Mentiroso, Dani Alves deve ser o 1º a pagar caro por desrespeitar mulheres
![Julgamento de Daniel Alves começa em Barcelona Julgamento de Daniel Alves começa em Barcelona](https://conteudo.imguol.com.br/c/esporte/44/2024/02/05/julgamento-de-daniel-alves-comeca-em-barcelona-1707127637341_v2_450x600.jpg)
Lado a lado, na capa do UOL, duas notícias me deprimem pelo mesmo motivo: "Diretoria do Corinthians vai se reunir com organizadas e sugerir nome de Cuca" e "Sócio de boate, em julgamento de Dani Alves: 'Ela queria sair e não podia'".
Ah, um teve sua condenação anulada por questões processuais e o outro não foi condenado ainda. Lá vem você, a juíza que condena como bem entende! Justiceira! Dona da verdade!
Bom, o caso Cuca você pode entender melhor aqui, mas em resumo: ele foi condenado pelo estupro de uma menina de 13 anos e teve essa condenação anulada recentemente porque o julgamento à revelia não é mais permitido na Suíça (na época, réus podiam ser julgados mesmo sem advogados presentes). O mérito não foi avaliado, portanto, ele não foi inocentado.
Daniel Alves está de fato em julgamento e não é ainda um homem condenado por estupro. Mas já sabemos que o lateral levará ao tribunal sua quinta versão sobre o caso. Quinta.
Primeiro, numa entrevista à televisão em janeiro de 2023, ele disse que nem sequer conhecia a vítima. No mesmo mês, em depoimento à polícia, afirmou que nada tinha acontecido e, depois, que ocorrera sexo oral consentido. Em abril, em depoimento à Justiça, admitiu que houvera penetração na relação sexual.
Agora, a estratégia é dizer que Alves estava bastante embriagado.
Enquanto isso, a vítima manteve a sua versão, fez de tudo para permanecer no anonimato e abriu mão de dinheiro a que teria direito, reforçando sua busca por aquilo que mais importa: justiça. Ela, pessoas próximas e funcionários da boate já depuseram, todos reforçando o que indicam a denúncia e as evidências, incluindo imagens da noite em questão.
Ainda assim, há quem diga que se trata de mais uma aproveitadora e quem mandou aceitar convite para área VIP com jogador de futebol. Como se qualquer argumento pudesse justificar um estupro. Como se o "não" fosse relativo — ao contexto, aos envolvidos, ao momento em que é proferido. Como se denúncias falsas ocorressem no mesmo volume que crimes de violência sexual.
Por que a palavra do homem segue valendo tanto? Mesmo diante dos números absurdos de estupro (o Ipea estima que no país ocorram 822 mil por ano, ou quase 2 por minuto) e feminicídio (com 4 por dia, o Brasil ocupa a quinta colocação no ranking mundial de país com mais mortes violentas de mulheres). Mesmo diante de mentiras expostas publicamente?
Mesmo diante de uma vítima que só teve seu nome divulgado pela família do suposto estuprador — a mãe de Daniel Alves expôs fotos da jovem em suas redes sociais — e que nunca quis saber de compensação financeira. Mesmo diante de evidências, como no caso de Cuca, que teve seu sêmen encontrado no corpo da criança estuprada.
A nossa palavra sempre vale menos. O nosso conhecimento. Nossos feitos. Já perdi as contas de quantas vezes fui instada por homens a provar que entendia de futebol, não satisfeitos com o fato de eu dizer que sim, nem com o fato de eu ser contratada por dois dos maiores veículos de comunicação do país para falar de futebol. Sem falar nas vezes em que meus nãos foram atropelados.
É difícil manter a esperança quando o noticiário reflete uma realidade tão torpe. Quando o que está ruim sempre pode piorar.
Daniel Alves deve ser o primeiro de sua estirpe a pagar caro por desrespeitar uma de nós (caso julgado culpado). Oxalá não seja o último.
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