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Ozempic: o que é semaglutida, quem pode usar, efeitos colaterais e mais

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Imagem: iStock

De VivaBem, em São Paulo

31/05/2022 15h28

É só fazer uma busca rápida no TikTok e lá vem uma avalanche de vídeos mostrando pessoas que dizem ter emagrecido rapidamente devido ao uso da semaglutida (Ozempic é o nome comercial), um fármaco usado, a princípio, para o tratamento do diabetes tipo 2.

Esse medicamento é considerado seguro, desde que seja ministrado de forma racional, ou seja, na dose certa e pelo tempo preestabelecido. Segundo os especialistas, ele deve ser utilizado apenas uma vez por semana e não deve, em hipótese alguma, ser vendido sem prescrição.

"É um remédio que, se usado em excesso, causa náusea, intestino preso, diarreia. E, mesmo quando ministrado com orientação, exames de rotina precisam ser feitos para acompanhar a saúde do pâncreas, do fígado e exames gerais", alerta a médica endocrinologista Andressa Heimbecher Soares, membro da SBEM-SP (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia - seção São Paulo).

Em junho de 2021, esse medicamento foi aprovado nos Estados Unidos pelo seu órgão de vigilância sanitária, a FDA, para o tratamento da obesidade e sobrepeso, desde que esses quadros estejam associados ao menos a uma das seguintes condições: pressão alta, diabetes do tipo 2 e colesterol alto, mas sempre de forma associada à redução do consumo de calorias e exercícios físicos.

Essa aprovação foi o suficiente para levar a um aumento desenfreado do uso. Uma reportagem do "The Guardian" mostra que o remédio está em falta na Austrália depois que usuários do TikTok passaram a promovê-lo como estratégia de perda rápida de peso.

A Therapeutic Goods Administration, órgão australiano, emitiu no início desse mês uma declaração conjunta com vários órgãos médicos confirmando a escassez do medicamento injetável semaglutida, fabricado pela farmacêutica Novo Nordisk, devido ao "aumento inesperado da demanda do consumidor".

No Brasil, a semagalutida é aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para o tratamento de diabetes, mas vem sendo prescrito por alguns especialistas para a perda de peso, baseados na liberação internacional.

"Hoje, a semaglutida é o medicamento mais potente e seguro que nós temos para perda de peso que existe. Mas precisa do acompanhamento médico porque é uma medicação injetável, e existem pacientes que usam medicação em conjunto que pode dar hipoglicemia", alerta Soares. "E você tem que fazer uma progressão de dose", completa.

Segundo a especialista, o problema não é a medicação em si, que apesar de "nova" foi muito bem estudada, mas, sim, as pessoas que compram e injetam por conta própria, sem prescrição médica. Sim, é errado, mas acontece muito.

"Muitas pessoas compram e usam dosagens a mais do que deveriam. E isso pode causar desidratação, gastrite, diarreia e sobrecarregar o fígado. Existe uma série de efeitos que, apesar de serem 'leves', a gente não recomenda que isso seja feito", indica a endocrinologista.

Não é todo mundo que pode usar

A semaglutida não pode ser usada por pessoas que sejam alérgicas (ou tenham conhecimento de que alguém da família tenham tido reação semelhante) ao seu princípio ativo, ou a qualquer outro componente de sua fórmula.

Fique também atento na presença das seguintes condições:

  • Gravidez;
  • Lactação (amamentação);
  • Idade inferior a 18 anos
  • Problemas no fígado ou rins
  • Histórico de retinopatia;
  • Problemas psiquiátricos;
  • Diabetes do tipo 1;
  • Cetoacidose diabética;
  • Pancreatite;
  • Histórico de câncer medular de tireoide (pessoal ou familiar).

Entre as advertências e precauções indicadas pelo fabricante sobre os possíveis e sérios efeitos colaterais estão o câncer de tireoide, conhecido como carcinoma medular de tireoide (CMT), e a síndrome de neoplasia endócrina múltipla tipo 2.

Entenda como a semaglutida funciona

Ao ser administrado pela via subcutânea (sob a pele), uma vez por semana (já existe uma versão em comprimidos, que ainda não está disponível no Brasil), a semaglutida é liberada progressivamente na corrente sanguínea, metabolizada por enzimas (peptidases) capazes de quebrar proteínas ou peptídeos e, depois, é eliminada pela via renal, principalmente pela urina. A explicação é de Flavio da Silva Emery, professor associado e membro da comissão de divulgação científica da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto.

Para entender como a semaglutida funciona é preciso saber que o GLP-1 é um hormônio que sinaliza para o cérebro que há comida no interior do intestino e portanto, que estamos alimentados. Dessa forma, o cérebro ao receber esta informação, acaba inibindo os impulsos de fome e paramos de comer.

Soares explica que a semaglutida é, portanto, moléculas sintéticas que agem exatamente no receptor do GLP-1, ou seja, na fechadura do GLP-1. E, ao se ligar nela, causam os efeitos do hormônio no corpo, sem que estejamos alimentados.

"É um jeito de driblar a sensação de alimentação. Além disso, elas agem melhorando os níveis de glicose no sangue nos pacientes diabéticos por melhorar a liberação do hormônio insulina, daí seu uso inicial nos pacientes diabéticos", diz a médica.

Os especialistas esclarecem que o tempo para o aparecimento dos efeitos desejados pode variar, mas, em geral, a redução das taxas de glicemia já começa a ser observada uma semana após o estabelecimento da dose terapêutica (o tratamento começa com doses menores até chegar à dose ideal para você).

Já nas outras condições, os resultados esperados terão maior tempo de espera, podendo chegar a 8 semanas. Esse medicamento não é disponibilizado pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

*Com informações da reportagem publicada em 31/08/2021.