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Um guia dos principais medicamentos que você usa


Sibutramina: de baixo custo e efetiva na obesidade, pede atenção a efeitos

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Imagem: iStock

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

22/06/2021 04h00Atualizada em 15/10/2021 15h42

Resumo da notícia

  • Esse medicamento tem o efeito de inibir o apetite e aumentar a saciedade
  • Tem indicação específica e deve compor plano com dieta, prática física e mudança de hábitos
  • Ajuste de doses e esforço do paciente reduzem a chance de potenciais reações adversas
  • É contraindicado para grávidas, lactantes e idosos com idade superior a 65 anos

A sibutramina é um dos poucos medicamentos do mercado indicados para compor o plano de tratamento da obesidade. Em outubro, o plenário do STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu derrubar uma lei que autorizava a produção, comercialização e consumo do medicamento no Brasil.

O que é sibutramina?

Trata-se de um medicamento classificado como inibidor da recaptação da serotonina e da noradrenalina. Ele atua no SNC (Sistema Nervoso Central), e tem como efeito a inibição do apetite e o aumento da saciedade.

Dadas as características desse medicamento, ele só deve ser vendido sob prescrição médica, com receituário próprio (B2) e termo de responsabilidade do paciente.

Saiba quando você pode tomar a sibutramina

Esse fármaco é considerado seguro. Contudo, é importante que você faça o uso racional desse remédio, ou seja, utilize-o de forma apropriada, na dose certa e pelo tempo indicado pelo seu médico.

A sibutramina pode ser indicada para o tratamento da obesidade de pacientes com os seguintes quadros:

  • Pessoas com IMC (índice de massa corporal) a partir de 30 kg/m²
  • Pessoas com sobrepeso - IMC acima de 27 kg/m², desde que associado a alguma outra doença (comorbidade) associada à obesidade

Importante ressaltar que o tratamento com esta medicação é um dos elementos de um plano terapêutico que inclui dieta com restrição calórica, programa de atividade física e modificação de hábitos de vida.

"O tratamento farmacológico é um apoio. E junto a essas medidas não farmacológicas pode levar ao aumento da taxa de metabolismo, isto é, ele leva a um gasto energético maior, e isso ajuda na perda de peso", explica a farmacêutica Cynthia França Wolanski Bordin, professora das Escolas de Farmácia, Enfermagem, Odontologia e Medicina da PUC-PR.

Por que esse medicamento está fora do mercado em muitos países?

A sibutramina foi descontinuada no exterior porque alguns estudos científicos concluíram que o seu uso estava associado ao aumento de risco de eventos cardiovasculares, como infarto ou AVC (Acidente Vascular Cerebral).

Por exemplo, pessoas com obesidade e diabetes, que também sejam hipertensas (não tratadas) ou tenham colesterol alto, por exemplo, não podem usar a sibutramina.

Entenda como ela funciona

Ao ser administrada pela via oral, o medicamento é rapidamente absorvido e metabolizado pelo fígado. Depois, é excretado pelas fezes e urina.

O seu efeito terapêutico decorre da inibição da recaptação de noradrenalina, serotonina e dopamina, aumentado a quantidade desses neurotransmissores na fenda sináptica.

"O resultado é a promoção da sensação de saciedade e a redução do apetite, o que leva ao menor consumo de alimentos", fala Danyelle Cristine Marini, diretora do CRF-SP.

É esperado que o medicamento comece a fazer efeito já nas primeiras semanas. A resposta que se espera é que, em 3 meses, ocorra a perda de 5% do peso. Após 6 a 9 meses, a tendência é que ocorra uma estabilização.

Em geral, o medicamento pode ser usado pelo tempo máximo de 2 anos. Em casos selecionados, e sob estrita supervisão médica, esse tempo pode ser maior.

Conheça as apresentações disponíveis

Biomag® é um exemplo de marca de referência da sibutramina. Mas você também pode encontrar as versões genéricas. O esquema de doses é sempre personalizado.

