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Guia do pum: o quanto é normal soltar e quando é sinal de problema?

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Rebecca Vettore

Colaboração para VivaBem

04/01/2023 04h00

Pum, não há quem não solte. Pode até gerar incômodo em uma sala cheia durante a reunião, principalmente quando faz barulho, ou vergonha quando falamos sobre ele, mas do idoso à criança, é normal soltar flatos várias vezes por dia, às vezes, de forma até inconsciente.

De acordo com Carlos Machado, doutor em nefrologia e professor aposentado da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), basicamente os gases gastrointestinais são produzidos pelas bilhões de bactérias que vivem no nosso trato digestivo e participam do processo de digestão, principalmente após a metabolização de carboidratos, gorduras e proteínas ingeridas nos alimentos.

Vanessa Prado, cirurgiã do aparelho digestivo e médica do Centro de Especialidades do Aparelho Digestivo do Hospital Nove de Julho (SP), conta que os puns não têm uma função: "Quando o alimento é digerido, existe uma fermentação para retirada de sais minerais e nutrientes para serem absorvidos e outra para fazer o bolo fecal, onde existe a produção de gases".

Porém, você já se perguntou: quantas vezes por dia é normal soltar puns? Quando flatos podem ser sinal de algum problema de saúde? Eles sempre fedem? Quais alimentos podem aumentar ou diminuir a produção dos gases? Preparamos um guia para que você entenda de vez o pum.

Quanto pum é normal soltar por dia?

A quantidade de puns por dia pode variar de pessoa para pessoa. Segundo Machado, o ser humano pode eliminar diariamente 10 a 20 flatos por dia, já para Gustavo Lima, médico do ambulatório de gastroenterologia do HC-UFPE (Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco), a quantidade pode variar entre 14 e 18 flatos por dia. Em mililitro, o número pode variar de 700 a 1.500 ml, entretanto com uma dieta mais cuidadosa, pode haver uma redução para menos de 1.000 ml por dia.

Prado chama atenção para um importante decisor da quantidade de gases produzidos por dia, a disbiose intestinal (desequilíbrio da flora intestinal). Cada organismo vai ter uma quantidade de bactérias benéficas e outras não no intestino, quando o paciente se alimenta bem e tem uma vida saudável, a disbiose vai ser menor e com isso terá uma produção menor de gases com odores menos fedidos.

Por que fede? Tem cheiros diferentes?

Os gases do sistema gastrointestinal são compostos basicamente por cinco elementos: nitrogênio (N2), oxigênio (O2), dióxido de carbono (CO2), hidrogênio (H2) e metano (CH4). Os cinco juntos somam 99% dos elementos presentes no pum. Por isso, quase todos os puns são inodoros e, diferentemente do que pensamos, a culpa pelo odor ruim não é das fezes.

Inclusive, pum nem sempre é sinal de fezes e ele não cheira mal por passar pelas fezes antes de ser eliminado, o que causa mau cheiro é que 1% do restante de gases são compostos principalmente por enxofre, sendo o principal o ácido sulfídrico (sulfeto de hidrogênio).

O cheiro vai depender muito da dieta, sendo que alguns alimentos podem ser responsáveis por produzir mais gases.

O que causa maior produção de gases?

Os alimentos são uma das causas do aumento da produção. Entre eles, estão os tipos que durante o processo de fermentação geram a produção de um odor forte:

  • Brócolis;
  • Couve-flor;
  • Feijão;
  • Cebolas;
  • Ovos;
  • Leite;
  • Cerveja (escura);
  • Batata;
  • Milho;
  • Aspargos;
  • Alho;
  • Repolho;
  • Melancia;
  • Maçã;
  • Bebidas gaseificadas.

Existem tipos de carboidratos que são mais difíceis de serem digeridos no intestino delgado e, por isso, chegam em grande quantidade ao cólon, onde são metabolizados pelas bactérias. A ingestão de proteínas, como a carne de porco, também pode produzir o enxofre.

Falta de exercício físico, constipação intestinal, intolerância à lactose e alterações da flora bacteriana dos intestinos por uso de antibióticos também podem causar aumento da produção de gases, além de sexo anal passivo. Medicações, como metformina, adoçante e chiclete também podem causar uma maior formação de gases.

Quem mastiga rápido, não tem uma alimentação adequada e come muita gordura, cujo processo vira ácido graxo que altera o odor dos gases, excesso de farinha e glúten, terá uma fermentação maior desses alimentos no estômago, e consequentemente vai gerar uma produção maior de gases.

