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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Barulhos e cheiros do corpo: como saber quando são, ou não, normais?

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Marcelo Testoni

Colaboração para VivaBem

11/04/2022 04h00

Soltar puns, arrotar, bocejar, transpirar, esses e outros mecanismos humanos produtores de sons e odores são absolutamente normais. No entanto, nem sempre o que é eliminado com eles pode ser considerado o mesmo.

"Ok, mas como saber se os barulhos e cheiros que meu corpo produz estão dentro da normalidade?", você pode estar se perguntando. E a resposta, uma recomendação médica simples, é: atente-se a intensidades e presença de mais sintomas.

Antes de avançarmos nesse assunto um tanto escatológico, mas de interesse geral, embora pouco admitido, expliquemos brevemente alguns barulhos e, na sequência, cheiros que os médicos consideram fisiologicamente esperados.

Na barriga, são exemplos o "roncar" de fome, os ruídos do processo digestivo, de contrações abdominais e deslocamentos do trânsito intestinal. Igualmente os esporádicos puns, arrotos, soluços e roncos baixinhos.

Quanto aos cheiros é mais complexo. Muitos alimentos, saudáveis, ou não, intensificam odor de suor e gases e mesmo pum de ovo podre é considerado normal. Embora esse seja um sinal para se beber mais água (que no intestino dificulta a produção do potente e mau cheiroso gás sulfeto de hidrogênio) e rever e/ou diversificar a dieta, principalmente quando gordurosa ou muito proteica. Já mau hálito (halitose) é natural sem higiene oral ou ao acordar e em longos jejuns.

Quando o barulho é suspeito

Ilustração homem peidando, pum, peido, flatulência - iStock - iStock
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Na barriga, sons que causam dúvidas e merecem investigação são aqueles que costumam ser muito frequentes, intensos —podendo ser constrangedores— e se manifestam com a presença ainda de sintomas como dores, acúmulo de gases e distensão abdominal, mal-estar, vômitos e diarreia. São possíveis causas: infecções e inflamações gastrointestinais, obstrução, além de hérnia, verminoses, intolerância à lactose, doença celíaca e síndrome do intestino irritável.

"Se os arrotos forem constantes e acompanhados de queimação, dor e regurgitação, vira sinal de alerta. Pode ser refluxo ou gastrite", informa Rodrigo Barbosa, cirurgião do aparelho digestivo pela FCMPB (Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba).

O soluço, continua o médico, pode aparecer por excesso de comida ou bebidas gasosas e alcoólicas e doenças, incluindo cerebrais e pneumonia. "Na maioria das vezes, não é grave, mas atenção se persistir por mais de 2 dias."

Sobre puns, se o ânus estiver muito contraído e os gases em excesso, ao saírem com muito esforço e pressão haverá som, o que pode sinalizar prisão de ventre (constipação intestinal), por exemplo. Já perda do controle do esfíncter (do abre-e-fecha do ânus) por trauma ou doença local, pode gerar puns involuntários e bastante vibratórios.

Outro tipo de pum para se atentar é o que sai úmido, molhado (flatulência aquosa) e borra a roupa, sinal de distúrbios intestinais.

E o que dizer do barulho de ronco, que pode ser emitido pela boca ou nariz? Alto, rotineiro, prolongado, cursando com diminuição ou interrupção respiratória temporária, indica apneia obstrutiva do sono, uma síndrome patológica. O som é produto da dificuldade do ar em passar pelas vias áreas superiores, que nesse momento encontram-se estreitadas ou obstruídas.

Cheiro de carniça, suor fedido e chulé

Chulé, pés fedidos - iStock - iStock
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Como explicado no início da reportagem, cheiros ruins podem ser normais. Porém, alguns não são. Em se tratando de mau hálito, por exemplo, é naturalmente desagradável, mas, com odor semelhante ao de fezes, ou ainda carne podre, sangue, e acompanhado de gosto amargo, boca seca ou língua branca pode ter a ver com algum problema de saúde bucal. Entre eles, doença periodontal (gengiva) ou transtornos gastrointestinais, se o fedor também sair pela respiração.

De volta aos gases, Vanessa Padro, cirurgiã do Centro de Especialidades do Aparelho Digestivo do Hospital Nove de Julho (SP), adverte para: "Cocô preto, igual a piche, que afunda rápido e exala um cheiro intenso e horroroso, característico de sangramentos. Já arroto fedido e o dia inteiro, o que não é normal, indica má digestão e processo inflamatório do estômago".

Bactérias, como a irritativa H. pylori, e intolerância à lactose podem estar por trás do quadro.

Por falar em bactérias —e fungos—, os que se alimentam de suor quando não combatidos em pés, axilas, genitais, mamilos e couro cabeludo provocam chulé, fedor e cheiro de azedo. Se esses fedores forem constantes, seguidos de descamações e prejuízos em relações, podem configurar bromidrose, um distúrbio comum na adolescência, por conta dos hormônios, mas ainda relacionado a diabetes, alcoolismo, dieta (de cebola, pimenta, alho) ou uso de antibióticos.

Como tratar os desequilíbrios

O exame que flagra a apneia do sono em casa, sem fios por todo o corpo - iStock - iStock
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Cada causa de barulho ou de cheiro anormal cabe uma abordagem médica específica. Em se tratando de sintomas abdominais, Vinícius Nunes, gastroenterologista e hepatologista do Hospital Aliança, em Salvador, comenta que podem ser pedidos exames, como de sangue, tomografia, endoscopia, colonoscopia e, depois, indicados tratamentos, que vão desde mudança alimentar, uso de medicamentos, cirurgias e acompanhamento psicoterapêutico.

"A maioria dos gases que causam desconfortos está no intestino grosso. O cólon é muito rico em bactérias e se os alimentos não forem digeridos adequadamente vão fermentar e produzir muitos deles. Favorecem, mesmo em indivíduos saudáveis, carboidratos, açúcares artificiais, grãos e diversos vegetais. Mas ansiedade também é um fator (pois favorece comer depressa) e pode levar a arrotos excessivos, pois se engole muito ar, portanto deve ser tratada", diz Nunes.

Soluços persistentes, cujas crises podem advir de diversas doenças que atingem e irritam ou lesionam o diafragma e os nervos frênico e vago (duas das estruturas periféricas do sistema nervoso que fazem a comunicação entre o corpo e o cérebro), envolvem uso de relaxantes musculares, antieméticos, antipsicóticos, manobras respiratórias, massagens e cirurgias.

Para dar cabo de ronco e apneia é necessário primeiro consultar um especialista em medicina do sono (gastro, neurologista, otorrino, pneumologista). Depois, partir para revisão de estilo de vida (perder peso, se hidratar mais, parar de fumar e beber) e/ou ainda para aparelhos intraorais, cirurgias específicas, intervenções ortodônticas e exercícios fonoaudiológicos.

Quanto aos maus odores de boca e pele, exigem, em ordem, dentista (havendo transtornos gastrointestinais envolvidos na halitose, o tratamento é multidisciplinar) e dermatologista.

Lembre-se de manter uma boa higiene bucal e as consultas regulares. Por fim, para evitar chulé, fedor e azedos recorra a desodorantes, talcos, cremes, xampus e sabonetes específicos e sendo bromidrose, o tratamento pode incluir mudança na dieta, medicamentos e até cirurgia.