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Negócio furado: falso leilão e outras ciladas ao comprar e vender seu carro

A internet virou terreno fértil para a ação de golpistas em negociações de compra e venda de carros; veja as novas táticas dos criminosos e previna-se - Juca Varella/Folha Imagem
A internet virou terreno fértil para a ação de golpistas em negociações de compra e venda de carros; veja as novas táticas dos criminosos e previna-se
Imagem: Juca Varella/Folha Imagem

Alessandro Reis

Do UOL, em São Paulo (SP)*

21/11/2022 04h00

A internet e as redes sociais tornaram mais fácil negociar produtos de todos os tipos, incluindo veículos. Hoje, é possível iniciar a negociação de um carro diretamente do sofá de casa, mas juntamente com esse conforto vem o risco de ser enganado.

Estelionatários se adaptaram aos novos tempos e criam a todo momento novas modalidades de golpe, cada vez mais sofisticadas, para embolsar o dinheiro e até o próprio automóvel de pessoas bem-intencionadas.

A todo momento surgem relatos de vítimas desses criminosos, que inclusive costumam agir com o apoio de comparsas.

Quando se trata de carros, o prejuízo pode ser enorme. Por isso, reunimos três exemplos de fraudes recentes e orientações para você se precaver e não ser enganado.

Venda de carros clonados

Carros clonados apreendidos pela Polícia Civil de SP, cujo valor varia entre R$ 87 mil e R$ 150 mil - Divulgação - Divulgação
Carros clonados apreendidos pela Polícia Civil de SP, cujo valor varia entre R$ 87 mil e R$ 150 mil
Imagem: Divulgação

Esse esquema vende carros clonados na internet. Para enganar os compradores, documentos são adulterados, dando a falsa impressão de legalidade ao negócio.

Em setembro, a Polícia Civil de São Paulo desmantelou uma quadrilha especializada nesse tipo de fraude. Na ocasião, o 56º DP (Vila Alpina) apreendeu 12 veículos clonados que haviam sido vendidos por criminosos com o auxílio de documentação falsa.

Funciona assim: documentos são forjados forma que os números dos chassis e as placas dos carros clonados constassem em laudos falsificados.

O esquema foi descoberto quando o comprador de um desses veículos foi reconhecer firma em um cartório. Naquele momento, ele descobriu que o documento entregue na compra era falso e procurou a polícia.

O comprador teve de devolver o veículo comprado - produto de crime - e perdeu os R$ 95 mil que pagou por ele.

Para não cair em nesse golpe, a polícia orienta a não aceitar laudos prontos no momento da compra de um veículo. A recomendação é pedir que o vendedor providencie um novo laudo, com a presença do comprador, em empresa de supervisão.

Outra recomendação é de que, no momento do reconhecimento de firma, o vendedor também vá ao cartório, para que a sua assinatura seja verificada.

Somente feche negócio após o reconhecimento da assinatura e nunca faça depósitos em contas bancárias em nome de terceiros.

Falso leilão

Leilões da Receita Federal nunca são feitos por meio de sites de terceiros e com transferência bancária - Pixabay - Pixabay
Leilões da Receita Federal nunca são feitos por meio de sites de terceiros e com transferência bancária
Imagem: Pixabay

Comprar veículos em leilões pode ser uma boa oportunidade para pagar menos por bons produtos, mas é preciso ficar atento para não ser enganado.

A Aleoesp (Associação de Leiloeiros Oficiais do Estado de São Paulo) identificou, desde 2019, 2.099 sites de leilões falsos. Em 2021, foram relatados 1.063 endereços eletrônicos de leilões fraudulentos, mais do que o dobro do que havia sido descoberto em 2020: 510.

Essas páginas utilizam os nomes de Detrans, bancos, juntas comerciais e leiloeiros oficiais para trapacear compradores.

De acordo com a Polícia Civil de São Paulo, o aumento desse tipo de crime tem relação direta com o comportamento do consumidor, que cada vez mais faz compras pela internet.

As quadrilhas têm até endereço comercial e equipes de call center, informa a polícia. Nesse esquema, criminosos expõem fotos de carros com valores abaixo do mercado. Quando surgem pessoas interessadas, começa uma teia para forjar a legalidade.

