A desculpa de Abel finalmente veio: por que é difícil admitir o erro?
Ontem, na coletiva depois da vitória sobre o Atlético-GO, Abel Ferreira usou uma expressão xenofóbica e completamente cretina para se referir à organização do Palmeiras, dizendo que "não é uma equipe de índios".
Obviamente contestado, respondeu ontem mesmo, pela assessoria de imprensa do clube, que "em momento algum, teve a intenção de ofender alguém" e que "utilizou uma expressão comum no futebol". Em nota, ressaltou: "Vivo e trabalho no Brasil desde 2020 e tenho profundo respeito por todos os brasileiros. As pessoas já conhecem o meu caráter, as minhas condutas e as minhas ações sociais. Sabem também que eu repudio por completo toda forma de preconceito".
Como pode um homem que já foi diversas vezes vítima de xenofobia achar que essa desculpa encerraria o caso, pensar que seria suficiente?
"Não tive a intenção" e "conhecem meu caráter" indicam zero entendimento do problema. Pelo contrário, parecem jogar a culpa sobre quem critica. Já dizer que é uma expressão comum parece uma tentativa de validá-la, como se algo errado dito milhões de vezes se tornasse correto.
Classificação e jogos
Pois bem, hoje, pouco antes das 14h, o reconhecimento finalmente chegou.
"Repudio toda e qualquer forma de preconceito e discriminação. Infelizmente, há expressões que continuamos a perpetuar sem que nos debrucemos sobre o seu conteúdo. Errei ao usar uma dessas expressões na coletiva de imprensa. Reconheço que palavras têm poder e impacto, independentemente da intenção. Devemos todos questionar, pensar e melhorar todos os dias. Peço desculpa a todos e, em especial, às comunidades indígenas."
O comunicado é bom e aponta o cerne do problema. Sim, nossa sociedade está cheia de expressões preconceituosas, misóginas, racistas, homofóbicas, xenofóbicas. Sim, elas podem escapar por hábito, por falta de conhecimento ou noção. Sim, todos erramos. Mas é preciso assimilar que são, de fato, erros. Sérios. Que a intenção pode até figurar como fator, mas que ela não apaga o que foi dito e não exime ninguém de pedir desculpas.
Associar povos indígenas à desorganização é ignorante. Como acontece com expressões preconceituosas, reforça a ideia obtusa de que se tratam de pessoas inferiores, o que carrega repercussões muito sérias no mundo real. Palavras importam, sim. Ainda mais as palavras — e as desculpas — de quem tem tamanha plataforma.
Não basta pedir desculpas. É preciso pedir desculpas rápido e direito. Acima de tudo, é preciso parar de reproduzir esse tipo de besteira.
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