Danilo Lavieri

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O dilema entre hierarquia e talento criado por Abel Ferreira no Palmeiras

Abel Ferreira tem métodos que o fazem muito vencedor. Os resultados estão aí e não me deixam mentir. Mas isso não significa que ele é perfeito. No Palmeiras, ele tem vivido um dilema entre alguns dos princípios que norteiam a sua cartilha: o duelo entre hierarquia e talento.

Para decidir quem está na frente na fila por uma oportunidade, o português tem alguns critérios. Cumprir funções é o principal deles, além de outros itens como experiência, vontade, disciplina no dia a dia e tantos outros. A questão é que, muitas vezes, o talento fica muito longe nessa fila.

O exemplo de ontem é bastante claro. Luís Guilherme entrou e fez, no seu primeiro toque, mais do que Breno Lopes fez em 60 minutos de jogo. Provavelmente, mais do que Breno Lopes fez durante todo o ano.

É verdade que o herói do título da Libertadores de 2020 é muito útil, tem seu lugar reservado na história justamente pelo gol contra o Santos, mas não pode ter lugar cativo como primeira opção quando os titulares estão fora.

Abel falou sobre o tema na coletiva e, inclusive, disse que vai puxar a orelha de Luís Guilherme por ter largado a marcação quando perdeu uma bola. E é justíssimo. A cobrança é muito válida. O futebol de hoje pede que os atacantes e meias ajudem na marcação. Não é isso o que questiono. O que questiono é a consequência desse erro.

Se Luís Guilherme errou, ele merece ser corrigido, mas não merece ficar para sempre atrás de Breno Lopes na concorrência. E essa rigidez na análise, que muitas vezes para esse colunista é teimosia, atrapalha o desenvolvimento de alguns talentos. Ficou claro para todo mundo que se Luís Guilherme, Kevin e Endrick tivessem tido mais tempo de jogo contra o Boca Juniors no ano passado, o Palmeiras teria ido à final da Libertadores.

Claro que todos os jovens vão oscilar, eles têm muito a aprender e não precisam ser sempre titulares. A queda de desempenho de Endrick no ano passado está aí para nos mostrar isso. Mas a impressão é que na balança de Abel o voltar para marcar tem muito mais peso do que talento para criar.

Ontem, Abel ainda preferiu improvisar Lázaro no meio-campo e não deu chance antes para Luís Guilherme, que tem mais histórico jogando como meia do que Lázaro mesmo com menos idade. E também não colocou Rômulo para jogar, o que é compreensível: ele acabou de chegar. Mas a sua decisão atrapalhou Lázaro e atrapalha Luís Guilherme.

Pode ser que essa rigidez na hierarquia seja o segredo para o sucesso e para manter a motivação do time sempre lá em cima, mas é preciso admitir que essa cartilha às vezes tem alguns problemas que podem ser discutidos, mesmo "não vivendo o dia a dia", como gosta de dizer Abel.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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