A vítima passa por vários trâmites, como ligações para fazer cadastro. No fim, é pedido um depósito ou transferência de dinheiro.
Após o depósito, o "leiloeiro" golpista informa o endereço para entrega do carro, que é falso.

Em São José dos Campos (SP), uma mulher perdeu R$ 30 mil pensou ter arrematado uma moto em leilão. Segundo a vítima, uma pessoa da empresa falsa entrou em contato por telefone para ajudá-la com os trâmites.

No Paraná, um professor perdeu R$ 41 mil na compra de um carro, e só percebeu a fraude ao chegar para buscar o carro em um endereço falso.

A Receita Federal esclarece que não realiza leilões em sites privados e o único canal disponível é o Sistema de Leilão Eletrônico, acessado via site oficial da instituição O sistema está disponível no Centro Virtual de Atendimento ao Contribuinte (e-CAC) para realização de propostas e lances.

Além disso, é exigida assinatura digital e pagamento é feito por meio de Darf (Documento de Arrecadação de Receitas Federais), semelhante a um boleto, e nunca mediante depósitos ou transferências para contas de terceiros.

Quando se trata de pregões realizados por leiloeiros oficiais, autorizados pela Junta Comercial, um cuidado a mais pode ser tomado. A Aleoesp disponibiliza uma lista com nomes, telefones e sites desses profissionais no endereço https://www.aleoesp.org.br/home/LeiloeirosBR. E alerta para que o cidadão nunca faça depósitos em contas que não estejam ligadas ao CPF de um leiloeiro oficial, presente na lista acima.

Anúncio clonado

Tenha muito cuidado ao negociar veículos em ambientes virtuais para não ser passado para trás - Getty Images - Getty Images
Tenha muito cuidado ao negociar veículos em ambientes virtuais para não ser passado para trás
Imagem: Getty Images

Também existem quadrilhas especializadas em enganar vendedores de boa-fé que anunciam seus carros em sites especializados. É o caso do anúncio clonado, que deixa no prejuízo o vendedor e o comprador do veículo.

No golpe do anúncio clonado, um estelionatário recebe o dinheiro do veículo no lugar do vendedor. Para começar, um bandido copia dados e fotos de um anúncio real e cadastra o carro em um site de vendas, normalmente, com preço bem atrativo.

Quando alguém é atraído pelo falso anúncio do veículo e entra em contato com o criminoso, solicitando mais informações, o golpista diz que o carro pertence a um parente e que está intermediando o negócio, em troca de uma comissão.

A partir de então, o estelionatário entra em contato com o real proprietário do veículo, finge que pretende adquiri-lo, mas afirma que mandará um terceiro para fazer vistoria presencial.

Nessa hora, é normal que o criminoso conte alguma história para que as duas vítimas (dono do veículo e comprador interessado) não comentem sobre valores no encontro.

Caso o comprador decida ficar com o veículo, ele avisa ao golpista que vai fechar negócio, fazendo a transferência da quantia via celular para a conta bancária que o bandido tinha fornecido.

O golpista, então, entra em contato com o vendedor e diz que seu representante gostou do carro e pede para aguardar, pois fará o depósito.

O desfecho do crime pode ser diferente em cada caso. Via de regra, o golpista não transfere o valor ou deposita um envelope vazio. Quando o dono do carro percebe que se trata de um golpe, fica o mal-estar para ver de quem vai arcar com o prejuízo.

Segundo o Procon-SP, a melhor forma de evitar esse tipo de golpe é não negociar veículos online.

Já a Polícia Civil recomenda que, ao realizar uma transação, a pessoa marque encontro em local público, como o estacionamento de um shopping, para evitar roubos.

Se você cair em um golpe, o primeiro passo é entrar em contato com o banco para bloquear o valor gasto. Contudo, em muitos casos, não há como recuperar o dinheiro, pois o criminoso rapidamente o direciona para outras contas.

O site de compra e venda OLX afirma que, para evitar golpes na hora de vender um veículo, é importante jamais entregar o carro sem verificar se o pagamento foi identificado pelo banco.

Outra recomendação é negociar o carro diretamente com quem vai comprar, evitando conversar com terceiros. Se a proposta vier de lojas de seminovos, é necessário checar o CNPJ e a legalidade de funcionamento do estabelecimento.

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* Com informações da colunista Paula Gama