Topo

Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Cores realmente nos influenciam? Vale a pena ter um guarda-roupa colorido?

iStock
Imagem: iStock

Marcelo Testoni

Colaboração para VivaBem

26/02/2022 04h00

"Porfirogênito", já ouviu esse termo? Ele era empregado àqueles que nasciam em "berço de púrpura", um tipo de roxo cuja tintura aplicada em tecidos era tão cara como ouro. Essa cor foi tão associada à superioridade, poder e respeito, que um dos imperadores da Antiguidade se chamava Constantino VII Porphyrogenitus. Portanto, perceba que as cores conseguem, sim, influenciar percepções, comportamentos, emoções e até a formação da identidade humana.

No século 19, o alemão Goethe lançou o livro "Teoria da Cores", em que fala de fenômenos óticos, influências subjetivas e uma "psicologia" baseada nelas. No começo dos anos 2000, Eva Heller, cientista social alemã, resgatou essa discussão e demonstrou como as cores e os sentimentos humanos estão profundamente associados. Em seu livro "A Psicologia das Cores" fala que elas possuem significados, finalidades e interferem em relações, sociedades, culturas.

O branco é um bom exemplo. Sinaliza paz (quem já não viu bandeiras dessa cor hasteadas em meio a guerras?), espiritualidade (no Ano-Novo de muitos brasileiros e nas vestimentas de candomblé e umbanda), pureza e romantismo (nos vestidos de noivas, inclusive existe uma versão de que a rainha Vitória da Inglaterra adotou essa cor por ter sido uma das primeiras nobres a ter se casado por amor verdadeiro), mas também tristeza (no Oriente remete a luto).

Como cérebro interpreta as cores

O cérebro humano procura dar sentido a todas as informações que chegam até ele, e quando se trata de cores não é diferente. Embora os significados de cada uma tenham muito a ver com o que se aprende desde cedo, podendo causar efeitos compartilhados por uma pequena comunidade, ou universais, o olhar sobre elas é muito subjetivo e individual e isso se relaciona com personalidade, temperamento, humor.

Leide Batista, psicóloga pela Faculdade Castro Alves e com experiência pelo HC (Hospital da Cidade), em Salvador (BA), explica que as cores também podem agir como gatilhos psíquicos, estímulos externos capazes de despertar reações internas que também interferem na nossa percepção. "O cérebro identifica primeiro a cor, antes da forma dos objetos. A partir daí ela é transformada em sensações que influenciam diretamente em emoções e comportamentos".

A psicóloga continua que então podemos ter experiências positivas ou negativas, que não necessariamente condizem com a realidade ou são claras, conscientes. E a consequência da generalização apressada de uma experiência, sem avaliação crítica, envolve posteriormente ainda o desafio de ressignificá-la, porque o cérebro vai associar a cor sempre a algo e repetir esse processo numa próxima vez. Se ocorrer na infância, vai repercutir na formação adulta.

roupas coloridas no cabide - iStock - iStock
A verdade é que o que cada cor representa pode mudar de pessoa para pessoa
Imagem: iStock

Impacto da cor vai depender do contexto

Artista plástica pela FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado), em São Paulo, e com experiência em cores e sua influência na psicologia, Maiana Nussbacher informa que a mensagem que uma cor passa para uma mesma pessoa pode mudar, a depender do contexto. "Na roupa, cor é associada de modo diferente de quando em um ambiente, por exemplo. Alguém de vermelho produz uma sensação, que não é a mesma de estar em um local todo vermelho".

O vermelho é, inclusive, uma cor, assim como o preto, bastante polêmica, impactante e até ambivalente. Se usada em excesso, incomoda e irrita, ainda mais somada a muitos elementos, iluminação constante, ou empregada em um cômodo de descanso. Mas em um vestido longo de festa pode ser bem aceita, atraente e chique. Entretanto, para alguns pode ser vulgar e até representar algo de ruim, como ódio e violência. Enquanto em outras ocasiões, sugerir amor, paixão e bravura.

Cores também podem ser direcionadas para tratamentos médicos. Nussbacher menciona a cromoterapia, também conhecida como terapia das cores e indicada para muitas doenças, incluindo as psicoemocionais. Nela, ondas emitidas, por exemplo, por lâmpadas coloridas, ajudam pacientes com diferentes necessidades. Retomando ao vermelho, essa cor ajuda a estimular os órgãos sensoriais e o sistema nervoso central e aumentar disposição, desejo sexual e apetite.

Repaginar, ou não, o armário?

Os benefícios que uma cartela de cores variada tem a oferecer podem ainda ser alcançados com uma simples revisão do que se usa no dia a dia. Cores quentes, como vermelho, amarelo e laranja, expressam energia, extroversão; enquanto frias como azul, verde, cinza, serenidade, confiança, discrição. Ao saber disso, pode-se levantar a autoestima, facilitar aproximação entre pessoas, tranquilizar emoções, melhorar imagem e apresentação em entrevistas de emprego.

Agora, afirmar que a cor escolhida determina quem somos, o que sentimos e cumprirá todos os nossos objetivos não é verdade. "Todos os aspectos da personalidade precisam ser avaliados. Há quem use preto quando se está triste para não chamar atenção, mas pode não ter a ver com o estado emocional", afirma Yuri Busin, psicólogo e diretor do Casme (Centro de Atenção à Saúde Mental - Equilíbrio), em São Paulo.

Mesmo que uma cor carregue uma conotação específica, essa conotação pode ser convertida em outra, a depender da combinação feita e da percepção alheia. É similar à lógica do contexto ao qual se está inserido. Por exemplo, branco remete à paz, mas combinado com verde, que se relaciona à natureza, vitalidade, pode sugerir alguma torcida de futebol. Por isso, sem tantas regras. Apesar de ser vantajoso aprender a se expressar, é preferível vestir o que se deseja.