Topo

Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Gêmeos, eles nasceram com tons de pele diferentes; como isso é possível?

Bárbara Therrie

Colaboração para VivaBem

10/10/2022 04h00

Ter mais filhos não estava nos planos de Marilene Amorim da Costa, 54, vendedora e cozinheira, que já tinha dois meninos adolescentes. Em 2001, porém, ela acabou engravidando de gêmeos. A gestação de Mari, como gosta de ser chamada, foi marcada por algumas curiosidades: ela engravidou na mesma época que uma das noras, ou seja, seria mãe (de novo) e avó pela primeira vez, ao mesmo tempo. Ela só descobriu o sexo de um dos gêmeos, o Derek, na hora do parto. E a maior surpresa de todas veio após o nascimento: os bebês nasceram com tons de pele diferentes. A seguir, a moradora de Guarapuava, no Paraná, conta a história da família:

"Tive dois meninos frutos do meu primeiro casamento, o Felipe e o Jhony. Não queria ter mais filhos, mas em 2001, comecei a namorar e acabei engravidando —na época, tinha 32 anos, o Felipe tinha 15, e o Jhony, 13.

Com três meses de gestação, tive um sangramento, fui para o hospital e lá fiz o primeiro ultrassom. Tomei um susto quando descobri que teria gêmeos, não sabia se chorava de alegria ou de desespero. Nesse mesmo exame, o médico falou que os bebês estavam em placentas separadas. Até onde sabemos, foi o primeiro caso de gestação gemelar na família tanto da minha parte, como da parte do pai.

No segundo ultrassom, descobrimos que um dos bebês era menino, o outro só deu para saber [o sexo] no dia do parto, não conseguimos ver durante toda a gestação. Uma outra curiosidade é que, nessa época, a namorada do meu filho mais velho, do Felipe, engravidou. Eu ia ser mãe de novo e avó pela primeira vez.

Minha gestação foi um pouco complicada, com seis meses e meio os gêmeos queriam nascer. Fiquei internada algumas vezes, fiz repouso, tomei medicação e consegui segurar a gravidez até os oito meses.

Derek e Vennon, gêmeos com tons de pele diferentes - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Mari com a avó paterna dos gêmeos, que tem um tom de pele mais escuro
Imagem: Arquivo pessoal

Eu e o pai das crianças combinamos que o primeiro que nascesse se chamaria Vennon. Se o segundo fosse menino seria Derek, se fosse menina, seria Ana Flávia. No dia 10 de junho de 2002, os bebês nasceram de parto cesárea. O Vennon foi o primeiro. Dois minutos depois, veio o Derek.

A primeira surpresa foi descobrir o sexo do Derek. A segunda foi ver que os meninos tinham o tom de pele diferente. Ao ver o Vennon notei que ele tinha a pele e o cabelo mais escuros, o Derek tinha a pele e o cabelo mais claros, até a sobrancelha dele era branquinha.

Eu e todos da minha família, incluindo os meus dois primeiros filhos, somos brancos. Na família do pai do Vennon e do Derek tem uma mistura, ele [o pai] é moreno, mas tem o cabelo claro. Já um dos irmãos dele é branco. A mãe do meu ex é negra, o pai dele é branco.

No começo achei estranha essa diferença no tom de pele dos meninos, mas imaginei que com o tempo eles iriam ficar com a cor mais parecida. Nunca cheguei a questionar isso com os médicos porque para mim se tornou algo normal, a questão era mais a curiosidade das pessoas. Elas perguntavam: 'Como eles podem ser gêmeos?', 'Por que eles são tão diferentes?'.

Derek e Vennon, gêmeos com tons de pele diferentes - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Os irmãos quando eram crianças
Imagem: Arquivo pessoal

Dentro da família, algumas pessoas chegaram a questionar se os meninos eram de pais diferentes. Elas imaginavam que eu poderia ter tido relação sexual com dois homens diferentes em períodos próximos, ter engravidado dos gêmeos e cada um ser de um pai diferente.

Isso não aconteceu, me relacionei apenas com o pai dos gêmeos. Entre as pessoas de fora, já me perguntaram se não achava que eles foram trocados na maternidade.

À medida que os meninos foram crescendo, as diferenças ficaram mais evidentes. No início, eles mesmos perguntavam como poderiam ser gêmeos. Eu explicava que todos os gêmeos que nascem de placentas separadas não são idênticos e têm características diferentes.

No caso específico da cor da pele, eu dizia que cada um puxou mais o tom de alguém da família. O Vennon tem a cor e a cara da avó paterna. O Derek é muito parecido com um dos tios paternos. Por conta dessa diferença de cor, chamo o Vennon de meu neguinho, e o Derek de meu polaquinho.

