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André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Rocha: Paulo Sousa terá que "jantar" muitos preconceitos no Flamengo

Paulo Sousa, técnico do Flamengo, durante o jogo contra o Bangu, pelo Carioca - Gilvan de Souza/Flamengo
Paulo Sousa, técnico do Flamengo, durante o jogo contra o Bangu, pelo Carioca Imagem: Gilvan de Souza/Flamengo

Colunista do UOL Esporte

13/03/2022 09h22

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No atropelo sobre o destemido (e ingênuo) Bangu na volta do Flamengo ao Maracanã com gramado novo, Paulo Sousa mandou a campo sua décima escalação diferente na temporada.

Everton Ribeiro e De Arrascaeta deitaram e rolaram às costas dos volantes adversários e acionaram Gabigol contra a defesa adiantada. Pelos lados, a juventude e a saúde de Matheuzinho e Lázaro para fechar a última linha e ainda buscar o fundo na frente, com rapidez e intensidade.

6 a 0 e poderia ter sido muito mais. Até Léo Pereira marcou gols, dois! Um massacre que dá confiança, faz lembrar Jorge Jesus, que também estreou no estádio com uma goleada marcando seis gols no Goiás. Mas ainda incomoda muita gente pelas rupturas que o treinador português vem promovendo.

Rodar o elenco sempre gerou ruído no Brasil. Ainda que lesões, suspensões, convocações e a prioridade dada a determinada competição façam o rodízio acontecer naturalmente. Jorge Jesus em 2019 tinha uma formação titular muito bem definida, confiava pouco nos reservas e, ainda assim, só escalou o time ideal por oito vezes. O Flamengo que atropelou o Liverpool em 1981 e entrou para a história, com Marinho na zaga, só atuou junto por mais três vezes.

Mas se não definir onze titulares muita gente reclama. No ano passado, Renato Gaúcho tinha muito claro na cabeça o time que escalaria na final da Libertadores. Fez tudo para que estivesse em Montevidéu, mesmo com muitos jogadores longe das condições ideais. Tudo para ver Abel Ferreira, que preparou o Palmeiras por dois meses para encarar justamente aqueles onze, armar a jogada do primeiro gol da partida, explorando um "ponto cego" pela esquerda daquela formação.

Não há fórmula para vencer. Existem escolhas. Paulo Sousa prefere ter uma maneira de jogar e adaptar os atletas. 3-4-2-1 atacando, 4-4-2 defendendo. A escalação vai depender de vários fatores, como adversário, mando de campo, colocação na tabela, condição física, minutos em campo, etc.

Com o futebol tão intenso e estudado, é preciso revezar e surpreender. Foi o que Paulo Sousa fez contra o Bangu e não conseguiu em outras partidas. Vai acertar e errar, mas já está claro que há uma ideia e muito trabalho por trás. Não adianta o Flamengo buscar uma comissão técnica na Europa e esperar práticas de profissionais brasileiros.

Então haverá telão, equipamentos modernos de GPS e tudo que for viável para fazer o melhor trabalho possível. Incrível que ainda exista quem cultue o mal feito com tanto dinheiro envolvido, em nome de um "futebol raiz" que sobrevive apenas na cabeça de saudosistas desconectados da realidade.

A obrigatoriedade do jantar pós-jogo dentro de uma estrutura montada no Maracanã gerou polêmica. Algo que já vinha acontecendo e tem amparo na ciência esportiva, para iniciar a recuperação do esforço logo após a partida, foi tratado como um risco de "perder o grupo". Como se o melhor fosse liberar todo mundo para tomar cerveja e comer alimentos gordurosos.

Parece claro que Paulo Sousa terá que "jantar" preconceitos no Flamengo. O duro é que, na prática, tudo isso será visto como "a chave do sucesso" se a trajetória for vitoriosa ou "o que rachou o elenco" caso os resultados não venham, ainda que por fatores como méritos dos concorrentes ou o próprio acaso que torna o futebol apaixonante. Triste, mas é assim que funciona por aqui.