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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Mordida e até mesmo arranhão de cachorro trazem risco de infecção

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Imagem: iStock

Tadeu Matsunaga

Colaboração para o VivaBem

20/12/2019 04h00

A história evolutiva compartilhada por humanos e cachorros iniciou-se há 32 mil anos, segundo estudo da Nature Communications, o que só reforça o status de 'melhor amigo do homem'. Mas isso não impede que a linguagem própria dos cães, em algumas circunstâncias, seja interpretada de maneira errada e tenha como consequência ataques que podem oferecer riscos à saúde.

A cavidade oral dos cachorros pode abrigar mais de 300 tipos de microrganismos como bactérias, fungos, vírus e protozoários. Desta forma, a mordida pode gerar lesão inflamatória e infecciosa em pele, músculos, nervos e ossos, embora mais de 50% dos casos de mordedura não se tornem infecciosos por conta do nosso sistema imunológico competente.

Primeiros cuidados

É natural que as extremidades do corpo, como mãos, braços e pernas, sejam os locais mais propensos à mordida, reforçando uma ação natural de defesa já que tendemos a utilizá-los para impedir ou neutralizar um possível ataque.

Neste contexto, são quatro os tipos de lesões possíveis: arranhões, perfuração, dilaceração e esmagamento. Em cortes mais aprofundados, há o risco de afetar nervos e tendões (tenossinovite) e haver infecção da articulação (artrite séptica), em casos mais severos, pode-se atingir a parte óssea, com a inoculação da bactéria (osteomielite).

No entanto, procedimentos primários, em caso de mordida, podem ser adotados para diminuir os riscos de infecções:

  • Lavar o corte com água corrente e sabão ou soro fisiológico;
  • Estancar o sangramento com curativo compressivo;
  • Buscar atendimento médico independente do grau e seriedade da lesão.

Após avaliação médica, o tratamento ocorre com antibióticos de largo espectro, com objetivo de atingir grande número de microrganismos, com foco nas infecções primárias e, em alguns casos, secundárias, além de anti-inflamatórios e analgésicos, de acordo com a necessidade.

Nunca menospreze uma ferida

É bom levar em conta que, mesmo lesões leves, com arranhões superficiais e sem hemorragias, podem causar infecções, embora feridas mais profundas tragam naturalmente maiores riscos, já que bactérias presentes na saliva do animal inoculam de forma progressiva e aprofundada nas camadas da pele.

Os ferimentos menores, sem sinais evidentes, também devem ser levados em consideração, recomendando-se até mesmo uma abertura maior do local e ampliando a área para que ocorra a limpeza adequada da ferida.

Pessoas com doenças preexistentes (desnutrição, imunossupressão ou diabetes) devem ter atenção redobrada já que podem desenvolver algum tipo de contaminação com maior frequência.

A raiva e outras infecções

Uma pesquisa recente do CDC (Center For Disease Control - Centro de Controle de Doenças dos EUA), aponta que cerca de 4,7 milhões de pessoas nos Estados Unidos são vítimas de mordidas de cachorro todo ano, com cerca de 800 mil desses casos necessitando de cuidados médicos mais acentuados.

No Brasil, dados da Secretaria de Vigilância em Saúde, com base em registros do Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), que tem como referência atendimentos antirrábicos entre 2009 e 2013, notificaram mais de 500 mil mordeduras, somando-se a animais silvestres, como morcegos, raposas, entre outros.

Porém, mais de 90% dos casos de raiva humana ocorrem através da mordida de cães não vacinados, via saliva. Uma doença viral infecciosa que acomete o ser humano de forma quase sempre fatal, e afeta tanto animais domésticos como selvagens. Desta forma, a vacinação de cães é a forma mais efetiva para a prevenção da raiva em pessoas.

Quando infectadas, o período de incubação da raiva nas pessoas pode variar, dependendo de vários fatores, inclusive o local de entrada do vírus, ou seja: o local da mordida. Quanto mais próxima da medula espinhal e cérebro é a mordida infectada pelo vírus, mais rápido é o desenvolvimento dos sintomas, que inicialmente incluem febre, dor, formigamento e parestesia (sensação de formigamento) na região da ferida.

