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Julio Gomes

Qatar-22 é um escândalo, mas não será cancelada. Até o calendário ela ajuda

Mundial de Clubes em 2019 foi ensaio geral do Catar para a Copa de 2022 - Leo Burlá / UOL
Mundial de Clubes em 2019 foi ensaio geral do Catar para a Copa de 2022 Imagem: Leo Burlá / UOL

08/04/2020 04h00

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A escolha do Qatar como país-sede da Copa do Mundo de 2022 foi um escândalo. Nem é preciso se alongar muito em cima do tema. Há provas, prisões, condenações, confissões. Um monte de gente ganhou uma bela grana para votar no pequeno país do Oriente Médio, tirando dos Estados Unidos a chance de voltar a receber um Mundial.

Lembro-me perfeitamente quando, 10 anos atrás, com as escolhas de Rússia e Qatar, ouvi de um grande amigo, jornalista escocês superconectado. "Os próximos anos vão ser engraçados, os americanos não aceitarão serem passados para trás desta maneira, de forma tão escancarada".

E não aceitaram mesmo. Os americanos mostraram para o mundo que o sistema de escolhas da Fifa é montado em cima de subornos. Vários dirigentes, entre eles, Ricardo Teixeira, não podem sair de seus países, senão serão extraditados, julgados e presos nos EUA.

Semanas antes da escolha do Qatar para 2022, Brasil (de Teixeira) e Argentina (de Julio Grondona) estavam fazendo um amistoso em... Doha. Nem precisava ser muito esperto para pegar essa turma. Pegaram alguns, outros se safaram. E agora mais notícias estão saindo, acusações de suborno que envolvem até agentes de mídia.

A real é que a Copa de 2022 será no Qatar, por mais que americanos e ingleses, interessados em "herdar" o Mundial, pressionem.

Não, o mundo do futebol não quer a Copa no Qatar. É um país sem tradição alguma no esporte, não haverá ambiente, haverá dificuldade de locomoção e, claro, bagunça no calendário. Afinal, por causa do verão rigoroso no meio do deserto, a Copa-22 será disputada em novembro.

E é nesse ponto que quero chegar. O fato é que, por linhas tortas, a Copa no Qatar irá dar uma bela salvada no calendário - não só do futebol, mas de muitos esportes.

No caso do futebol, possivelmente teremos a Europa jogando o que resta da temporada em junho e julho agora e uma temporada 20/21 muito apertada, pois a Euro-20 ficou para o meio de 2021. Férias curtas, temporada 21/22 apertada também, porque a 22/23 possivelmente terá de começar bem cedo para se adaptar à parada de quase dois meses para a Copa. Mas melhor assim do que se houvesse uma Copa em junho de 2022, um ano após a Euro, estrangulando completamente o calendário e deixando os principais jogadores e seleções sem descanso.

Além disso, a Fifa estrearia seu Mundial de Clubes inchado no meio de 2021 - está na cara que ficará para o meio de 2022. Deixar a Copa quieta lá em novembro, no Qatar, é conveniente.

No caso de outros esportes é que a Copa no Qatar ajuda ainda mais. Com o adiamento da Olimpíada para julho/agosto de 2021, muitos campeonatos de diversas modalidades, geralmente disputados em ano ímpar, sem concorrer com o futebol, terão de ser reagendados. O fato de a Copa ser em novembro vai deixar o verão de 2022 livre para estas modalidades.

A FINA já contempla fazer o Mundial de esportes aquáticos em junho de 2022, no Japão - outra possibilidade seria em outubro de 2021, mas um Mundial apenas dois meses após os Jogos Olímpicos não teria sentido algum.

O Mundial de atletismo, no Oregon (EUA), já foi adiado de agosto de 2021 para 2022 - ainda está sem data, mas é provável que seja no meio do ano seguinte. E há um montão de torneios de continentais (só no basquete tem Europeu, Asiático, Africano, etc) que estão marcados para 2021 e que possivelmente aproveitarão o meio de 2022, sem a concorrência de uma Copa do Mundo.