Ela está disponível em cápsulas de 10 mg e 15 mg.

O medicamento não consta da Rename 2020 (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais).

Quais são as vantagens e desvantagens do seu uso?

O endocrinologista Luciano Albuquerque, coordenador do Laboratório de Obesidade do HC-UFPE/Ebserh diz que, no Brasil, 60% da população está acima do peso e 20% tem obesidade. Ele afirma que existem poucas ferramentas para tratar o problema, a sibutramina é uma delas, e ainda tem preço acessível, sua maior vantagem.

Segundo o especialista, isso ajuda na adesão ao tratamento, e quando o paciente se empenha, a medicação é tão efetiva quanto as outras mais caras.

"Há muito preconceito com a sibutramina e a necessidade de uso do receituário B2. A preocupação é que a pessoa possa criar dependência. Mas não é o caso. A grande desvantagem desse fármaco é o potencial efeito colateral. Daí a necessidade do perfeito ajuste de doses e da orientação do paciente", completa o médico.

Saiba quais são as contraindicações

A sibutramina não pode ser usada por pessoas que sejam alérgicas (ou tenham conhecimento de que alguém da família tenha tido reação semelhante) ao seu princípio ativo ou a qualquer outro medicamento da mesma classe, bem como a algum componente de sua fórmula.

Fique também atento se você se identifica com algum dos exemplos abaixo indicados:

  • Gravidez
  • Amamentação
  • Ser criança, adolescente ou idoso acima de 65 anos
  • Ter índice de massa corpórea inferior a 30 kg/m²
  • Fazer uso de inibidores da monoaminoxidase (IMAOs)
  • Pessoas com transtornos alimentares (bulimia ou anorexia)
  • Hipertensos sem tratamento
  • Histórico de angina, infarto, insuficiência cardíaca, taquicardia etc. (doença arterial coronariana)
  • Histórico de diabetes com pelo menos um fator de risco

Crianças e idosos podem usá-la?

A sibutramina é contraindicada para crianças e adolescentes, e também para idosos acima dos 65 anos, dado o maior risco de evento cardiovascular.

Estou grávida e pretendo amamentar? Posso usar sibutramina?

Nenhuma medicação para obesidade pode ser usada durante a gravidez ou lactação. Embora não existam evidências de que a sibutramina tenha efeito teratogênico, isto é, possa levar à malformação fetal, ou mesmo possa ser excretado por meio do leite materno, não há estudos que garantam a segurança dessas populações.

Qual é a melhor forma de consumi-la?

Para que não haja risco de má absorção do medicamento, a melhor forma de consumir os comprimidos é com água, junto ou fora das refeições.

Existe uma melhor hora do dia para usar esse medicamento?

O fármaco deve ser ingerido na forma indicada pelo médico, sem interrupção do esquema de doses antes do final do tratamento.

O que faço quando esquecer de tomar o remédio?

Ingira-o assim que lembrar e reinicie o esquema de uso do medicamento. É desaconselhado tomar doses em dobro de uma vez para compensar a dose que foi esquecida. Se você sempre se esquece de tomar seus remédios, use algum tipo de alarme para lembrar-se.

Quais são os possíveis efeitos colaterais?

Este medicamento é considerado, em geral, bem tolerado, seguro e eficaz quando utilizado com supervisão e de acordo com as orientações médicas.

Apesar disso, algumas pessoas poderão observar as seguintes manifestações (estes são alguns exemplos), principalmente se estiverem sob tratamento com altas doses e por longo período de tempo:

Comuns

  • Constipação
  • Boca seca (xerostemia)
  • Insônia
  • Taquicardia
  • Aumento da pressão arterial
  • Dor de cabeça
  • Ansiedade

Alguns pacientes reclamam de irritabilidade. Mas esse efeito está mais relacionado à restrição da dieta.

