5 procedimentos estéticos que são mais perigosos do que você pensa

Nas últimas décadas vimos a explosão da realização de procedimentos médicos com fins estéticos, impulsionada por padrões de beleza estabelecidos socialmente e perpetuados por celebridades e por toda indústria da moda e da beleza.

Esse aumento é visto nos números divulgados pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética em 2023, que mostram ampliação contínua de cirurgias estéticas, com um crescimento de 33,3% nos últimos quatro anos analisados.

Segundo a entidade, os EUA realizaram a maioria dos procedimentos em todo o mundo (24,1% do total), com 30,4% de todos os procedimentos não cirúrgicos e 15,5% de todos os procedimentos cirúrgicos, seguidos pelo Brasil (8,9%) e pelo Japão (5,7%).

Aparentemente inofensivos e bem aceitos socialmente, além do problema da insatisfação constante com o corpo, muitos desses procedimentos podem gerar riscos diretos à saúde —principalmente alguns considerados mais arriscados.

O VivaBem conversou com médicos dermatologistas e cirurgiões plásticos sobre diferentes procedimentos realizados com fins estéticos que podem oferecer riscos à saúde e que você provavelmente não conhecia. A seguir, veja quais são.

1. PMMA (Polimetilmetacrilato)

O PMMA é um componente plástico usado por indústrias na fabricação de lentes, na odontologia, em cremes de uso tópico e em procedimentos ortopédicos. No Brasil, o PMMA para preenchimento subcutâneo precisa ser registrado pela Anvisa, pois é um produto de saúde classe IV (máximo risco), sendo permitido seu uso pelo órgão em duas ocasiões:

Correção de lipodistrofia: uma alteração no organismo que leva à concentração de gordura em algumas partes do corpo. Ela é provocada pelo uso de remédios antirretrovirais em pacientes com síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids).

Correção volumétrica facial e corporal: uma forma de tratar alterações, como irregularidades e depressões no corpo, como em casos de poliomielite, fazendo o preenchimento em áreas afetadas por meio de bioplastia.

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O uso de PMMA, porém, tornou-se comum na indústria estética como preenchimento da pele, visando aumentar o volume de glúteos, coxas, rosto e outras partes do corpo. Mas não sem riscos envolvidos. Além de ser permanente, ou seja, uma vez injetado nos tecidos, em geral, na musculatura, não pode ser removido, a não ser que se remova o tecido junto, seu maior risco é a insuficiência renal irreversível.

"Isso acontece porque o PMMA estimula a produção de granulomas, ou reações de corpo estranho no organismo, não necessariamente no local do implante, que estimulam a absorção de uma grande quantidade de cálcio pelo corpo que chega aos rins, danificando permanentemente sua função. Isso pode acontecer logo após o procedimento ou depois de alguns anos", explica a dermatologista Renata Sitonio.

O PMMA ainda pode causar outras complicações graves, como inflamação crônica, infecções, reações alérgicas e migração do produto para outras áreas do corpo.

2. Hidrogel

O hidrogel é um tipo de gel aquoso usado para o preenchimento de volume em áreas como glúteos e coxas, composto por 98% de água e 2% de poliamida. "Foi muito usado como preenchedor facial e corporal até ter seu registro suspenso pela Anvisa em 2014, devido a múltiplos relatos de complicações", fala a dermatologista Ana Karina Bernardo Nascimbem.

O hidrogel também não é aprovado pelo FDA, órgão de regulamentação dos EUA, sobretudo pelos riscos graves atrelados a ele, como necrose e infecções, podendo chegar a quadros de sepse, embolias, trombose e reações inflamatórias agudas e crônicas.

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"Tivemos relatos de personalidades que tiveram infecções graves com o produto, que é de difícil remoção, necessitando de múltiplas cirurgias, que podem ser deformantes", continua a especialista.

O hidrogel ainda pode ser reabsorvido pelo corpo ao longo do tempo, levando à necessidade de procedimentos adicionais, por isso não é mais usado como procedimento estético seguro segundo órgãos reguladores —se você viu em algum lugar a indicação desse procedimento para fins estéticos, provavelmente a prática é irregular.

3. Maquiagens definitivas

Essa é uma técnica de tatuagem cosmética para delinear olhos, lábios e sobrancelhas. "Particularmente, nunca recomendo", enfatiza Nascimbem. "Os pigmentos podem mudar de cor com o passar dos anos e ficar completamente fora do tom da pele e a tinta ainda pode causar alergias", completa.

