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Trudruá Dorrico

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Mas e depois do Dia do Índio?

Visibilidade Indígena - Reprodução/Instagram Visibilidade Indígena
Visibilidade Indígena Imagem: Reprodução/Instagram Visibilidade Indígena

Julie Dorrico

28/04/2021 06h00

Educadores, comunicadores, políticos, influencers e artistas indígenas fizeram diversas ações no mês de abril com o objetivo de endossar as pautas antirracistas que desumanizam os povos originários no Brasil. O especial "Falas da Terra", transmitido na Globo, destacou o protagonismo indígena em diferentes regiões do país; e a lucidez do intelectual Ailton Krenak, no programa Roda Viva, reiterou a importância das lutas contra o agronegócio, a mineração e as atividades extrativistas ilegais.

Mas, e depois do Dia do Índio? Esta é uma pergunta feita pela página do Instagram Visibilidade Indígena (VI), que propõe a descolonização da educação brasileira no cotidiano. Às atividades consecutivas no calendário escolar e cultural indica, nesse sentido, uma abordagem alinhada às relações étnico-raciais que envolvem o reconhecimento da pluralidade de povos no território nacional; a erradicação dos termos "índio" e "tribo", tema que você pode revisitar aqui na minha matéria A teoria e a literatura indígena na educação: outras formas de nomear; e a necessidade dos brancos e não indígenas inteirarem-se da pluralidade linguística e cultural nativa.

Junto à indicação do perfil Visibilidade Indígena ressalto também o Instagram da Apib (Articulação dos Povos Indígenas no Brasil), perfil político que atua em defesa dos direitos originários territoriais, educacionais e sanitários. Durante esta pandemia, da covid-19, podemos acompanhar o compromisso social no enfrentamento à vulnerabilização das sociedades indígenas agravadas pela paralisação das atividades econômicas e fragilidade da saúde. No perfil, vemos a participação de mulheres como Célia Xakriabá e Sônia Guajajara, que são lideranças engajadas na valorização das temáticas e produções audiovisuais femininas.

O terceiro perfil que gostaria de indicar para ser acompanhado ao longo do ano é o Instituto Uka - Casa de Saberes Ancestrais, Selo Editorial e OSCIP especializada na temática indígena para a cultura e educação, do escritor e intelectual Daniel Munduruku. Você pode acessar o perfil aqui: Instituto Uka. Além de trazer as atividades culturais promovidas pelo Instituto, também divulga as ações do artista, como reunir educadores indígenas e não indígenas no fomento à uma educação diferenciada no país.

Uka - Reprodução/UKA - Reprodução/UKA
UKA
Imagem: Reprodução/UKA

Tamoios e Curumim: dois concursos para ficar de olho

A Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), em parceria com o Instituto Uka, e ainda sob apoio da Livraria Maracá, divulgam dois concursos que buscam incentivar a produção literária para crianças e jovens e a leitura da temática indígena na sala de aula. Assim, estão abertos para inscrição, até 30 de junho de 2021, conforme cada regulamento, o 17º Concurso Tamoios FNLIJ/UKA 2021 de Textos de Escritores Indígenas, este dirigido aos sujeitos indígenas exclusivamente; e o 17º Concurso Curumim FNLIJ/UKA 2021 de Leitura de Obras de Autores Indígenas, voltado a educadores/as que trabalham a temática indígena na sala de aula da rede básica.

Você pode acessar os editais de ambos os concursos neste link Concursos literários - Livraria Maracá. Operando de modo remoto, a FNLIJ e o Instituto Uka adequam esta atividade à plataforma digital, após consideraram esta adaptação a melhor forma para a realização da atividade, que foi cancelada no ano passado, e que costumava ser presencial integrando o tradicional Salão do Livro na cidade do Rio de Janeiro.

Fortalecendo as relações étnico-raciais

Guerreiras - Reprodução/Instagram Associação das Guerreiras Indígenas de Rondônia - Reprodução/Instagram Associação das Guerreiras Indígenas de Rondônia
Associação das Guerreiras Indígenas de Rondônia
Imagem: Reprodução/Instagram Associação das Guerreiras Indígenas de Rondônia

Os perfis Visibilidade Indígena, APIB, Instituto Uka são fundamentais para a continuação das reflexões nos debates étnico-raciais durante o calendário acadêmico. Para além deles, acredito ser fundamental aproximar-se de associações indígenas e indigenistas que tratam das pautas indígenas no seu respectivo território, para o conhecimento e aproximação das lutas que mobilizam os povos indígenas na sua cidade ou estado, que, via de regra, são invisibilizadas. Eu moro no norte do Brasil, estado de Rondônia. Aqui a AGIR, Associação das Guerreiras Indígenas de Rondônia busca fortalecer a luta das mulheres indígenas nos territórios e por direitos, gerando emprego através do artesanato e cultura. Seu Instagram pode ser acessado aqui Somos a AGIR. Também, a Associação de Defesa Etnoambiental, a Kaninde Brazil, atua na defesa dos povos indígenas da Amazônia. Com sede na capital, Porto Velho, fortalece comunidades aldeadas e indígenas em contexto urbano. A Kaninde pode ser encontrada aqui KanindeBrazil.

Sinalizei esses dois perfis de modo mais local para que esse exemplo possa ser tomado pelos educadores de outros estados brasileiros, com vistas a uma aproximação real dos povos indígenas na educação e na cultura, para que saibam que a diferença indígena não se define à imagem genérica que a colonização brasileira construiu, mas é plural, e está presente todo o ano, antes e depois do dia do índio.