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Jorge Moraes

REPORTAGEM

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Foco nos elétricos: presidente da GM aponta o futuro da montadora no Brasil

Santiago Chamorro, presidente da GM América do Sul - Jorge Moraes
Santiago Chamorro, presidente da GM América do Sul Imagem: Jorge Moraes

Colunista do UOL

06/08/2022 04h00

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Sorriso estampado no rosto, Santiago Chamorro, 51 anos, voltou no tempo quando, de carona comigo, mostrou a casa do tipo townhouse, daquelas coladas uma na outra, onde morou há exatos 27 anos em Birmingham, cidade localizada no estado americano de Michigan, no Condado de Oakland.

Escrevemos do charmoso e pacato destino, de onde Chamorro apontou para o antigo lar e disse: "foi aqui que tudo começou".

Suspirou, sorriu de novo e tirou a foto no celular. Trouxe uma nova memória. De lá para os dias de hoje, o presidente da General Motors América do Sul desde 31 de agosto de 2021 trouxe a alegria de volta para a empresa.

Antes de chegar ao Brasil, atuava como vice-presidente da GM Global Connected Services (2016-2021) em Detroit. Mas lembro que o colombiano, de alma brasileira, já foi presidente e diretor-gerente da General Motors do Brasil (2013 a 2016), vice-presidente regional de vendas, marketing e pós-vendas da América do Sul (2012-2013). Nos Estados Unidos foi gerente de vendas e marketing, diretor de vendas e espalhou empatia por onde andou.

Chamorro, para quem não sabe, nasceu na Colômbia, é formado em economia e pós-graduado em Finanças pela Universidad de Los Andes em Bogotá. Se me perguntam se ele conhece Shakira, digo que a cantora pop deve conhecê-lo também, diante da sua popularidade. Acompanhe o nosso descontraído papo com o executivo.

JM - Como o senhor enxerga a nova GM no Brasil?

SC - A GM está se transformando, estamos virando uma empresa de plataformas tecnológicas, acima dos nossos negócios já tradicionais e industriais. Isso significa abraçar o futuro dos veículos elétricos na região da América do Sul.

Assim como os carros conectados que trazem várias possibilidades em matéria de serviços e de softwares para os nossos clientes. E obviamente avançar nas marcas que já possuímos na nossa região, como Onix, Tracker, S10 e Montana.

JM - O governo como "sócio das montadoras", leia-se diante da alta carga tributária, consegue ser mais flexível diante desse novo momento dos carros elétricos?

SC - Nós temos uma possibilidade na América do Sul em geral de virarmos um polo importante em matéria de eletrificação. Temos minérios na região, no Brasil, no Chile e na Argentina. Contamos também com um centro de tecnologia e engenharia.

No caso da GM, com a nossa tradição de 97 anos de industrialização no país, nos leva a pensar que esse futuro de abraçar os veículos elétricos entrando em discussão o processo de industrialização é totalmente possível. Mas tenho que dizer que é um quebra-cabeças grande e difícil que precisa do apoio de todos.

Digo governo, obviamente dos estaduais e municipais, dos consumidores e dos nossos parceiros concessionários e fornecedores para abraçarmos essa transição em torno dos veículos elétricos.

JM - Em Detroit percebemos uma conexão direta com a GM América do Sul. O polo automotivo brasileiro também, de uma forma mais aberta. Novos produtos elétricos estão surgindo e já anunciados. Quais são as chances reais diante do novo Cadillac estrear no mercado brasileiro?

SC - Você fala de algumas realidades que na minha opinião são humanas e universais. Na nossa região, no Brasil em particular, nós temos consumidores que procuram o luxo e a sofisticação de um modelo como este (estamos a bordo do SUV Escalade).

Vejo com os veículos elétricos, no futuro, a possibilidade de encontrar novos negócios, segmentos onde hoje nós não estamos presentes. Nada que eu possa anunciar hoje.

JM - A Cadillac seria uma marca que você desejaria no Brasil?

SC - O segmento de luxo representa mais ou menos 2,5% do mercado total. Não é muito grande, mas são cerca de 130 mil unidades que todos os anos, de forma bastante resiliente ao ciclo econômico, se mantém, nesse nicho. Hoje nós não estamos aí, mas amanhã... Por que não?

JM - A Chevrolet deixou de ser uma marca de Celtas, passou a ser mais qualificada. O Onix está aí mostrando isso, assim como o Tracker. O que esperar da Montana que está chegando no próximo ano?

SC - A fábrica está ficando pronta, nós já estamos produzindo nossos primeiros protótipos na planta. Está tudo ficando no ponto para termos um lançamento no começo do no ano que vem.

