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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Ozempic para perda de peso na menopausa é possível, mas não como 1ª opção

Aline Sena teve uma menopausa precoce, que levou à resistência insulínica e ganho de peso Imagem: Arquivo pessoal de Aline Sena

De VivaBem, em São Paulo

26/02/2024 04h05

Quando tinha 34 anos, a empresária Aline Sena começou a ter sintomas da menopausa, principalmente fogachos. Ao suspender o uso de anticoncepcional, a menstruação voltou regularmente e ela se sentiu melhor.

Mas após dar à luz o filho, ficou um ano sem menstruar (o que configura menopausa) e os sintomas retornaram. Exames mostraram níveis hormonais abaixo do ideal e uma resistência à insulina, com ganho de peso.

"Ela teve uma fase aguda de estresse pós-gestação que fez cair o estrogênio e levou à resistência insulínica. E tinha dificuldade de perder peso", explica a nutricionista Ramiele Calmon, que começou a acompanhar Aline há três anos.

Mesmo seguindo uma alimentação saudável e praticando exercícios físicos, a empresária, hoje com 38 anos, seguia com as alterações metabólicas. Remédios manipulados naturais e implante hormonal foram testados, mas não resolveram.

Há cerca de cinco meses, ela começou a usar Ozempic. Após dois meses, viu resultados: a resistência insulínica melhorou, o ciclo menstrual regulou e os sintomas da menopausa cessaram.

"Comecei com doses muito baixas, porque [o remédio] tem efeitos colaterais. Sentia cansaço. Se exagerava na comida, tinha enjoo, e sentia vertigem ao abaixar nos primeiros dias", conta Aline.

Junto com o remédio, ela seguiu fazendo musculação e com dieta equilibrada, o que evitou a perda de massa muscular —algo comum numa perda de peso generalizada.

De forma gradual, ela eliminou cinco quilos e saiu do IMC (índice de massa corporal) de sobrepeso: de 26,2 27 kg/m² para 19,6 27 kg/m².

Menopausa e ganho de peso

Aline experienciou o que mulheres começam a viver mais intensamente a partir dos 40 anos: o climatério. Essa é a fase que engloba os momentos antes, durante e depois da menopausa.

O período é delicado porque as mudanças hormonais têm impactos físicos, emocionais e psicológicos.

"Mulheres que entram nesse período têm mais resistência à insulina. Elas passam pelo desafio da privação estrogênica que mexe com uma série de alterações no corpo", explica a endocrinologista Narriane Holanda, chefe do serviço e coordenadora da Residência de Endocrinologia e Metabologia do HULW-UFPB (Hospital Universitário Lauro Wanderley da Universidade Federal da Paraíba), ligado à rede Ebserh.

Entre as alterações estão:

  • Fogachos;
  • Instabilidades humorais (ficam mais irritadas);
  • Secura vaginal;
  • Acúmulo de gordura visceral;
  • Diabetes devido à resistência insulínica.

Além disso, há dificuldade de perder peso porque o organismo tenta "compensar" a falta de estrogênio com o acúmulo de gordura, explica a ginecologista Natacha Machado, diretora clínica da Plenapausa.

Nessa fase, o colesterol e triglicérides tendem a aumentar também. "Junta o fato de as mulheres, nessa faixa etária, estarem com hábitos ruins", diz Machado.

"Devido a todas essas modificações, as mulheres ficam preocupadas, chegam desesperadas no consultório e buscam soluções imediatas para resolver obesidade e sobrepeso", comenta Holanda.

Ozempic na menopausa: pode usar?

Pode, mas com muita atenção. É preciso considerar que:

Em bula, o medicamento só é indicado para tratar diabetes tipo 2.

A prescrição para tratamento de sobrepeso e obesidade é feita de forma off label, ou seja, fora do que está na bula —o que é permitido pelo CFM (Conselho Federal de Medicina).

Sob acompanhamento médico, a medicação é segura e eficaz; do contrário, sem orientação, pode causar efeitos colaterais e adversos mais graves do que os previstos.

Por enquanto, não há estudos sobre o uso de Ozempic por mulheres na menopausa.

