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André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Missão de Tite é escolher bem na maior reunião de talentos desde 2006

Casemiro durante Brasil x Chile pelas Eliminatórias - Lucas Figueiredo/CBF
Casemiro durante Brasil x Chile pelas Eliminatórias Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Colunista do UOL Esporte

13/09/2022 08h59

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Há 16 anos, além de toda bagunça na preparação, especialmente em Weggis, a seleção brasileira começou a jogar todo favoritismo que carregava para o Mundial na Alemanha quando Carlos Alberto Parreira fez uma escolha infeliz na seleção brasileira titular: sacou Robinho para escalar Adriano e Ronaldo, as "torres gêmeas" no ataque.

Uma opção que tirou mobilidade e rapidez na frente, prendendo Kaká e Ronaldinho como meias pelos lados. Engessou o "quadrado mágico" e tudo começou a ruir, até Zidane e Henry jogarem a pá de cal nas quartas.

É preciso saber o que fazer com o talento disponível, desde sempre. O exemplo mais feliz foi Zagallo em 1970, ajustando Gerson, Rivelino, Jairzinho, Pelé e Tostão em um 4-3-3 que, na prática, foi a primeira execução do 4-2-3-1 na história.

Desde 2016, TIte vive uma "Neymardependência" na seleção. A geração nunca foi ruim e isso ficou claro logo no início do trabalho do treinador, mas o talento para desequilibrar vinha apenas do camisa dez, com um lampejo de Philippe Coutinho aqui, um gol de Gabriel Jesus ali...

Agora Tite tem mais cartas na manga que ele mesmo no ciclo anterior e bem mais que seus antecessores. Em 2010, Dunga tinha um bom time titular, mas quando precisou de reservas de qualidade ficou a impressão que valeria ter apostado em Ganso e Neymar, mesmo tão jovens. Em 2014, a tragédia do péssimo trabalho de Felipão na Copa em casa que se desmanchou com a lesão de Neymar contra a Colômbia e os 7 a 1, por consequência.

Raphinha e Antony pela direita, Vinícius Júnior à esquerda. Rodrygo pelo entrar pelos dois lados. Richarlison também, e no centro do ataque, que oferece Firmino, Matheus Cunha e Pedro como opções diferentes de referência na frente. Ainda Gabriel Jesus brilhando no Arsenal e correndo por fora.

Lucas Paquetá é um parágrafo à parte. Pode ser um segundo meio-campista, ao lado de Casemiro e atrás de um quarteto ultraofensivo, mas também pode equilibrar e dar liberdade a Neymar jogando pela esquerda ou até dividindo com o camisa dez a missão de "falso nove" caso Tite opte por Vinicius Júnior. Muita versatilidade.

Um pouco mais atrás, alto nível com Casemiro, Fabinho, Fred e Bruno Guimarães. Na articulação, ainda a dúvida entre Everton Ribeiro e Coutinho, que nem deveria existir se o meia agora no Aston Villa não estivesse novamente em um viés de baixa na carreira.

Muitas opções ofensivas que permitem a Tite conviver bem com a ausência de laterais fortes no apoio, uma tônica desde Leandro e Júnior, Jorginho e Branco (Leonardo), Cafu e Roberto Carlos e, por último, Daniel Alves e Marcelo. Agora o treinador pode pensar em jogadores com perfis mais defensivos, como Danilo ou a improvisação de Eder Militão, ou de articulação por dentro, como o próprio Daniel Alves em fim de carreira. Alex Sandro e Alex Telles oferecem mais a opção de abrir o campo pela esquerda.

A Copa no Catar em novembro possibilita que os atletas cheguem menos desgastados, mas não vai oferecer o tempo que Tite precisaria para treinar essas alternativas que começaram a surgir no ano passado, com o fracasso na Copa América e o título olímpico. É tudo muito recente.

Não tira, porém, a responsabilidade do treinador. Se não há Bolas de Ouro, como de 1994 a 2007, a oferta de talentos é farta como há tempos não se via. Com o adicional de mudanças importantes para grandes clubes, como Raphinha no Barcelona e Antony no Manchester United. A missão é escolher bem e fazer acontecer.