Ela vem com surpresas super interessantes em matéria da utilização inteligente do espaço interior, do conforto para as pessoas que estão dentro da cabine e uma caçamba que vem com novidade e inteligência com todos os insights e requerimentos que os nossos consumidores nos falaram que precisavam. Estamos felizes de agregar à família Chevrolet.

JM - Que balanço o senhor faria das suas plantas no mercado brasileiro?

SC - Hoje estamos operando com dois turnos, depois do ano passado quando ficaram fechadas por algum tempo por falta de componentes. Estamos líderes no mercado varejo no Brasil. O Onix voltou. A S10 continua rainha no segmento das picapes. Devemos sofrer ainda um pouco em matéria de volatilidade, não está fácil, o mundo está um pouco de cabeça para baixo, com dificuldades logísticas de componentes, de materiais.

JM - O salto da eletrificação da Chevrolet no Brasil. Ela vai sair do motor a combustão e entrar imediatamente no motor elétrico? Ou vocês vão adequar os motores da marca ao híbrido leve com apoio de um elétrico?

SC - Nós estamos apostando no futuro elétrico. Enxergamos nos veículos elétricos uma melhor solução para as famílias, para o planeta, para o ambiente e estamos fazendo aposta direto na eletrificação do nosso parque veicular. Isso não vai acontecer ao longo das próximas semanas, mas sim ao longo dos próximo anos.

Estamos felizes de fazermos o lançamento dos três primeiros veículos elétricos para a região (duas versões do Bolt e a Blazer). Nossa força do motor de combustão interna continua firme e forte, temos hoje o melhor no Brasil, segundo o Inmetro, com o Onix, mas quando a mudança acontecer vamos sair direto para o carro elétrico.

JM - Como vai ser transforma a rede de concessionários? Vejo alguns fora de sintonia com o futuro.

SC - Temos uma grande parceria com a nossa rede Chevrolet desde 1925 e uma grande admiração pelo trabalho que eles fazem. Estamos nos preparando para abraçar os veículos elétricos que trazem outras tecnologias embarcadas e outra forma de lidar com os motores e baterias.

Tudo isso vem carregado de oportunidades de novos negócios para as nossas concessionárias. Uma vez que esses veículos permitem, com as suas tecnologias, através do ar, de forma remota fazer uma melhora da experiência e entrar nos diferentes módulos do automóvel, para oferecermos serviços para os clientes. O 5G muda muita coisa. Vamos trazer a possibilidade para os nossos concessionários de dar as soluções para os nossos consumidores em conexões e carga elétrica.

JM - No Brasil dá para imaginar que uma de suas fábricas também será tão provedora de tecnologia e serviços como encontramos nos EUA? Vai dar para fazer uma fábrica de carros elétricos ou de baterias no Brasil?

SC - Nós acreditamos em fazer a industrialização no lugar onde nós vendemos os veículos. Os volumes de venda crescendo pode justificar uma nova industrialização. E, de novo, na nossa região temos os minérios, a engenharia e uma capacidade de fabricação impressionante na GM. Dentro da empresa, com esse volume que está vindo aí, a gente acredita que seria uma possibilidade.

JM - Seria sensato pensar que nesse futuro a GM teria uma fábrica da plataforma Ultium no Brasil?

SC - As baterias tem diversos componentes e o primeiro deles são as células elétricas. Esse componente é de difícil manufatura e acho que a partir daí, os módulos e a partir dos módulos a unidade inteira da bateria Ultium, que estamos nos referindo.

A montagem destes módulos e da plataforma Ultium é uma coisa que nós podemos pensar em uma realidade como a nossa na América do Sul. Os volumes vão determinar um pouco essas decisões, mas eu vejo potencial industrial do Brasil muito claro na nossa frente.

JM - O planejamento permite que o senhor responda a pergunta óbvia: Quando a General Motors do Brasil vai fabricar o seu primeiro veículo elétrico?

SC - Ainda estamos nesse processo, nessa análise, nesse caminho. Começando de forma muito determinada, inspirados pelo câmbio climático e pelo que nossos consumidores falam de querer ter novas tecnologias e aderir a história do carro elétrico e contribuir na solução do problema. Então fica ai uma conversa para o futuro de quando será essa industrialização.

JM - Três ou cinco pilares do crescimento no Brasil para a General Motors? Um deles certamente é a reforma fiscal e tributária. Seria um facilitador para a industrialização que estamos falando?

SC - Hoje o Brasil está passando por um processo de alta em custos e em matéria de preços, a inflação que está subindo em níveis que nós não víamos há alguns anos e que acompanha para o controle dessa inflação uma subida dos juros.

Para termos uma melhor performance e desempenho da economia, essas reformas acompanhadas por um controle da inflação e que leve a uma redução dos juros vai permitir que industrias, que foram maiores em anos passados e que querem voltar para o mercado, voltem com um pouco mais de confiança e que tenhamos um maior crescimento na indústria automotiva no Brasil.

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