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Trudruá Dorrico

REPORTAGEM

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Agosto indígena: conheça a animação bilíngue "Txâma Xmabé Puri"

Agosto indígena - Acervo Pessoal/Chirley Pankará
Agosto indígena Imagem: Acervo Pessoal/Chirley Pankará

Julie Dorrico

04/08/2021 06h00

O "Agosto Indígena" é oficial no Estado de São Paulo a partir da Lei 17.311, de 11 de janeiro de 2021. De autoria da deputada Monica da Mandata Ativista (PSOL), o projeto teve participação direta da co-deputada Chirley Pankará, doutoranda em Antropologia Social pela USP e indígena do povo Pankará, que integra o coletivo Mandata Ativista (PSOL), composto no total por sete membros.

O "Agosto Indígena" é uma proposta que busca reforçar a data 9 de agosto, instituída pela ONU como Dia Internacional dos Povos Indígenas, instituído em 1995 para reconhecimento internacional dos povos originários em termos políticos e culturais.

O calendário oficial já reverbera no Estado de São Paulo. A Secretaria Municipal de Educação de São Paulo lançou no dia 02, segunda-feira, na sua página oficial do Facebook que a agenda do mês será voltada integralmente à temática indígena com representantes de vários povos e inúmeras linguagens, com objetivo de conscientização das demandas dos povos indígenas, diversidade étnico-racial e sua relação com a floresta.

Povos indígenas no estado de São Paulo

O último Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2010, sinalizou que a população indígena que habitava o Estado de São Paulo era de 41.794 habitantes no total, sendo 34.831 no espaço urbano e 6.963 em terras indígenas. Nas terras indígenas habitam os povos Guarani Mbya, Guarani, Kaingang, Krenak e Terena, localizados na faixa litorânea, no Oeste do Estado, na região metropolitana da capital.

Na capital há uma diversidade de sujeitos indígenas que vivem na capital ou cercanias, como o artista e ator Juão Nyn, do povo Potyguara; a poeta Jamille Nunes, do povo Parintins; o escritor Daniel Munduruku que vive em Lorena-SP, mas tem forte atuação cultural na capital; a escritora e comunicadora Mayra Sigwalt, descendente Kaingang, entre outros; tais indivíduos geralmente não entram nos censos como indígenas que vivem em contexto urbano.

Animação bilíngue "Txâma Xmabé Puri"

A produção da animação "Txâma Xmabé Puri" é de autoria de Txâma Puri, Tey Xokawa e família, inaugurando o 1º filme de autoria Puri. Bilíngue, traz o Puri, pertencente ao tronco linguístico Macro-Jê, integralmente na narração, e o português na legenda da tradução. O filme conta a história e a resistência linguística Puri através das ilustrações feitas pela família de Chicão Puri, a quem é dedicado in memoriam.

O nome do povo Puri segundo o filme é uma palavra do idioma Coroado que traduz-se como "audaz, ousado". Tem origem no costume dos antigos de realizar ataques surpresas aos seus oponentes. Os territórios dos povos localizam-se na região conhecida hoje como sudeste brasileiro, nos estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo. Denunciando o avanço da colonização, o enredo apresenta a estratégia do Estado de declarar como extinto o povo Puri para apropriar-se de seus territórios tradicionais, bem como a caçada a língua que teve seu uso reduzido a algumas palavras no século XX. A política de Marquês de Pombal (1757) e o incentivo à miscigenação teve ação direta na aparente extinção do povo, que deixou de ter seu nome registrado nos documentos oficiais a partir da década de 30 do século XIX, recrudescendo a invisibilização do povo na história e na memória oficial, porém sem deixar de existir.

O curta com 8 minutos e 8 segundos desvela o projeto de revitalização linguística do povo, uma vez que todo o curta é realizado em língua materna, e ainda o fortalecimento da identidade frente ao racismo brasileiro que busca negar a contemporaneidade aos povos originários.

Artistas Puri

Ao final do curta podemos ver a participação especial da cantora, compositora, percussionista e arte-educadora Siba carvalho Puri. Além dela há a artista e produtora audiovisual Txâma Puri, quem produziu o curta; o pesquisador Diego Carvalho, integrante do projeto Literatura Indígena no Brasil e administrador da página @spliteraturaindigena no Instagram; a escritora e integrante do projeto Leia Mulheres Indígenas no Instagram, Paola Vilela, descendente Puri; as escritoras e poetas Aline Rochedo Pachamama e Zélia Puri que escrevem sobre seus territórios e identidades, e também se empenham na revitalização da língua materna.

A aparente extinção dos povos originários, contestado pelo povo Puri e outros, mostra que a resistência indígena é persistente, e que os povos têm cada vez mais desmistificado o mito da democracia racial. O "Agosto indígena" é um dos exemplos de como o Estado-nação pode promover e fortalecer a diversidade dos povos originários que historicamente tentou extinguir.

Saiba mais

Lei que institui o "Agosto Indígena": Lei n° 17.311, de 11/01/2021 ( Lei 17311/2021 )

Perfil do Instagram Chirley Pankará: Chirley Pankará (@chirleypankara)

Perfil do Instagram de Txâma Puri: Txâma Puri Teyxokawa (@txamapuri)

Perfil do Instagram de Siba Puri: Siba Carvalho Puri (@sibacarvalho)

Perfil do Instagram de Aline Rochedo Pachamama: Aline Rochedo Pachamama (@alinerochedopachamama)

Perfil do Instagram de Zélia Puri: Zélia Balbina Puri (@zeliabalbina)

Perfil do Instagram de Paola Vilela: Makeup depois dos 30 (@loladepoisdos30)

Literatura Indígena de São Paulo: Literatura Indígena SP (@spliteraturaindigena)