Interações medicamentosas

Algumas medicações não combinam com a sibutramina e podem alterar, reduzir ou potencializar efeitos, mesmo os colaterais. Veja os exemplos abaixo. Avise seu médico se estiver consumindo algum dos seguintes fármacos:

  • Benzodiazepínicos (midazolam)
  • Antidepressivos (bupropiona)
  • Medicamentos com ação no SNC (pregabalina)
  • Ácido acetilsalisílico (Aspirina)
  • ISRS - Inibidores Seletivos de Recaptação de Serotonina (citalopram, fluoxetina)
  • Antifúngico ou antimicótico (cetoconazol)

Embora não sejam conhecidas interações com suplementos, vitaminas ou fitoterápicos, os especialistas sugerem que você informe ao profissional da saúde o uso contínuo de algum desses itens.

Interação alimentar

Não são conhecidas interações com alimentos, mas sugere-se evitar o consumo de álcool juntamente com a sibutramina. A razão para isso é que essa combinação poderia aumentar o risco de efeitos colaterais indesejados, como o aumento da frequência cardíaca, dor no peito ou alterações da pressão arterial.

Há interação com exames laboratoriais?

O fabricante adverte que podem haver alterações em testes hepáticos como os exames ALT, AST, GGT (GAMA-GT) e LDH, além da fosfatase alcalina. Comunique o médico e o pessoal do laboratório sobre o uso da sibutramina e outros medicamentos.

Em casa, coloque em prática as seguintes dicas:

  • Fique atento à validade do medicamento, que é de 24 meses. Considere que, após aberto, essa validade é ainda menor;
  • Mantenha o medicamento sempre dentro da própria embalagem e nunca descarte a bula até terminar o tratamento;
  • Leia atentamente a bula ou as instruções de consumo do medicamento;
  • Utilize o medicamento na posologia indicada;
  • Ingira os comprimidos inteiros. Evite esmagá-los ou cortá-los ao meio --eles podem ferir sua boca ou garganta. A exceção é a indicação médica;
  • Escolha um local protegido da luz e da umidade para armazenamento. Cozinhas e banheiros não são a melhor opção. A temperatura ambiente deve estar entre 15°C e 30°C;
  • Guarde seus remédios em compartimentos altos ou trancados. A ideia é dificultar o acesso das crianças;
  • Procure saber quais locais próximos da sua casa aceitam o descarte de remédios. Algumas farmácias e indústrias farmacêuticas já têm projetos de coleta;
  • Evite o descarte no lixo caseiro ou no vaso sanitário. Frascos vazios de vidro e plástico, bem como caixas e cartelas vazias podem ir para a reciclagem comum.

O Ministério da Saúde mantém uma cartilha (em pdf) para o Uso Racional de Medicamentos, mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos - Fiocruz) (em pdf) ou do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (também em pdf). Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.

Fontes: Luciano Albuquerque, endrocrinologista e coordenador do Laboratório de Obesidade do HC-UFPE/Ebserh (Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares); Cynthia França Wolanski Bordin, farmacêutica e professora adjunta das Faculdades de Farmácia, Enfermagem, Odontologia e Medicina da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), com mestrado em tecnocologia química e doutorado em ciências da saúde; Danyelle Cristine Marini, diretora do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia de São Paulo), professora do curso de medicina na Unifae (Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino/São João da Boa Vista) e nas Faculdades Integradas Maria Imaculada (Mogi Guaçu/SP); Amouni Mourad, farmacêutica, professora do curso de farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP) e assessora técnica do CRF-SP. Revisão técnica: Amouni Mourad.

Referências: Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária); CONITEC (Comissão Nacional de Incorporação de tecnologias no SUS); James WP, Caterson ID, Coutinho W, Finer N, Van Gaal LF, Maggioni AP, Torp-Pedersen C, Sharma AM, Shepherd GM, Rode RA, Renz CL; SCOUT Investigators. Effect of sibutramine on cardiovascular outcomes in overweight and obese subjects. N Engl J Med. 2010 Sep 2;363(10):905-17. doi: 10.1056/NEJMoa1003114. PMID: 20818901.