseguido controlar a pandemia e receber o que resta da competição. E tem gente indignada pelo governo abrir uma brecha para que o coronavírus atinja o país de um jeito que ninguém quer.

Os brasileiros - e quem acompanha o futebol de perto - estarão de olho em Neymar. O craque do Paris fazia uma grande temporada antes da parada pela pandemia, era candidato à Bola de Ouro. Parecia consistentemente decidido a levar o clube ao sonho europeu. Na volta, o Paris não teve Francês para jogar, atuou apenas em duas finais de Copas na França. O time é uma interrogação, pois chega com menos ritmo do que os concorrentes e chega com a dúvida sobre Mbappé, a outra estrela, que deve começar hoje no banco de reservas.

É, sem dúvida, a hora H para Neymar. O jovem que passou a vida toda ouvindo que seria melhor do mundo, que talvez tenha acreditado, que talvez se importe com isso - quem está em volta dele se importa, e muito, além da conta. Nunca houve uma chance tão grande para Neymar provar o que é - ou que acha que é, ou o que acham que ele é. São três jogos, apenas três jogos.

É matar ou morrer. Matar significa eliminar os adversários e chegar ao título. Morrer significa ver o sonho do reconhecimento individual muito mais distante, talvez, até, impossível de ser alcançado.

O primeiro duelo, de quartas de final, é o que se encaixa perfeitamente no estereótipo de rico contra pobre.

O Paris, com o dinheiro ilimitado que jorra do Catar, as contratações mais caras da história, uma camisa tradicional, mas que nunca foi pesada, que se transformou em candidato a tudo meio que artificialmente. É o futebol global. Do outro lado, a Atalanta, um pequeno clube de uma pequena cidade da Itália, que vem fazendo boas campanhas e que, nesta temporada, encaixou.

A Atalanta passou da fase de grupos com raros sete pontos, ganhando na última rodada do Shakhtar (que está na semifinal da Europa League, não era um time ruim). Passou pelo Valencia com muitos gols, mostrando ao mundo um sistema ultraofensivo de jogo - foram 98 gols na campanha de terceiro lugar na Série A.

Bérgamo, a cidade da Atalanta, foi uma das mais afetadas pelo Covid, ainda em fevereiro. É um símbolo do quão letal e cruel pode ser este vírus. A Atalanta virou, então, a queridinha de todos. O time que joga pela cidade, pelos mortos, e que ao mesmo tempo defende os conceitos do futebol ofensivo e que desafia um gigante (um Paris que incomoda muita gente na Europa, diga-se, pelo dinheiro "estranho" e exagerado).

Seria estranho a Atalanta eliminar o PSG nas quartas de final. Mas o que não tem sido estranho em 2020?