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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


'Não matei por sua causa': Monja Coen cita frases que ouviu de admiradores

Monja Coen participou da Virada Zen, em São Paulo - Paulo Liebert/Divulgação
Monja Coen participou da Virada Zen, em São Paulo Imagem: Paulo Liebert/Divulgação

De VivaBem, em São Paulo

30/09/2022 04h00

Monja Coen, famosa líder budista no Brasil, acumula seguidores nas redes sociais. Só no Instagram são 3,3 milhões de pessoas e, no YouTube, quase 2 milhões de inscritos. Aos 75 anos, ela aborda temas que vão muito além da religião, como amor, ansiedade, depressão, solidão, morte e por aí vai.

Nos vídeos em seu canal, a monja gosta de responder a perguntas dos seguidores, que seguem a mesma variedade dos assuntos. Ela conta que já teve uma pessoa que a procurou dizendo que deixou de cometer suicídio por causa dela, já outra desistiu de matar alguém. Em entrevista a VivaBem, a líder espiritual afirma que esse tipo de procura e "desabafo" é comum, embora não seja o foco dela, e relembra mais histórias que a marcaram.

"Uma vez, encontrei uma pessoa na rua que disse assim: 'Monja, não matei uma pessoa por sua causa'", conta, dando outros exemplos.

"Outra pessoa disse: 'Você me salvou durante a pandemia'. Ela olhou para mim e chorou, agradecendo, com gratidão. Também já ouvi a seguinte frase: 'A senhora me fez bem quando eu estava sozinha. Eu te ouvia e ficava bem' e 'Meu filho dorme ouvindo a senhora'", conta.

De acordo com a líder budista, a intenção dela não é essa, mas "acontece". "Tenho recebido muitos elogios e gratidão das pessoas", diz.

Procuro falar daquilo que sinto, repassando meu conhecimento. Não decoro palavras de outros livros e passo para as pessoas

Monja Coen participou de Virada Zen, em São Paulo - Paulo Liebert/Divulgação - Paulo Liebert/Divulgação
Monja Coen participou de Virada Zen, em São Paulo
Imagem: Paulo Liebert/Divulgação

"Precisamos voltar ao eixo"

Nesse último final de semana, a monja participou da Virada Zen, em São Paulo, festival de saúde e bem-estar. Para ela, eventos assim são importantes para ajudar as pessoas "no retorno ao eixo" —principalmente após a pandemia, a aproximação das eleições e tantos casos banais despertando a fúria das pessoas.

Falamos de notícias ruins sem dar soluções. Devemos resgatar isso e pensar: 'Quem pode dar uma palavra e dizer como lidar com uma sociedade tão impaciente, nervosa e aflita?'. Temos que voltar ao eixo. A pandemia nos tirou do eixo e muita gente não consegue voltar. Monja Coen

Para ela, damos muita atenção para as notícias ruins, ignorando que há coisas boas ocorrendo ao mesmo tempo. "Se fosse raro alguém ajudar uma pessoa na rua, a notícia estaria sempre na primeira página: 'Fulana ajuda senhora a atravessar a rua'. Isso ainda é mais comum que as notícias ruins", fala.

Otimista, a líder religiosa acredita que as pessoas ainda são boas. "A maioria de nós não é malvada". "Embora haja muita crueldade, a maioria da população humana é unida. Somos seres sociais, vivendo em sociedade, nos ajudamos mutuamente", diz.

Estamos melhores ou piores após pandemia?

Durante a pandemia, principalmente no início dela, era comum ouvir a frase "vamos sair melhores disso" (entre outras variações). Mas será que isso aconteceu mesmo?

Algumas pessoas saíram melhores da pandemia, outras piores e, algumas, neutras. Não somos iguais, mas todos nós passamos por uma experiência muito radical e dolorosa. Nossa impaciência atual tem relação com isso, em ficar trancado tanto tempo em casa e, agora, querer 'ganhar tempo'. Monja Coen

Monja lembra que passamos por uma experiência que muitas gerações jamais vão viver, e que foi realmente assustadora. "Algumas pessoas foram procurar ioga, meditação, atividade física ou as artes, como forma de viver durante essa dificuldade. Outras, não. Não somos todas iguais, mas passamos por uma dificuldade e saímos diferentes dela", diz.

