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Toyota busca SUV alternativo para encarar Honda HR-V: "C-HR é muito caro"

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em Tóquio (Japão)

26/10/2017 03h59

A Toyota usa o Salão do Automóvel de Tóquio para mostrar como o Japão é avançado: o público das Olimpíadas de 2020 só chega em dois anos, mas o novo táxi japonês (JPN Táxi) e o novo sedã grande preferido de motoristas locais (Crown) já estão prontos, assim como um ônibus inteligente movido a célula de hidrogênio que usa câmeras para deixar os passageiros seguros (Sora Bus). Há ainda conceitos de transportes que só vão dar certo em cinco, dez ou vinte anos. Mas nada disso serve para o Brasil, assim como o C-HR também não parece servir -- são todas soluções de transporte "muito caras", diz a Toyota.

Qual a solução, então? O chefão da marca para América Latina e Brasil, Steve St. Angelo, conversou com UOL Carros e afirmou: "Olhe menos para o Salão de Tóquio, tenha um pouco de paciência e preste atenção no próximo Salão de São Paulo". O evento ocorre daqui a um ano, mas o executivo está confiante: "Será o melhor momento da Toyota no Brasil, vamos surpreender a todos". Um dia depois, ainda no Salão de Tóquio, o executivo reiterou: "Há coisas muito interessantes no estande da Daihatsu".

Essa é a deixa.

Ok, a marca é líder absoluta do segmento de sedãs médios com o Corolla (vende mais que o dobro do segundo colocado e ainda figura ao lado de carros pequenos no topo do ranking de modelos mais vendidos). Também é dona da preferência quando o assunto é picape média (ainda que de forma apertada, a Hilux vende mais que a rival Chevrolet S10). Só que entre carros compactos e SUVs, ela está defasada.

Seu Etios demorou anos para ter curso (e nível de equipamentos) corrigidos, enquanto não se vê qualquer alternativa a modelos como Honda HR-V, Jeep Renegade e Jeep Compass no horizonte. Muito se falou, inclusive aqui em UOL Carros, sobre o uso do C-HR como rival perfeito ao HR-V, mas St. Angelo faz careta e discorda:

"A imprensa chama o carro de SUV, mas ele é um crossover tecnológico e apertado demais no banco de trás". Segundo o executivo, poderia ser usado como um carro de estilo, sobretudo com motor híbrido (com chance de ser flex), mas ainda assim seria "caro demais" para o país.

Toyota TJ Cruiser no Salão de Tóquio 2017 - Eugênio Augusto Brito/UOL - Eugênio Augusto Brito/UOL
Toyota TJ Cruiser no Salão de Tóquio 2017: "robustão", espaçoso, mas ainda cru...
Imagem: Eugênio Augusto Brito/UOL

De olho nos outros

St. Angelo deu a deixa porque sabe que a marca precisa de um SUV para chamar de seu e disse que soluções podem sair de conceitos. A própria Toyota mostra em Tóquio o TJ Cruiser que é, nas palavras dos próprios engenheiros, um "caixa de ferramentas sobre rodas".

Mas o carro ainda está cru: "quadradão", tem cara de carro forte e passa a ideia de um modelo robusto e espaçoso -- mas também é, convenhamos, bem estranho. A plataforma é a mesma TNGA do Prius e do próprio C-HR, ou seja, também guarda espaço para versão híbrida. EUA, Europa, China e outros países que não se "dariam bem" com o C-HR são alvos do TJ.

"Serve para o Brasil? Talvez", afirma St. Angelo. "Mas é apenas um conceito, ainda vamos medir as reações dos consumidores, por isso vamos mostrá-lo em salões. Eu também ficaria de olho também nos conceitos da Daihatsu, tem muita coisa boa saindo dali", completou o executivo.

Essa deixa aponta diretamente para o DN Trec, o carro da foto que abre esta reportagem: com o mesmo tamanho do Honda WR-V, porém mais alto e com visual mais interessante, o DN Trec usa a plataforma DNGA (uma versão de baixo custo da TNGA), tem espaço para cinco ocupantes e prevê motores 1.0 turbo ou 1.5 híbrido.

"A marca vai fornecer soluções para diversos mercados emergentes", aponta o chefão da empresa, dando pistas de que o modelo precisaria de alterações para o Brasil -- e que, portanto, ainda se trata de um estudo para nós.

Que alterações? Principalmente de motor: "Aqui no Japão, ele foi pensado para usar motores menores e até mesmo híbridos. Tudo precisaria ser homologado no Brasil, como fazemos com qualquer tipo de motor que já usamos".

"Claro, qualquer solução desse tipo ainda precisa ser estudada e ele usaria a marca da Toyota, não da Daihatsu", conclui o executivo.

Em enquete rápida no Instagram de UOL Carros, empate: metade de nosso público achou que o Daihatsu faria sucesso no Brasil, metade achou que não. 

Steve St. Angelo presidente Toyota - Eugênio Augusto Brito/UOL - Eugênio Augusto Brito/UOL
Steve St. Angelo, chefão da Toyota para América Latina, é reconhecido pelo bom senso de humor
Imagem: Eugênio Augusto Brito/UOL

Confirmados

Há algo de concreto, então? St. Angelo abre um sorriso e fala do Yaris: "temos grandes planos para esta família, coisas que nunca pudemos fazer com o Etios.

Segundo o executivo, a base do Yaris vai permitir ir além do hatch e do sedã, que chegam a partir do segundo semestre do próximo ano. "Veja nosso conceito feito com o Yaris atual com a [divisão esportiva] Gazoo", afirma, fazendo referência ao carro de rali com mais de 260 cv. "São possibilidades incríveis e podemos ter versões e modelos especiais que servem ao Brasil, como nunca pudemos ter antes".

Fizemos a pergunta lógica: há chance de se fazer um SUV do Yaris? "Não sei se propriamente um SUV, mas um veículo especial", respondeu. Um Yaris aventureiro, talvez? "Algo de que os brasileiros gostam, você verá, vamos surpreender", despistou.

Por fim, UOL Carros perguntou sobre o Prius e sua nacionalização. St. Angelo diz que sairá do papel, mas apenas na próxima geração. Não é algo muito distante (deve acontecer apenas em quatro ou cinco anos)? "É? Então mostraremos algo com motor híbrido flex antes", concluiu com uma sonora gargalhada. "O próximo Salão de São Paulo será fantástico."

*Viagem a convite da Anfavea