Conforme o vírus se espalha no sistema nervoso central, desenvolve-se inflamação progressiva e fatal do cérebro e da medula espinhal.

Em pessoas imunologicamente comprometidas, as mordeduras de cães também podem causar infecção generalizada e até choque séptico, ou septicemia, ou meningite em crianças. Por fim, mesmo não sendo comumente encontrado na boca de cães, pode haver infecção pela bactéria responsável pelo tétano.

Raiva erradicada?

De acordo com especialistas, não se usa o termo 'erradicada' para a raiva, já que o vírus pode ser transmitido por morcegos e animais silvestres, o que foge do controle do homem, mas se diz que ela está controlada. No meio urbano existem métodos para se eliminar os hospedeiros intermediários; não no meio silvestre.

Ainda assim, o índice de sobrevivência no caso de pessoas que contraíram a doença é praticamente nulo. De acordo com publicação do Ministério da Saúde, existem 5 casos no mundo, 2 deles no Brasil, sendo criado o primeiro protocolo brasileiro para tratamento da doença, com base no protocolo de Milwaukee, nos Estados Unidos, no intuito de orientar a condução clínicas de pacientes com suspeita de raiva. Entre os principais medicamentos para o tratamento da doença estão medicamentos recomendados no protocolo, como a sapropterina e amantadina.

Como se portar diante de um cão?

  • Jamais estimule brincadeiras agressivas, pois eles não entendem a hora de parar, e caso ele se sinta incomodado, expressa o incômodo através da mordida;
  • Caso queira interagir com um animal, sempre pergunte ao responsável pelo cão se você pode se aproximar dele. Antes de tocá-lo, permita que ele te veja e cheire sua mão, vagarosamente;
  • Quando um animal desconhecido se aproximar de você, permaneça imóvel. Permita-o reconhecer seu cheiro. Não faça movimentos bruscos, pois isso pode trazer a sensação de que ele seria agredido. Lembre-se que, da mesma forma que reagimos ao susto com ações bruscas e, às vezes, agressivas, cães utilizam a boca para se defender prontamente --é instintivo;
  • Caso sinta medo de um cão desconhecido, jamais corra ou faça barulhos. Tudo o que gera sensação de perigo ao cão pode servir como gatilho e favorecer o ataque, como justificativa de defesa. Desta forma, não interaja com o cão enquanto ele dorme, come ou cuida de seus filhotes;
  • Se não quiser interagir com o animal, não faça contato visual direto com o cão. Mantenha seu corpo de lado enquanto o cão te olha, pois o cão interpreta como agressiva a postura do ser humano que o encara, podendo sentir necessidade de reagir.

Em caso de ataque, proteja-se mecanicamente com o que estiver ao seu alcance. Caso ele te derrube, não segure o animal. Sente-se no chão e se enrole como uma bola, protegendo sua cabeça entre as pernas, colocando seus braços para proteger as orelhas e o pescoço e mantenha-se firme.

Procure um serviço médico em até 6 horas após o ocorrido. Mesmo em casos de feridas pequenas, e após este prazo, você deve procurar um hospital se a ferida se tornar vermelha, dolorosa, inchada, quente ou caso você apresente febre.

Recomenda-se também a procura por um serviço médico caso não saiba se o animal estava corretamente vacinado contra raiva.

Em casos de feridas graves, utilize um pano limpo para fazer compressão e interromper o sangramento e procure ajuda imediatamente, podendo contatar o SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) através do número 192 caso esteja sozinho. Lembre-se que a perda sanguínea em grande quantidade pode te deixar rapidamente fraco, impedindo que você dirija ou caminhe até um hospital.

Não mate o animal. Mantenha-o seguro, recebendo alimentação e comida por 10 dias, para que possa ser possível identificar sinais clínicos indicativos da raiva, por exemplo.

Fontes: Marcelo Rosa, presidente da SBCM (Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão); Elisa Miranda Aires, médica membro da comissão de ética médica no Instituto de Infectologia Emílio Ribas - Secretaria de estado da Saúde; Juliana Durigan Baia, mestre em cirurgia veterinária pela USP (Universidade de São Paulo) e pós-graduada em Odontologia Veterinária pela Anclivepa-SP.

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Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que dizia o texto, Marcelo Rosa é presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão e não da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. A informação foi corrigida.