Não se pode negar, porém, que o medicamento é considerado uma revolução no tratamento de diabetes e obesidade.

A semaglutida, princípio ativo do remédio, gera até 15% de perda de peso corporal após 17 meses de uso, conforme estudo que considera a dose máxima na apresentação de Wegovy —este sim aprovado para tratar obesidade, mas ainda indisponível para venda no Brasil.

Ozempic promove até 15% de perda de peso corporal Imagem: iStock

Como no país só tem Ozempic, Calmon afirma que a prescrição vem também pelo histórico de outros medicamentos que atuam na resistência insulínica, como metformina e semaglutida na forma de comprimido (Rybelsus) —já usados para diabetes.

Mas a caneta tem um benefício a mais, segundo ela. "Como muitas mulheres nessa fase estão mais compulsivas, com aumento de ansiedade, o medicamento não só atua na 'queima de gordura' como na diminuição da fome."

O Ozempic não age diretamente na eliminação da gordura, mas ao modificar a percepção da fome e retardar o esvaziamento gástrico, a pessoa tende a comer menos, ingerindo menos calorias, e, em déficit calórico, emagrece.

Pelos bons resultados, o Ozempic parece uma solução "milagrosa", o que definitivamente não é. As especialistas alertam em uníssono que, sozinho, ele não resolve o excesso de peso e não deve ser considerado como primeira opção.

A medicação é aliada em um tratamento multidisciplinar, depois de esgotadas outras opções e com mudanças de hábitos.

"No período que antecede a menopausa, adotar estilo de vida saudável ajuda a passar por ela de forma mais tranquila, a pessoa passa pela transição mais facilmente, sem tantos sintomas e complicações", diz a endocrinologista.

Atenção aos riscos

Como tratamento para sobrepeso e obesidade, o Ozempic é indicado, de modo geral, para pessoas com IMC a partir de 27 kg/m². O parâmetro vale também para quem está na menopausa.

Embora seja vendido sem prescrição, o uso deve ser manejado por um profissional experiente.

E apesar da segurança e eficácia, há efeitos colaterais como:

  • Dor de cabeça;
  • Tontura;
  • Náuseas;
  • Vômito;
  • Diarreia;
  • Piora do refluxo gastroesofágico.

Com sintomas desconfortáveis, há o risco de a pessoa não manter o tratamento. "Pacientes que perdem muito peso, se não tiverem equipe multidisciplinar por trás para corrigir estilo de vida, voltam a ganhar peso", diz Machado.

Holanda reforça que, primeiramente, deve-se tentar uma modificação de estilo de vida antes de iniciar qualquer medicamento. "Se não tiver boa resposta, se julgar que a pessoa tem condição metabólica, pode indicar Ozempic junto com mudança de hábitos."

Além de alimentação equilibrada, as especialistas destacam a prática de exercício físico porque a perda de peso pode reduzir a massa muscular, o que impacta na integridade óssea. E na menopausa, a queda de estrogênio por si só já abre portas para o enfraquecimento dos ossos.

Soluções antes do Ozempic

Por mais que a menopausa seja um evento fisiológico natural, é possível adotar medidas para reduzir os efeitos dela no corpo. Em termos de emagrecimento, Machado diz que "a menopausa dificulta o processo, mas não o impede".

Ela ressalta que, nessa fase, a perda de peso não é só uma questão estética, mas de saúde, uma vez que a obesidade aumenta os sintomas e o risco de doenças cardiovasculares.

Antes de partir para o Ozempic, outros tratamentos eficazes são:

Terapia de reposição hormonal: nem toda mulher precisa, mas se indicada, pode ser iniciada desde os primeiros sintomas, pois contribui para amenizá-los, além de ajudar na prevenção da perda óssea.

Mudança de hábitos: um sono de má qualidade interfere na resistência insulínica, diz Machado, portanto é fundamental cuidar desse pilar da saúde. Novamente, focar nos exercícios de resistência e manter boa alimentação.

Outros medicamentos: se essa for a via indicada para tratar o peso excessivo, compostos como orlistat e sibutramina já são usados. Por fim, os análogos de GLP-1, como a semaglutida, estão disponíveis com indicação adequada.

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