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"Vampirão" volta a desfile da Tuiuti sem faixa e evita a imprensa

"Vampirão da Tuiuti" desfila sem faixa presidencial  - Lucas Landau/UOL
"Vampirão da Tuiuti" desfila sem faixa presidencial Imagem: Lucas Landau/UOL

Laís Gomes

Colaboração para o UOL, no Rio*

18/02/2018 09h16Atualizada em 18/02/2018 16h38

Protagonista de um dos momentos mais comentados do Carnaval carioca, o destaque "vampiro neoliberalista", da vice-campeã Paraíso do Tuiuti, voltou à Sapucaí para o Desfile das Campeãs neste domingo (18) sem a faixa presidencial na fantasia.

O "Vampirão da Tuiuti" é o professor de história Leonardo Morais, de 40 anos, tira a fantasia no meio da Sapucaí  - Laís Gomes/UOL - Laís Gomes/UOL
O "Vampirão da Tuiuti" é o professor de história Leonardo Morais, de 40 anos, que tirou a fantasia no meio da Sapucaí
Imagem: Laís Gomes/UOL

O UOL apurou que depois do desfile da Tuiuti, levaram o "vampirão" para uma sala alegando que ele estava passando mal. Cinco minutos depois ele saiu totalmente descaracterizado e acompanhado de um diretor da Tuiuti, com ordens expressas de não falar com jornalistas. Logo a imprensa o reconheceu e o acompanhou. "Está passando mal?", questionou a reportagem. "Só estou muito cansado", respondeu o "vampirão" da Tuiuti, que é o professor de história Leonardo Morais, de 40 anos. 

Inicialmente a escola informou que Morais havia perdido a faixa presidencial ao final do primeiro desfile e não confeccionou outra. No entanto, ao ser questionada pelo UOL, a assessoria de imprensa da agremiação respondeu que a retirada da faixa "foi uma decisão exclusivamente da escola, por ser tratar de uma celebração, um dia de festa, e entendemos não ser pertinente levar este adereço. Não recebemos qualquer pedido ou ameaça de ninguém para impedir a ida da faixa para o desfile".

A menção a uma possível ameaça para retirar o adereço do desfile das campeãs se refere a reportagem publicada pelo jornal O Globo, que citava informações do barracão da Tuiuti dando conta de que emissários da Presidência da República haviam pedido à Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba) para impedir a entrada do destaque.

Outros protestos

Durante a exibição deste domingo, outra crítica a Temer foi retirada. Sobre o mesmo carro alegórico em que o "vampiro presidente" era o destaque principal, numa lateral o auxiliar administrativo Sérgio Lopes, de 38 anos, desfilava vestindo uma cópia de camisa da seleção brasileira e batendo panela, numa referência irônica aos manifestantes que, entre 2013 e 2016, promoveram panelaços em prol do impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT).

Dentro da frigideira, Lopes havia colado um papel onde se lia "Fora, Temer". Ele ingressou na avenida assim, mas só conseguiu percorrer aproximadamente metade da pista exibindo a frigideira com essa mensagem. Ao notar o protesto, que um repórter fotográfico se preparava para registrar, um dos responsáveis pela alegoria arrancou o papel, gerando reclamações do jornalista. Questionado, o responsável pela alegoria afirmou que "manifestações desse tipo são proibidas".

Ao final do desfile, o autor do protesto reclamou: "O enredo da escola era condizente com meu protesto. Se a escola está reclamando do Temer, por que eu não tenho o direito de reclamar também?", disse Lopes. "Havia outras pessoas com protestos semelhantes no carro [alegórico], mas arrancaram todos", contou. O auxiliar administrativo afirmou que no desfile oficial ele foi o único a protestar, e não foi coibido pela escola. "Na segunda-feira chegaram a ver e não fizeram nada, não reclamaram."

Desfile polêmico e elogiado

Depois de uma passagem trágica pela Sapucaí em 2017, com um acidente com sua última alegoria que causou a morte da radialista Liza Carioca, a Paraíso do Tuiuti levou um Carnaval de crítica social para a avenida na madrugada da segunda-feira (12).

Com o enredo "Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?", sobre os 130 anos da Lei Áurea, a escola trouxe o tema para o presente no último setor do desfile, mostrando com muita ironia que a escravidão permanece até hoje, mas de forma diferente.

O último carro representou um novo navio negreiro, com o presidente Michel Temer transformado em um "vampiro neoliberalista", e batedores de panela (em referência aos protestos contra o governo do PT), também lembrados nas fantasias da ala "Manifestoches", com a característica camisa da seleção brasileira de futebol. A arquibancada respondeu à passagem da alegoria com gritos de "Fora, Temer".

As reformas trabalhista e da previdência foram criticadas em alas como a "Guerreiros da CLT", que também lembraram o trabalho precário em fazendas e confecções.

A repercussão do desfile da escola foi imensa. Internautas clamaram que a escola “lavou a alma” dos brasileiros.

* Com informações da Agência Estado