Quando eu saía com eles vestidos com roupas iguais, as pessoas estranhavam e perguntavam se eles eram irmãos. Eu dizia que eles eram gêmeos, mas elas não acreditavam. Na escolinha, os amiguinhos também duvidavam, já levei a certidão de nascimento deles para provar que estavam falando a verdade.

Derek e Vennon, gêmeos com tons de pele diferentes - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Os irmãos gêmeos adolescentes
Imagem: Arquivo pessoal

Embora essa diferença sempre gere curiosidade em que não os conhece, entre nossa família e amigos é algo natural. Os próprios meninos nunca se interessaram em pesquisar sobre o assunto.

Como qualquer irmão, eles também têm personalidades diferentes. O Vennon é mais ativo, independente e protetor. Já o Derek é mais bebezão, carinhoso e tranquilo. Hoje em dia, os dois têm 20 anos. O Vennon é casado e o Derek continua morando comigo. Independentemente das diferenças deles, amo todos os meus filhos igual."

Como assim gêmeos com cor de pele diferente?

Existem duas maneiras de gerarmos gêmeos na nossa espécie. Uma delas é quando dois óvulos foram fecundados por dois espermatozoides diferentes, gerando dois embriões. Nesse caso, cada embrião terá a sua própria placenta e a sua própria bolsa amniótica.

Como cada bebê virá de um óvulo e de um espermatozoide diferente, eles podem ter características como sexo, cor de cabelo, cor do olho e estatura diferentes também. Na prática, esses gêmeos são indivíduos diferentes que vieram na mesma gravidez.

No entanto, existe um outro fator importante, que é a genética. O DNA tem nossas informações genéticas, e nelas carregamos referências da nossa família. Caso sejamos filhos de pais de etnias diferentes, vamos carregar informações dessas duas etnias em nosso DNA.

Chamamos esse indivíduo de mestiço. Se um dos pais for mestiço, ele pode carregar em si informações de tipos diferentes de pele, e pode passar essa informação a seus descendentes.

Derek e Vennon, gêmeos com tons de pele diferentes - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Os gêmeos, hoje com 20 anos, com a mãe Mari
Imagem: Arquivo pessoal

Sendo assim, da mesma forma que um casal pode gerar um filho com olhos e cabelos claros e outro de olhos e cabelos escuros, os pais também podem passar essas diferenças para as cores da pele dos seus filhos gêmeos, ou seja, um pode nascer branco e outro negro, por exemplo.

A situação de Vennon e Derek é rara. É descrita acontecendo em até 1 a cada 32 mil nascidos de casais com pais mestiços. Quando uma pessoa é mestiça, ela pode ter um filho mais claro que o outro, considerando todas as nuances que existem na nossa pele.

Além disso, os diferentes tons de pele de gêmeos podem refletir uma mutação em um dos muitos genes que são responsáveis por controlar a cor da pele. Como mutações dessa natureza são mais raras, essa diferença tão grande entre as tonalidades de pele em gêmeos também é considerada rara.

Vale acrescentar que em uma gestação gemelar é possível que os bebês sejam de pais diferentes caso a mulher tenha ovulado dois óvulos no mesmo mês (o que não é comum na nossa espécie), e ter tido relações sexuais com parceiros diferentes com poucos dias de diferença. Nesse caso, cada bebê terá um pai diferente, e eles serão gêmeos mesmo assim.

Os bebês irão dividir as características da mesma mãe, mas cada um deles terá as características do seu pai. E se os parceiros forem um branco e outro negro, por exemplo, é possível que os gêmeos tenham essa característica da cor da pele bem diferente entre eles.

VivaBem tomou conhecimento da história dos gêmeos após um primo enviar uma mensagem para a redação, então entramos em contato para saber mais e entrevistar a mãe deles para este relato. Se você também quer contar a sua história relacionada a temas de saúde, escreva para vivabemuol@uol.com.br.

Fonte: Paulina Santander, ginecologista, obstetra, especialista em reprodução humana, membro da SBRA (Associação Brasileira de Reprodução Assistida), professora da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) e mãe de gêmeos.

Instale o app de VivaBem em seu celular

Com o nosso aplicativo, você recebe notificações das principais reportagens publicadas em VivaBem e acessa dicas de alimentação, saúde e bem-estar. O app está disponível para Android e iOS. Instale-o agora em seu celular e tenha na palma da mão muitas informações para viver mais e melhor!

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que afirmava a primeira versão do texto, a mãe descobriu o sexo dos gêmeos, não o gênero.