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É verdade que todo antibiótico corta o efeito de anticoncepcional oral?

Priscila Barbosa
Imagem: Priscila Barbosa

Rebecca Vettore

Colaboração para VivaBem

21/12/2022 04h00

Se você é mulher, está tomando ou já tomou antibiótico, com certeza já ouviu a seguinte orientação: caso use anticoncepcional oral é melhor tomar cuidado, porque o antibiótico vai cortar o efeito, causando uma possível gravidez.

Apesar de ser muito divulgado, o único antibiótico —mais estudado na literatura e que conta com comprovação científica aceita pelos profissionais da saúde— que influencia na ação do anticoncepcional é a rifampicina, usada no tratamento da tuberculose.

De acordo com Lilian Fiorelli, ginecologista, especialista em sexualidade e uroginecologia do Hospital Israelita Albert Einstein (SP) e Júlia Dias, ginecologista, obstetra e professora associada do departamento de medicina da UFS (Universidade Federal de Sergipe), ainda há dúvida na literatura médica sobre alguns antibióticos que podem aumentar o risco da influência nos anticoncepcionais, como a amoxicilina e a azitromicina.

Mesmo não havendo consenso, há estudos que dizem que os medicamentos interagem no efeito do anticoncepcional e outros dizendo que não. Isso acontece porque a amoxicilina e a azitromicina podem diminuir o nível plasmático do estrogênio, e quando você toma anticoncepcional está colocando no organismo progesterona e estrogênio.

"O quanto essa diminuição do nível do estrogênio pode influenciar em uma possível ovulação, não se sabe, mas sabemos que pode dar sangramento fora de hora", diz Fiorelli.

"Já recebi relatos de pacientes em que houve falha de contracepção, e estudos mostram que a falha de ovulação pode acontecer de 1% a 3% dos casos, mas não se tem certeza se a falha foi causada pelo antibiótico ou não. Na dúvida, sempre que prescrevemos qualquer antibiótico, principalmente amoxicilina e a azitromicina, sempre falamos para ter um método de barreira concomitante, porque pode existir a possibilidade de falha", acrescenta.

Os dois medicamentos usados no tratamento das vias aéreas superiores e infecção do trato urinário, ainda podem causar certa alteração na flora intestinal.

Isso acontece porque, no geral, os antibióticos agem eliminando tanto a bactéria que está causando a infecção como também as bactérias boas que fazem parte da microbiota intestinal.

"No intestino, existem bactérias responsáveis por quebrar a molécula do estrogênio e torná-lo ativo para ser absorvido pelo fígado. Quando os antibióticos alteram a flora, esta quebra é prejudicada e o estrogênio é eliminado nas fezes e na urina, diminuindo sua forma ativa", diz Dias.

Se você usa DIU, pode ficar tranquila quando tomar antibiótico. Isso acontece porque para o antibiótico ter algum efeito no anticoncepcional, ele precisa ser metabolizado para fígado —órgão que faz o metabolismo de tudo o que comemos e tomamos, inclusive remédios. Como a metabolização do DIU não é feita pelo fígado e não está na corrente sanguínea, ele não sofre nenhuma influência do antibiótico.

A orientação geral dos especialistas ouvidos pela reportagem é: sempre que necessário utilizar qualquer medicação ou antibiótico, procure informações com seu ginecologista sobre possíveis interações com o anticoncepcional.

Indicação da camisinha

Apesar de serem poucos os antibióticos que podem cortar o efeito do anticoncepcional oral, profissionais continuam indicando o uso de outro método contraceptivo por segurança.

Mas você sabe por quanto tempo deve usar a camisinha? O período pode variar.

Edilberto Alves, professor adjunto de obstetrícia da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), recomenda o uso do preservativo por até sete dias depois do tempo de ingestão do antibiótico. Júlia Dias, da UFS, fala em 14 dias e Fiorelli prefere estender o prazo para 30 dias.

Apesar de o antibiótico não estar mais no seu corpo, uma vez que você teve uma queda hormonal, começa a dar um gatilho no sistema endócrino para começar a ter uma ovulação. A partir desse gatilho, você vai ovular, mesmo não tomando o anticoncepcional. Depois vai passar do período fértil e terá uma nova menstruação.

Outros medicamentos que influenciam no anticoncepcional

Além da rifampicina, existem outros medicamentos que têm comprovação científica aceita pelos profissionais, que cortam o efeito do anticoncepcional.

"Em relação aos anticonvulsivantes, os anticoncepcionais podem sim apresentar interações medicamentosas. Isso significa que esses medicamentos podem interferir na eficácia um do outro, podendo reduzi-la", diz Alves.

O professor da UFPE concorda com a professora da UFS que para alguns remédios naturais existem evidências que também podem interferir na eficácia da pílula anticoncepcional, porque podem alterar a concentração hormonal na corrente sanguínea, reduzindo sua eficácia. Entre eles, são destacados a erva de São João (utilizada como terapia antidepressiva) e o saw palmetto (usado no tratamento de hipertrofia prostática).