Sugador de clitóris: uso em excesso pode fazer mal à saúde? Afeta sexo a 2?

A procura por brinquedos sexuais e o chamado mercado de bem-estar feminino cresceram. No entanto, o assunto ainda é tabu e há muitas dúvidas sobre masturbação e o uso de estimuladores de prazer.

Sobre a busca pelo prazer, uma pesquisa* de Think Eva e O Boticário mostra que 6 entre 10 mulheres não se dedicam o suficiente ao próprio prazer. Quando perguntadas sobre o que tira a vontade de ir atrás do próprio prazer, quase metade (45,6%) se queixa do estresse do dia a dia e do cansaço.

Ainda sobre prazer, 32% não sabem o que são zonas erógenas e 64% nunca sentiram necessidade de procurar ajuda sobre sexo; além disso, 75% não costumam usar brinquedos eróticos.

"A mulher é muito criticada quando aborda o assunto e fala sobre o uso de vibradores, como recentemente ocorreu com a apresentadora Angélica. Apesar disso, é um passo importante para a quebra de preconceitos existentes. Os modelos dos sex toys passam por uma transformação, deixando as formas do falo, para ganharem formatos pensados por mulheres para mulheres, de acordo com a anatomia e as necessidades femininas", afirma Dani Fontinele, terapeuta sexual e apresentadora do Podcast Clitcast.

VivaBem entrevistou especialistas sobre questões que envolvem os sugadores de clitóris e o orgasmo.

Ainda de acordo com a pesquisa, 7 entre 10 mulheres estão satisfeitas com a frequência em que atingem o orgasmo e, destas, a maioria (57%) diz que a relação com o orgasmo ficou melhor após se permitirem explorar o próprio corpo.

Quem é ele?

O clitóris é um órgão com milhares de terminações nervosas e sua manipulação com dispositivos ou as mãos não leva a nenhum problema, pelo contrário, faz parte do autoconhecimento e facilita o prazer a dois.

"Cada mulher vai descobrir como ela gosta e a forma que vai usar para ter a melhor satisfação", esclarece Lorena Porto Magalhães, ginecologista e obstetra na Bahia.

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Tem problema usar muito?

De acordo com Lucia Alves da Silva Lara, presidente da Comissão Nacional de Sexologia da Febrasgo ainda não há estudos referentes a problemas devido ao uso de sugadores ou vibradores ao longo do tempo.

"O que existem são estudos randomizados que mostram que pacientes com alterações na medula espinhal ou doenças que interfiram na sensibilidade do clítoris e na genitália se beneficiam do uso desses dispositivos, apresentando maior possibilidade de atingirem o orgasmo."

Para Bárbara Bastos, sexóloga clínica e educacional, os sugadores de clitóris e vibradores de forma geral são ótimos para ajudar no autoconhecimento feminino e apimentar a relação, mas, para ela, os estímulos, sejam físicos ou mentais, precisam ser revezados.

A terapeuta sexual explica que muitas mulheres podem apresentar o condicionamento àquela excitação, por isso é importante alterná-los. "Não é vício e nem perda de sensibilidade", enfatiza.

Formas de sensibilidade diferentes

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Imagem: iStock

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Para muitas mulheres, o uso de estimuladores leva a uma sensação mais intensa ou, até mesmo, diferente, comparada ao prazer das relações sexuais.

A explicação, segundo Larissa Cassiano, ginecologista e obstetra, é porque os brinquedos sexuais possuem um ritmo e propiciam o controle mais fácil pela própria pessoa. "Muitas vezes, as mulheres não têm estímulo com a penetração, e aí, com o sugador, ela consegue ter um orgasmo e achar que a questão está ligada a ele."

A fixação ao orgasmo pela penetração vem muito da pornografia e falta de educação sexual, nas palavras de Bárbara Bastos. "É claro que faz parte, mas não é a única forma."

Não afeta o sexo a dois!

A intensidade dos aparelhos, que na verdade não sugam, como o nome sugere, mas liberam um ar que estimula o clitóris, não causam problema anatômico, mas podem provocar desconforto e até dor, dependendo da potência que a pessoa usa, segundo Larissa Cassiano.

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Na opinião de Cassiano, esse tipo de estímulo não afeta o sexo. "O que ocorre é que as pessoas têm uma ideia errônea de que o brinquedo sexual vai mudar as relações interpessoais, que causará alguma diferença, devido aos tabus em relação ao prazer com a penetração."

"O sugador permite um orgasmo mais rápido e, com o uso repetido, pode-se experimentar múltiplos pequenos orgasmos. Mas, para uma mulher que nunca sentiu orgasmo, a estimulação deve começar com outros dispositivos, como os bullets", explica a terapeuta sexual.

O orgasmo é o mesmo...

A presidente da Comissão Nacional de Sexologia da Febrasgo esclarece que o orgasmo obtido por meio de brinquedos é igual ao obtido por estímulo da mão no clitóris ou pelo pênis na vagina.

No entanto, a maioria das mulheres, na verdade, chega ao orgasmo por meio do clitóris e não com a penetração.

A ginecologista e obstetra Lorena Porto Magalhães ressalta que mesmo o orgasmo na penetração envolve o clitóris e a sensação varia de forma subjetiva e perpassa questões emocionais.

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"Quanto maior for o tempo de excitação, mais intenso é o seu ápice. Assim, a mulher necessita de um período mais prolongado para que a vascularização pélvica ocorra e ela fique totalmente excitada", explica a terapeuta sexual.

Fontes: Bárbara Bastos, sexóloga clínica e educacional pela Fasex; pós-graduanda em sexualidade humana pelo Child Behavior Institute of Miami (EUA); e sócia da boutique erótica Désir Atelier; Dani Fontinele, terapeuta sexual, membro da Abrasex (Associação Brasileira dos Profissionais de Saúde, Educação e Terapia Sexual); pós-graduada em terapia sexual e terapia de casal pelo Centro de Formação e Estudos Terapêuticos da Família; e apresentadora do Podcast Clitcast; Larissa Cassiano, ginecologista e obstetra; Lorena Porto Magalhães, ginecologista e obstetra na Maternidade Climério de Oliveira da Universidade Federal da Bahia e do Hospital Universitário Professor Edgard Santos, sob gestão da rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares); e Lucia Alves da Silva Lara, presidente da Comissão Nacional de Sexologia da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).

*A pesquisa fez 2.003 entrevistas online entre os dias 07/07/2023 e 24/07/2023 com mulheres de 18 a 60 anos, de todas as classes sociais (renda familiar) e de todo o Brasil.

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