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André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Como Vinícius Jr impactou a temporada dos três melhores técnicos do mundo

Vinicius Junior cumprimenta Carlo Ancelotti após ser substituído  - Soccrates Images/Getty Images
Vinicius Junior cumprimenta Carlo Ancelotti após ser substituído Imagem: Soccrates Images/Getty Images

Colunista do UOL Esporte

31/05/2022 10h50

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- Eu não fiz nada, apenas dei a confiança que tenho que dar a um jogador que tem a qualidade que ele tem.

Palavras de Carlo Ancelotti sobre Vinícius Júnior, logo após a conquista da Liga dos Campeões. A 14ª do Real Madrid, a quarta do treinador italiano e a primeira do brasileiro de 21 anos.

Repetindo o que o italiano já vinha dizendo ao longo da temporada. Elogiando a evolução, o refinamento nos fundamentos, a calma para tomar decisões e exaltando as muitas vezes em que o atacante "levou o time nas costas".

Modéstia de Carleto. Houve um nítido crescimento de Vinicius em todos os aspectos do jogo: físico, técnico, tático e mental. Que passam também pela "liberdade relativa" que gera o espaço para o jovem partir da esquerda e acelerar na direção da meta adversária.

Diferente do que Ancelotti fez com Cristiano Ronaldo quando chegou a Madri para a temporada 2013/14. Considerando o estupendo potencial goleador do português, repetiu o movimento tático de Paulo Bento na Eurocopa 2012.

Com bola, o CR7 na seleção tinha liberdade de circulação, mas partindo da esquerda. Sem bola, se comportava como um segundo atacante, com o ponteiro do lado oposto no 4-3-3 - Nani, no caso daquela equipe - voltando e o meia pela esquerda (Raul Meireles) abrindo para fechar uma segunda linha de quatro.

Na equipe merengue, Bale fazia a volta pela direita e Di María abria pela esquerda. Assim Cristiano Ronaldo ficava livre para brilhar e Benzema era seu fiel escudeiro.

Agora Ancelotti sabia que o momento era de Benzema ser a estrela e Vinicius Júnior o seu parceiro. Mas sem desmontar o 4-3-3/4-1-4-1. Até porque Cristiano precisa estar perto da área rival e Vinicius rende melhor chegando em velocidade, atacando os espaços às costas dos defensores.

Então o posicionamento era mesmo de ponta esquerda, o tempo inteiro. Em jogos fora de casa, com o Real mais acuado, voltava para colaborar sem bola. No Santiago Bernabéu, retorno só até a intermediária e Kroos, Casemiro, Mendy e a cobertura de Alaba que dessem conta do setor. O ponta compensava do outro lado, fosse Asensio, Rodrygo (este um pouco menos) ou Valverde (bem mais defensivo).

Um 4-3-3 "torto" ou um 4-4-2 "assimétrico", mas que privilegiava o talento de Benzema, livre para circular por todo ataque, inclusive pela esquerda se aproximando de Vinicius, que tinha o corredor esquerdo para avançar, principalmente em diagonal. Assim marcou 22 gols e serviu 16 assistências. Constante e desequilibrante, também na conquista de La Liga.

Uma temporada perfeita que consagrou Ancelotti, agora o treinador com mais "orelhudas", além de ser o único a ganhar as cinco principais ligas europeias - Inglaterra com Chelsea, Espanha com Real, Alemanha com Bayern, Itália com Milan e França com PSG.

Mas também impactou nas trajetórias dos outros dois grandes treinadores do futebol mundial. Primeiro colocando Pep Guardiola de joelhos com um drible de corpo em Fernandinho, improvisado na lateral direita do Manchester City, e disparando numa diagonal perfeita para marcar um dos gols que minimizaram os danos do 4 a 3 do time inglês em casa que foi igualado nos épicos acréscimos no Bernabéu, com Rodrygo como protagonista.

- O Vinicius, por exemplo, tem apenas 21 anos, chegou muito novo, recebeu muitas críticas e nesta temporada tem sido fantástico, está na Seleção Brasileira. Às vezes somos rápidos demais para criticar os jogadores. Ele encaixou perfeitamente, joga com regularidade e os números falam por si só, disse Pep antes dos confrontos pela semifinal da Champions.

Sabia o que enfrentaria. Assim como Jürgen Klopp, que só não viveu temporada perfeita com o Liverpool porque, depois das conquistas das duas copas nacionais na Inglaterra, bateu nos dois grandes "tetos" do futebol mundial atualmente: Pep Guardiola nos pontos corridos, e novamente por apenas um ponto, e o Real Madrid na Liga dos Campeões.

Com gol de Vinicius Júnior. Klopp tentou pará-lo com um sistema de marcação que envolvia Alexander-Arnold, Henderson, Fabinho, Konaté e até Van Dijk. Um no setor, um atento na cobertura. Na maioria das vezes, Fabinho cuidando de Benzema, que circulava mais, Konaté em Vinicius e Van Dijk na cobertura. Tudo para evitar a bola nas costas em profundidade.

Muito cuidado com o Vinicius acelerador, mas não com o finalizador. Jogada pela direita de Valverde, escalado mais para auxiliar o meio-campo e permitir que Kroos auxiliasse mais Mendy no combate ao forte setor direito dos Reds, cruzamento e gol do brasileiro às costas de Arnold, já que Konaté cuidava do centro da área. Fatal e decisiva a mais bem-sucedida das duas finalizações no alvo do campeão europeu.

Para tristeza de Klopp, que perdeu sua terceira final de Champions em quatro. Guardiola nem teve essa chance, também sofrendo com a qualidade de Vinicius. E Ancelotti comemorou com seu pupilo, sabendo que também pode ajudar Tite, a quem aconselhou em 2014, ano "sabático" do treinador brasileiro, entregando à seleção em novembro o melhor atacante nascido no país cinco vezes campeão mundial em atividade no planeta.

Hoje não há dúvidas sobre quem está sobrando. Impactando diretamente no mais alto nível do esporte bretão.