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Aplicativo irá ajudar comunidades da Amazônia a combater ameaças à floresta

Demonstração do app Terra on Track - Imaflora/Divulgação
Demonstração do app Terra on Track Imagem: Imaflora/Divulgação

Juliana Domingos de Lima

De Ecoa, em São Paulo (SP)

28/09/2021 06h00

A região da Amazônia é habitada por diversas populações tradicionais que dependem da manutenção da floresta para exercer suas atividades, como indígenas, quilombolas, ribeirinhos, extrativistas, pescadores artesanais e agricultores familiares. Essas comunidades são diretamente afetadas pelo desmatamento e os focos de incêndio que seguem atingindo níveis elevados em 2021.

Lançado na terça-feira (21), o aplicativo Terra on Track foi desenvolvido por ONGs em parceria com comunidades da região para facilitar o monitoramento do território e a criação de alertas pelos próprios habitantes. A ideia é fortalecer o controle social das áreas para que as ameaças possam ser detectadas mais rapidamente e combatidas.

De início, a plataforma desenvolvida pela ONG Imaflora e Programa SERVIR-Amazônia trará dados do norte do Pará — a partir de fontes confiáveis como a Nasa e o sistema DETER do Inpe — e será utilizada por lideranças que já receberam treinamento sobre suas funcionalidades, em São Félix do Xingu e Alenquer.

Apesar dessa restrição inicial, a ferramenta é aplicável em toda a Amazônia. Segundo Isabel Garcia Drigo, gerente de projetos do Imaflora, a ampliação do uso depende de uma articulação com mais comunidades. Essa conexão com outras populações é um dos próximos passos do projeto, afirmou ela no lançamento do Terra on Track acompanhado por Ecoa.

Segurança ao dar o alerta

O produtor rural Emanuel Batista Silva Castro, diretor da Associação da Casa Familiar Rural de São Félix, também recebeu treinamento e participou dos testes da ferramenta.

Emanuel  - Imaflora/Divulgação - Imaflora/Divulgação
Emanuel Batista Silva Castro, produtor rural e diretor da Associação da Casa Familiar Rural de São Félix
Imagem: Imaflora/Divulgação

"Tem várias práticas ilegais aqui no município, queimadas que devastam muitos hectares, garimpo ilegal", disse a Ecoa. Segundo ele, não havia até o momento uma forma imediata e segura de comunicar as ameaças.

"Se você identificou que está ocorrendo um desmatamento, é muito complicado ir até a sede do município [denunciar], a distância é enorme. E você corre um risco muito grande pela pressão mesmo de quem está fazendo a devastação", afirmou.

Para o produtor, o aplicativo será bastante útil por não colocar em risco os indivíduos que geram o alerta. Segundo o Imaflora, os dados de usuários não serão abertos ao público geral. Cada comunidade terá um login próprio para acessar os dados de sua região.

A organização também tem dialogado com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará para que o aplicativo possa ser usado pelo Programa Territórios Sustentáveis, voltado a promover o desenvolvimento sustentável no campo.

Feedback das comunidades

Os primeiros usuários já deram retorno sobre aprimoramentos a serem feitos no app, como permitir a visualização do mapa em modo offline, funcionalidade importante em uma região onde a conexão à internet não cobre todo o território, e a criação de outros tipos de alerta, para garimpo ilegal e pulverização aérea de herbicidas que muitas vezes prejudica as culturas de pequenos produtores.

Segundo os desenvolvedores, a ferramenta será continuamente testada e aperfeiçoada com a participação das comunidades, de quem partiu a demanda por uma tecnologia do tipo.

"Nós tínhamos solicitado algo que pudesse nos assessorar na defesa dos territórios. Já dá pra perceber que vai ser uma ferramenta muito importante para o monitoramento dos nossos territórios que são tão ameaçados", disse o agricultor familiar e diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares de Alenquer, João Gomes da Costa, em depoimento ao Imaflora.

Segundo ele, o aplicativo permitirá fazer denúncias embasadas em dados, como as coordenadas exatas das áreas desmatadas ou queimadas.

Também participaram da fase inicial de testes integrantes da Associação das Mulheres Produtoras de Polpa de Frutas, formada por agricultoras das comunidades de Maguary, Nereu e Tancredo Neves, na região de São Félix do Xingu.