A médica ainda destaca que a pessoa pode simplesmente se "cansar" daquele tom de blush, lápis de olho ou batom que foi usado. "As cores claras usadas como 'corretivo' e o vermelho de 'blush' e 'batom' são de remoção difícil ou até impossível mesmo com laser. Ainda pode acontecer de o pigmento claro do 'corretivo' oxidar ao se fazer o laser numa tentativa de retirada e escurecer", completa.

O cirurgião plástico Wendell Uguetto indica que outros riscos envolvidos incluem infecções, cicatrizes, descoloração e resultados insatisfatórios que são difíceis de corrigir. "A remoção pode ser complicada e dolorosa", diz.

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4. Lipodissolve

Essa é uma técnica que usa substâncias que geram inflamação nas células de gordura abaixo da pele, com o objetivo de reduzir gordura localizada e celulite. Ela pode ser realizada tanto na face como no corpo e diversas substâncias podem ser usadas, como desoxicolato, fosfatidilcolina, desoxicolato, rutina, melilotus, cafeína, cynara, entre outras.

"Algumas, como o desoxicolato, causam uma inflamação maior que outras. Essa inflamação dura, em média, de duas a quatro semanas e, idealmente, deve ser feita drenagem e massagem no local realizado", indica Nascimbem.

Segundo ela, são necessárias de três a oito sessões para um resultado mais visível. "Ela não deve ser realizada em pacientes obesos (é para gordura localizada, e não é um método de emagrecimento), pacientes com doenças autoimunes, que estejam com infecções ativas, com distúrbios da coagulação ou que usam anticoagulantes e alérgicos", afirma.

A dor durante e depois da aplicação é comum, assim como vermelhidão e inchaço por alguns dias. Mas outras complicações mais graves podem aparecer. A necrose, por exemplo, pode acontecer caso a aplicação seja feita de forma incorreta, assim como infecções, hematomas, nódulos e irregularidades na superfície da pele.

"A eficácia e a segurança do lipodissolve são controversas e a técnica não é aprovada pela FDA", ressalta Wendell Uguetto. No Brasil, uma nota técnica da Anvisa fala sobre o uso do desoxicolato, comum em técnicas de lipodissolve, indicando que seu uso não se enquadra como produto para saúde e que ele não está registrado na base de dados.

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5. Peeling

Os peelings químicos envolvem a aplicação de ácidos em concentrações altas na pele, com o objetivo de renovação celular. Segundo Nascimbem, eles podem ser superficiais, médios ou profundos.

"Nos peelings superficiais ocorre apenas uma descamação leve da pele por sete a dez dias, enquanto nos médios se forma uma casca mais espessa e amarronzada que sai em sete a 14 dias, além de poder haver inchaço discreto a moderado e a pele ficar avermelhada e sensível por cerca de 15 a 30 dias", destaca.

Já no peeling profundo existe um queimadura química pelo fenol a um nível mais profundo da pele, formando cascas e crostas mais espessas, inchaço moderado a muito intenso e pele avermelhada e sensível por alguns meses. Esse tipo não pode ser realizado em pacientes com problemas renais, hepáticos ou cardíacos e com a cor da pele muito escura ou tendência para manchas, havendo nesses casos riscos maiores.

"Além disso, como todo procedimento estético, tem complicações possíveis, como: infecções secundárias, manchas para mais claro ou mais escuro que o tom de pele, cicatrizes, vermelhidão prolongada, pele sensível, vasinhos aparentes, surgimento ou piora de lesões de acne e inchaço prolongado", fala Nascimbem.

O fenol é um ácido que, se não for aplicado no tempo e na quantidades corretos, ainda pode causar arritmias cardíacas graves.

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"É importante que o paciente pesquise bem a qualificação do profissional antes de escolher, procure saber de resultados através de pessoas conhecidas, peça para ver o frasco do produto e, se possível, fotografe a embalagem e o código de barras para que, se houver algum problema relacionado ao produto, possa recorrer ao fabricante", acrescenta Sitonio.

Fontes: Ana Karina Bernardo Nascimbem, dermatologista da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) e médica da clínica Liliane Oppermann; Renata Sitonio, médica dermatologista pela SBD, SBCD (Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica) e Academia Americana de Dermatologia, especializada em tratamentos corporais em Harvard; Wendell Uguetto, cirurgião plástico da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e membro do corpo clínico do Hospital Albert Einstein.

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