Para produzir cheiros menos fedidos o segredo é ter uma vida saudável, ingerindo legumes, fazendo exames de rotina para ver se não tem colite (reação inflamatória no cólon, geralmente autoimune ou infecciosa) ou gastrite, que podem provocar uma alteração da absorção dos nutrientes e uma fermentação maior do alimento no organismo, gerando uma maior produção de gases.

Qual é o caminho do pum?

O alimento é fermentado no estômago, onde tem início a produção dos gases e continuam no intestino delgado, também conhecido como intestino fino. Depois disso, os puns seguem para o intestino grosso, podendo aumentar ou não a quantidade devido à disbiose intestinal (desequilíbrio de bactérias) ou outras doenças, que provocam diarreia crônica como colite, retocolite (doença inflamatória intestinal) ou doença de Crohn (doença inflamatória do trato gastrointestinal).

Na sequência, o pum passa pelo cólon, que tem 1,5 metro de comprimento e é dividido em quatro partes, o cólon ascendente, cólon transverso, cólon descendente e cólon sigmoide. Após passar pelo cólon sigmoide, o flato sai do corpo.

Quando o pum pode ser sinal de doença?

Ilustração para gases, flatulência, dor de barriga, pum, peido - iStock - iStock
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Na grande maioria dos casos, o excesso de gases não indica nenhuma doença, não importando se há ou não odor forte.

A médica do Centro de Especialidades do Aparelho Digestivo do Hospital Nove de Julho diz que se você está soltando muitos gases ao longo do dia, passando de 25, deve procurar um especialista para fazer alguns exames, como uma endoscopia ou até exames de fezes, para ver como está o aparelho digestivo. Uma nutricionista também pode ser procurada para reorganizar a dieta de acordo com os resultados dos exames.

Porém estudos mostram que a maioria dos pacientes que se queixam de excesso de flatos, na verdade apresentam a mesma quantidade de gases que a média da população. O que acontece é que esse paciente tem uma maior sensibilidade à presença de gases. Pessoas com síndrome do intestino irritável, com constipação crônica ou com dispepsia funcional costumam tolerar mal pequenos aumentos na produção de gases.

O médico do ambulatório de gastroenterologia HC-UFPE ressalta que o excesso de gases pode ser sinal de doença e uma visita ao médico é indicada quando está associado a um sintoma de gravidade como perda de peso, diarreia crônica, anorexia, anemia, dor abdominal, sangramento nas fezes, vômito com sangue e icterícia. Mas só o fato de estar com muitos gases não é motivo de preocupação.

Em casos mais comuns, com dor no peito causada pelos gases, as pessoas podem achar que estão infartando. Mas se o incômodo não estiver relacionado com outros sintomas, provavelmente vai passar com o tempo.

Em outras situações de desconforto, quando os gases provocam uma distensão dos intestinos grosso e delgado, acabam por comprimir alguns órgãos. Essa distensão pode provocar cólica, sensação de estufamento e pressão no estômago.

Lima ainda relata que os pacientes que o procuram não se queixam que estão soltando muitos puns, pelo contrário, que não está soltando, por isso estão com o abdome cheio de gases, que é chamado de bloating.

Na maioria das vezes, quando os pacientes chegam com essa reclamação existe uma investigação da causa, que pode ser parasitose (qualquer doença infecciosa provocada por um parasita) ou intolerância à lactose. Também pode ser intolerância ao glúten não celíaca (dificuldade de digerir a proteína, presente no trigo, centeio, cevada e aveia) e a frutose.

Não soltar pum faz mal?

Se você costuma segurar o pum, é melhor parar. Segurar muito a saída do flato pode provocar dilatação das alças intestinais. Além disso, a contração do músculo do ânus de forma corriqueira ao longo do dia pode aumentar o tônus deste músculo deixando-o hipertrofiado e com isso o paciente terá alguns problemas ao longo da vida como a fissura anal (pequeno corte que ocorre na borda anal).

"Não soltar pode gerar um desconforto porque você vai ficar com um gás que tem que sair, por isso se ele não sai fica ocupando um espaço. Mas fora o desconforto, não traria piores problemas, porque cedo ou tarde vai sair", diz Lima.

O que pode ajudar?

O professor aposentado da Unifesp informa que existem pastilhas de carvão ativado, à venda em farmácias, que ajudam a neutralizar os gases. Mas atenção: se você tomar medicamentos regularmente, o carvão ativado pode inativá-los, sendo contraindicado nesses casos.

Ele também indica que um medicamento chamado beano ajuda a diminuir os gases gastrointestinais e o salicilato de bismuto pode ser uma opção para quem se queixa de flatos com mau cheiro. Já a famosa simeticona não parece ser muito efetiva, não demonstrando bons resultados nos estudos científicos.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado, ml é sigla para mililitro, e não milímetro. A informação foi corrigida.