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Trudruá Dorrico

REPORTAGEM

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'Oralidade tem força grande': cresce o protagonismo indígena na literatura

Daniel Munduruku na Feira do Livro de Frankfurt, em 2013 - Johan Visbeek/Wikimedia Commons
Daniel Munduruku na Feira do Livro de Frankfurt, em 2013 Imagem: Johan Visbeek/Wikimedia Commons

Colunista de Ecoa, em Paris (França)

19/04/2023 06h00

Nos últimos anos, vimos a literatura indígena tornar-se cada vez mais procurada. Em parte pela própria atuação dos escritores indígenas na defesa da autoria e direitos de falar por si mesmos; por outro lado, porque os temas abordados em obras de autoria indígena denotam conhecimentos agroecológicos, bem viver, saúde, culturas, e o inevitável modo de vida indígena na preservação dos biomas, que beneficiam não só a espiritualidade indígena, mas sobretudo, o equilíbrio ecológico na terra.

Pensando nessa conjuntura, a editora Moderna irá lançar, até o fim deste ano, cinco novos livros de literatura indígena, escrita por sujeitos indígenas.

Antologia organizada por Kaká Werá

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Kaká Werá
Imagem: Divulgação

Entre as obras com lançamento previsto para o primeiro semestre de 2023 estão "Apytama - Floresta de histórias", organizado pelo autor Kaká Werá, que apresenta um território de imagens e conceitos que traduzem a identidade e a consciência de pertencimento de uma cultura plural, cujos valores principais apontam para o cuidado com a natureza, com as diferenças, com o poder e com o reconhecimento da memória como portadora de saberes. A obra, voltada para o público juvenil, oferece em poemas, ensaio, crônicas e contos uma reflexão sobre a relação entre a natureza e o ser humano. Dessa Apytama, eu participo.

No segundo semestre, também no segmento de literatura infantojuvenil, a editora Moderna prevê o lançamento de "A Mãe Terra e o Bem Viver", de Ademario Ribeiro Payayá; "Terra, rio e guerra - a sina de um curumim", de Cristino Wapichana e "Poemas para curumins e cunhantãs", de Tiago Hakiy.

"A literatura indígena estar presente, principalmente nos meios escolares e espaços de aprendizado, é de vital importância, pois é por meio da literatura que se pode conhecer a alma de uma cultura, de um povo. E, por meio da alma, vem toda uma visão de mundo que nos permite, consequentemente, eliminar a ignorância em relação ao outro. Daí, nasce o respeito à diversidade e abre-se a possibilidade de aprendizados novos, diversos", afirma Kaká Werá, autor de "Menino-Trovão", livro de catálogo da Moderna que conta a história de um menino tupi que teria sido o primeiro habitante da Terra. A obra recebeu o prêmio "Selo Cátedra 10 Unesco", na edição de 2022. O prêmio será entregue em 18 de abril na PUC do Rio.

"Na cultura indígena, a oralidade tem uma força muito grande e nós temos conquistado novos espaços, buscando dominar a literatura, a palavra escrita, para compartilhar nossos saberes, nossa cultura com cada vez mais leitores", acrescenta Daniel Munduruku, autor paraense e indígena da etnia Munduruku.

Doutor em educação pela Universidade de São Paulo (USP), com pós-doutorado em Linguística pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Daniel Munduruku é hoje uma das mais importantes vozes da literatura indígena no Brasil e acumula dois prêmios Jabuti, além de outros tantos prêmios no Brasil e no exterior.

Possui mais de 50 livros publicados, dois deles pela editora Moderna ("Antologia de contos indígenas de ensinamento - Tempo de histórias" e "Crônicas indígenas para rir e refletir na escola"), além de "Estações", com ilustrações de Marilda Castanha, também previsto para sair este ano.

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