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Brasil ganha carro eletrificado que roda na estrada sem recarga

Haval H6 é a aposta da GWM iniciar suas operações no Brasil - Divulgação
Haval H6 é a aposta da GWM iniciar suas operações no Brasil Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

12/12/2022 04h00

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A autonomia ainda é um problema para carros 100% elétricos, especialmente em países de dimensões continentais, como Estados Unidos e Brasil. Nos EUA, que estão mais próximos da eletrificação que nosso país, o desafio de concessionários é convencer o cliente a trocar um veículo que faz 800 km por tanque por um que roda 400 km por recarga.

Isso considerando que recarregar um elétrico é um processo mais complexo e demorado do que simplesmente encher o tanque de combustível. Nesse contexto, os híbridos surgem como uma boa transição entre um mundo e outro.

Mesmo no Brasil, a demanda pelos híbridos está alta. Pessoas que compram carro acima de R$ 250 mil já estão procurando por automóveis com auxílio da eletrificação. O objetivo? Rodar no modo elétrico na cidade e, quando precisar percorrer longas distâncias, utilizar o a combustão.

Parece mesmo o mundo ideal. O problema é que, na estrada, o híbrido, em termos de economia de combustível e emissões de poluentes, é praticamente um carro a combustão normal, pois sua autonomia dificilmente passa dos 40 km. Além disso, muitos clientes acabam usando esse tipo de carro sem utilizar a bateria.

Razão? No método WLTP, usado pela maior parte das montadoras, especialmente as europeias, a autonomia elétrica média de um híbrido, na teoria, é de 50 km. Na prática, não é.

A autonomia elétrica fica entre 10% e 30% abaixo do WLTP. Em uma cidade como São Paulo, de longas distâncias, o proprietário de um híbrido tem de recarregar sua bateria diariamente, ou uma vez a cada dois dias. Esquecer, ou abandonar a prática, não é incomum.

Muitas vezes, o cliente do carro híbrido acaba usando o produto, mesmo na cidade, como um carro a combustão. As paradas no posto de combustível se tornam tão comuns quanto antes. E é aí que a Great Wall Motors (GWM), que começa a produzir veículos no Brasil em 2024, surgiu com uma proposta inteligente.

Ainda é apenas uma proposta. Mesmo. O teste que a coluna fez com o primeiro carro da marca, o Haval H6 (chega no início de 2023, importado da China), foi de 10 km na cidade do Rio de Janeiro. Trecho que não permitiu comprovar se a promessa da marca é realidade. Isso só saberemos em uma avaliação de pelo menos uma semana, rodando sem limites.

A proposta do Haval H6

O Haval H6 é um híbrido plug-in com dois motores elétricos, um dianteiro e um traseiro. Os modelos híbridos geralmente têm apenas um propulsor a eletricidade.

Com bateria de 34 kWh, ele promete autonomia elétrica de 170 km, bem acima da média. Isso em um ciclo que, segundo a GWM, é mais condizente com as condições brasileiras. No WLTP, são 184 km.

Claro que, com uma curta avaliação, não dá para saber se a autonomia do Haval H6 é o que promete. Mas, com dois motores e essa capacidade de bateria, ficará de fato acima da média.

Rodar 170 km já reduz bastante a necessidade de recargas, mesmo em uma cidade como São Paulo. Ela pode ser feita, dependendo do uso, semanalmente. Mas não é apenas esta a grande sacada do Haval H6.

Elétrico ou híbrido?

Em carros híbridos, o motor a combustão é o principal e o elétrico, o auxiliar. O Haval H6 propõe inverter a lógica. Ele se alimenta, conforme a GWM, dos propulsores a eletricidade.

O motor a gasolina (não há flex) é o auxiliar. Para isso, há um terceiro propulsor elétrico, que funciona como gerador. Sua função? Alimentar o propulsor a bateria.

Por isso, são os motores elétricos os carros-chefes na hora de tracionar as rodas. Há poucas situações em que o a combustão desempenha essa função. Uma delas é acima de 140 km/h.

Outra é na estrada, em velocidades altas por longos períodos sem recarga na tomada. Nesse caso, o gerador não será capaz de garantir autonomia para tracionar as rodas.

Na cidade, o motor a combustão só entrará em ação, como auxílio, em acelerações muito fortes, dessas de pé fundo no pedal direito. Essas razões fazem a promessa do Haval H6 bem inteligente para um país de dimensão continental.

Na teoria, ele é realmente dá ao cliente a experiência de um carro elétrico no dia a dia. O propulsor a combustão tem apenas o papel de eliminar as inseguranças em uma viagem.

Vale ressaltar que os elétricos atualmente têm boa autonomia, e já há carregadores nas estradas do Brasil. Mas, além de a recarga demorar bem mais que o reabastecimento, muitas vezes essas estações não estão funcionando, entre outros entraves.

Detalhes sobre o Haval H6

A GWM comprou a fábrica da Mercedes-Benz em Iracemápolis, no interior de São Paulo. O primeiro produto brasileiro chega em 2024, e será uma picape. O Haval H6, que será lançado no início de 2023, virá da China.

O SUV médio será nacional? A GWM ainda não definiu isso. Tudo dependerá da reação do consumidor. Por ora, a marca informa que ele concorrerá com Compass, Corolla Cross, Tiggo 8 e Taos. E terá preços semelhante.

O Compass flex mais caro, Série S, custa R$ 225 mil. Já o Tiggo 8, que também é híbrido, sai por cerca de R$ 280 mil.

O Haval H6 tem 393 cv. A potência é combinada entre os dois motores elétricos e o gasolina. A GWM não os divulgou separadamente, nem o torque máximo.

O 1.5 turbo é só a gasolina. A GWM pretende, no entanto, desenvolver motores flex, para combiná-los a elétricos. Isso porque todos os modelos da marca terão eletrificação.