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Danilo Lavieri

REPORTAGEM

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Por que Grupo City analisou São Paulo, mas preferiu comprar o Bahia

Estádio do Morumbi, antes da partida entre São Paulo e Flamengo pelo Brasileirão de 2020 - Buda Mendes/Getty Images
Estádio do Morumbi, antes da partida entre São Paulo e Flamengo pelo Brasileirão de 2020 Imagem: Buda Mendes/Getty Images

com Thiago Braga, do UOL

13/10/2022 04h00

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Antes de fechar com o Bahia, o Grupo City fez uma série de reuniões com clubes interessados em se transformar em uma SAF (Sociedade Anônima de Futebol). Vários times foram analisados. O Atlético-MG, por exemplo, foi descartado logo de cara. O São Paulo, por sua vez, chegou a ser olhado com mais atenção e passou dos primeiros encontros, mas foi descartado posteriormente por alguns motivos que o blog explica a seguir.

O primeiro fica na parte econômica: os gringos estavam dispostos a investir algo em torno de R$ 1 bilhão no período de 15 anos. Antes mesmo de abrir papo com o São Paulo, eles reconheceram que esse valor não seria o suficiente para comprar os 90% do time do Morumbi. Então, acabaram fechando com a equipe de Salvador. Na Fonte Nova, essa quantia vai ser dividida em R$ 500 milhões em compra de jogadores, R$ 300 milhões para dívidas e R$ 200 milhões que seriam distribuídos de várias formas.

No último balanço, o São Paulo registrou débitos de R$ 642 milhões. Outra incompatibilidade ainda estava na folha salarial. A promessa no Bahia é que o investimento anual com vencimentos dos jogadores ficaria na média de R$ 120 milhões, ou seja, R$ 10 milhões por mês como um mínimo, o que ainda pode aumentar dependendo das receitas. Para os baianos, isso representa um salto considerável, enquanto no Morumbi isso não seria o suficiente na comparação com a situação atual.

Além disso, a análise preliminar do Grupo City era que haveria dificuldades políticas para transformar o São Paulo em SAF. A estrutura do clube hoje em dia, com conselheiros detentores de muito poder, dificilmente seria desfeita. Em um clube que é adquirido, os que hoje estão no poder são escanteados. No Bahia, o presidente Guilherme Bellintani terá cada vez menos voz e isso precisaria acontecer no Morumbi com nomes como Júlio Casares e Carlos Belmonte —e outros diretores não poderiam mais palpitar no futebol.

O artigo 145 do Estatuto do São Paulo determina que uma alteração deste tipo precisa, primeiramente, ser protocolada como requerimento no Conselho Deliberativo. Esse requerimento pode ser proposto por um quinto dos associados com direito a voto, o que significa 50 integrantes, pelo presidente da diretoria (neste caso, Julio Casares) ou pelo presidente do Conselho Deliberativo (Olten Ayres de Abreu Júnior). Depois, a sugestão de mudança estatutária tem ainda de ser encaminhada para apreciação da Comissão Legislativa do Conselho Deliberativo, que deve emitir parecer em até 30 (trinta) dias sobre a conveniência e legalidade da proposta.

Só então o presidente do Conselho Deliberativo convocaria reunião extraordinária para discutir e votar a proposta, que só pode ser aprovada se receber voto favorável da metade mais um dos membros do Conselho Deliberativo. Na hipótese de ser aprovada, o presidente do Conselho Deliberativo tem até 30 dias para convocar Assembleia Geral Extraordinária para deliberar sobre a proposta de alteração aprovada no Conselho Deliberativo, observado, nesse caso, o quórum para aprovação da maioria simples dos associados do SPFC com direito a voto.

Mesmo antes de abrir para uma consulta mais profunda, o Grupo City entendeu que teria resistência interna e que a operação poderia demorar muito mais do que o período que era considerado o máximo por eles. Recentemente, o São Paulo inclusive aprovou a mudança de estatuto para permitir a reeleição.

Por fim, não havia consenso sobre quais propriedades entrariam para a SAF. O São Paulo tem Morumbi, o CT da Barra Funda e também o de Cotia e pretende manter o controle desses ativos. A opção seria colocar no contrato os direitos de patrocínio e de transmissão, mais as receitas de vendas de jogadores e direitos econômicos dos atletas revelados nas categorias de base do clube.

Atualmente, o Tricolor mantém uma parceria com o City para empréstimo de alguns jogadores, como no caso de Nahuel Bustos. Em março deste ano, o clube contratou a Alvarez & Marsal. A empresa, especializada em gestão e reestruturação empresarial, elabora um estudo para saber quanto vale a marca do clube. O documento deve ficar pronto até o fim deste ano. Mas isso não significa que haverá a transformação em SAF. Em princípio, o clube do Morumbi quer saber quanto valem seus ativos.

Após a publicação da reportagem, o São Paulo enviou o seguinte comunicado:

O SPFC mantém uma excelente relação com o Grupo City. Há uma relação entre o presidente do Clube, Julio Casares, e o CEO do Grupo, Ferran Soriano, mas jamais foi discutida a possibilidade de SAF. As conversas entre os dirigentes seguem e novas oportunidades de negócios e ações podem surgir, como foram os casos de Bustos e Ferraresi

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