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Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Mordida humana é tão perigosa como de bicho que precisa até de antibiótico

Mike Tyson morde a orelha de Evander Holyfield em luta de 1997 - Jeff Haynes/AFP
Mike Tyson morde a orelha de Evander Holyfield em luta de 1997 Imagem: Jeff Haynes/AFP

Marcelo Testoni

Colaboração para VivaBem

21/02/2022 04h00

Ser mordido por outro ser humano soa tão raro que se torna memorável. Quem não se recorda, por exemplo, do ex-pugilista norte-americano Evander Holyfield, que em 1997 foi abocanhado por seu adversário Mike Tyson, que arrancou um pedaço de sua orelha direita e depois a cuspiu no chão? Ou então do jogador de futebol italiano Giorgio Chiellini, que mais recentemente, na Copa do Mundo de 2014, teve o ombro esquerdo cravado pelos dentes do jogador uruguaio Luis Suárez?

Porém, de acordo com diversos estudos científicos internacionais, mordidas humanas, ou ocorrências desse tipo de ataque, são mais frequentes do que se possa imaginar. Apenas nos Estados Unidos, de acordo com dados da Universidade Washington e do Barnes-Jewish Hospital (EUA), elas ocupam a 3ª posição entre as mordidas de mamíferos mais comuns, atrás das de cães e gatos, respectivamente.

São a causa de cerca de 250 mil ferimentos tratados por ano nos serviços de emergência, de acordo com o jornal da American Academy of Pediatrics.

Em crianças pequenas, os estragos causados pelas dentadas, ainda segundo os registros, são mais frequentes na face, membros superiores ou no tronco. Já nos adolescentes e adultos, em sua maioria, nos membros superiores, principalmente nas mãos, em decorrência de lutas com murros direcionados contra as bocas, que revidam.

Em adultos, especificamente, mais uma curiosidade: das lesões por mordida, cerca de 15% podem surgir durante a atividade sexual.

Quão perigosa é nossa mordida?

Luis Suárez logo após mordida em Chiellini na Copa do Mundo de 2014 - Matthias Hangst/Getty Images - Matthias Hangst/Getty Images
Luis Suárez logo após mordida em Chiellini na Copa do Mundo de 2014
Imagem: Matthias Hangst/Getty Images

Em termos de força, os molares humanos podem exercer entre 110 e 130 kgf (quilograma-força), vencendo o orangotango, mas ficando atrás do gorila e do chimpanzé, por exemplo.

Não chega a ser das mordidas mais perigosas do reino animal, mas é capaz de causar lesões graves e amputações em determinados locais, como dedos, nariz, orelhas, lábios, genitais, onde a pele é mais fina e a extensão pequena, então concentram toda a pressão.

Em áreas maiores e mais espessas (costas, pernas), as lesões costumam ser menos sérias, mas ainda assim exigem cuidados.

A boca é uma região colonizada por muitas bactérias —inclusive patogênicas— que se multiplicam, entre as quais Staphylococcus, Streptococcus, anaeróbios, Eikenella corrodens.

"Conseguimos conviver com elas, seguindo as medidas corretas de uma boa higiene bucal. Porém, no caso de uma mordida, dependendo da força e do local, essas bactérias podem chegar à corrente sanguínea e trazer, sim, alguns riscos à saúde geral", informa Marcos Moura, dentista e membro da ABHA (Associação Brasileira de Halitose), de Maceió (AL).

Caso a mordida do Homo sapiens, que possui 32 dentes, mais que um cão ou gato, vá além de provocar um hematoma ou rasgo superficial e atinja planos e estruturas, como articulações (juntas), tendões e fáscias (membranas que envolvem e delimitam os compartimentos musculares), há risco de causar infecções graves.

Nas mãos a taxa de infecção fica em quase 50% e, por vezes, a mordida pode transmitir até doenças, como hepatite, tuberculose e sífilis.

Posteriormente às dentadas...

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Imagem: iStock

São consideradas potencialmente mais graves de todas as lesões, as provocadas por impacto de punho fechado contra dentes, ou mordida de luta. Os incisivos cortam tendões, nervos e vasos sanguíneos, além da pele dos dedos, que podem perder os movimentos.

"Se houver fratura exposta, precisa ser tratada, às vezes até com fixação de pinos, e tendões, nervos e pele suturados, após retirada de tecidos desvitalizados. Ainda podem ser necessários procedimentos reconstrutivos em um momento posterior", explica Fernando Penteado, ortopedista especialista em cirurgia de mão do Hospital Israelita Albert Einstein e do Instituto Cohen, ambos em São Paulo (SP).

A maioria das vítimas, cuja pele tenha sido penetrada, deve tomar antibióticos via oral, para prevenir infecção pelos patógenos já citados, similares aos presentes em animais domésticos. Se isso não for feito e o contágio se confirmar, a área afetada fica vermelha, quente, dolorosa e bastante inchada, podendo exigir uma hospitalização para tratamento cirúrgico do ferimento (que pode evoluir para uma artrite infecciosa) e administração de antibióticos intravenosos.

"Por isso, a primeira coisa a se fazer após ser mordido por alguém é lavar imediatamente o local com água e sabão e, na sequência, ir ao pronto-socorro para determinar a profundidade da lesão e o que deve ser feito", recomenda Nelson Douglas Ejzenbaum, pediatra e neonatologista da Academia Americana de Pediatria.

Exames por imagem, como radiografia ou ultrassom são complementares e ajudam a localizar fragmentos de dentes perdidos nas lesões.