Monja durante Virada Zen - Paulo Liebert/Divulgação - Paulo Liebert/Divulgação
Monja Coen participou de Virada Zen, em São Paulo
Imagem: Paulo Liebert/Divulgação

Para ela, vai levar um tempo para entendermos tudo que aconteceu desde o início da pandemia, em 2020. "Não é que acabou e 'vamos nessa'. Ainda estamos atravessando esse momento. É a travessia de uma época de isolamento para uma nova fase de convívio social. Saímos muito 'agitadinhos' dela."

O final dessa "linha", segundo ela, é um ponto de estabilização, que também não é permanente.

Como retornar ao eixo e se proteger

Para "voltar ao eixo" ou encontrá-lo, a monja conta que há vários caminhos possíveis —e isso vai depender de cada pessoa, é claro. "Tem a terapia, a religião, a espiritualidade, as filosofias. Todas são formas de refletir sobre o que está acontecendo. No meu caso, eu trabalho com meditação", explica. "Não é me conhecer falando de mim, mas observando a minha mente."

A líder budista explica que, dessa forma, é possível notar padrões —não tão bons para a saúde física, social e mental— e, assim, modificá-los. Só assim é possível se escutar.

Monja cita a famosa frase do educador e filósofo Paulo Freire para fazer uma analogia à meditação: "Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo".

Falo o mesmo sobre meditação: a meditação não transforma o mundo. A meditação, o autoconhecimento, a espiritualidade transformam as pessoas e elas transformam o mundo. Ficamos mais pacientes, resilientes e assertivos na fala —sem magoar ou ofender os outros. Monja Coen

Para Monja Coen, é fundamental pensar antes de falar, para ver se o conteúdo será benéfico ou não. Outra dica dela é lembrar que, embora tenham muitas notícias negativas e o momento seja difícil para as pessoas, é preciso lembrar que há coisas bonitas acontecendo.

"Sempre falo do 'banho de floresta', que é basicamente andar na floresta ou em um local com árvores, em silêncio. Há vida, há pessoas felizes e crianças brincando", diz. "Ainda há muita violência nas ruas, mas há também alegria por aí", afirma.

No fim, é tudo uma questão de equilíbrio: saber dosar o bom e ruim. "A mente tem noite e tem dia, tem alegria e tristeza, tem o bem e o mal. Temos capacidade de ver todos os lados".

"Meditar não é só fechar os olhos por 1 hora"

Monja Coen - Divulgação - Divulgação
Monja Coen explica como faz meditação: 'Olhos abertos'
Imagem: Divulgação

A prática da meditação pode ser difícil para algumas pessoas. Mas nem sempre o "meditar" precisa ser da forma mais "clichê" que conhecemos, como a pessoa sentada, em total silêncio, olhos fechados, com o "esvaziamento da mente".

No entanto, a Monja Coen dispensa esse "rótulo" da meditação. Para ela, há outras formas de estar presente no momento.

Podemos ter essa percepção de si mesmo em vários lugares. Não é ficar 1 hora sentado ali, em silêncio. Pode ser 1 hora pedalando, 1 hora nadando ou 1 hora correndo. Monja Coen

Depois de 10 minutos, segundo a monja, é possível entrar em outro nível de consciência: de estar presente no agora. E cada um vai encontrar uma forma de fazer isso, sem necessariamente ficar sentado em silêncio.

Aliás, a Monja Coen conta que medita sem fechar os olhos —o que faz parte de muitas práticas meditativas. "Não coloco música nem imagens na minha frente para observá-las. Meus olhos ficam baixos e o som que chega é o som da vida. Ele faz parte de mim, parte da realidade. Se eu tampo os ouvidos, as narinas e fecho os olhos, eu me separo da realidade."

É neste momento que é possível observar todos os movimentos da mente, diz ela. Cada espasmo e pausa. "É incessante mesmo", fala. "Mas, depois, a mente e o coração ficam mais tranquilos e é possível resolver as questões e provocações do mundo".

Procure ajuda

Caso você tenha pensamentos suicidas, procure ajuda especializada como o CVV (www.cvv.org.br) e os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.

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